JOÃO NEMO *

A última ideia de gênio apadrinhada pelo Ministério da Cultura, segundo se noticia, é um projeto para publicar Machado de Assis numa versão “facilitada” porque, supostamente, a linguagem do nosso maior escritor é inacessível para grande parte da população e, particularmente, para os jovens.

Trata-se de um projeto pago com dinheiro público, é claro, para editar a obra machadiana e outros clássicos num estilo que se consagrou naqueles livros sobre técnicas complexas para o uso de administradores e gerentes e que, com um toque de humor, os americanos denominaram “for dummies“, ou seja, para tolos ou indivíduos limitados. Ao ver uma obra, por exemplo, de “estatística for dummies“, o interessado já sabe que se trata de uma versão para quem não quer ou não pode se aprofundar em métodos quantitativos mais sofisticados.

Se os jovens visados pelo projeto não conseguem ler Machado, deformar a qualidade de um clássico para atingir uma linguagem mais vulgar está mais para capitulação à ignorância. Em vez de resgatar esses jovens através de uma educação que leve Machado e outros bons autores até eles, vamos baixar tudo para que não tenham que despender esforço ou se incomodar. Parece que essa é a ideia. Se fossem “dummies” ou idiotas, poderíamos dizer, como Nelson Rodrigues nas suas crônicas, que em literatura o idiota não deve passar do “Maria, a desgraçada”. Mas são também vítimas, cuja ignorância é consolidada por ideias infelizes como essa e tantas outras que assombram a educação no Brasil.

Fosse apenas o projeto equivocado de uma escritora, por sua conta e risco, seria dispensável ficar opinando sobre a aventura. Mas a coisa nasce, ironicamente, através do Ministério da Cultura e, como não poderia deixar de ser, abençoada pelo dinheiro público.

* SOCIÓLOGO E CONSULTOR DE EMPRESAS EM DESENVOLVIMENTO GERENCIAL

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imagem Wikipedia: capa de Wikis for Dummies

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