Luís Flávio Gomes e o espantalho liberal
BERNARDO SANTORO*
O prof. Luis Flávio Gomes é um advogado e um dos maiores empresários do Brasil, pois seu curso de direito online possibilitou que pessoas de todo o Brasil tivesse acesso a aulas que somente alunos dos grandes centros urbanos normalmente teriam. Em suma, ele é o retrato de como o empreendedorismo, o livre-mercado e o liberalismo podem beneficiar os mais pobres.
No entanto, em post no facebook, o professor solta baboseiras como estas: “No campo penal, por influência do ultraliberalismo norte-americano (Friedman, Hayeck etc.), o Brasil se tornou um Estado policialesco e autoritário (nos movimentos sociais desde junho isso ficou muito claro). Os policiais massacram os manifestantes do bem e pouco fazem contra os violentos“.
Além de escrever errado o nome de Hayek, é evidente que ele simplesmente não leu os autores citados. Em post replicando as inúmeras críticas recebidas, ele solta outra frase impactante: “Enquanto discutimos, o povo pobre está morrendo nas filas do hospital, está amassado nos ônibus lotados, está ficando mais ignorante nas escolas públicas (porque não prestigiam o professor etc.), nossa infraestrutura nunca sai do papel, 270 pessoas perdem a vida por dia no Brasil (no trânsito ou assassinato), os malandros continuam “roubando” o dinheiro público, o brasileiro continua achando que nossa Terra vai dar certo porque foi abençoada por Deus e vai por aí“.
O professor LFG argumenta que o problema da sociedade é a reforma “ultraliberal” sem justiça social. Então vemos os exemplos desse problema que ele mesmo dá: hospital público, transporte cartelizado pelos governos municipais, infraestrutura estatal, violência combatida por policiais servidores públicos, escolas públicas, desvio de dinheiro público e por aí vai. TUDO PÚBLICO!
Se todo o sistema público está comprometido, o que o liberalismo e o mercado têm a ver com isso? Os próprios exemplos apresentados mostram que o problema social está justamente nos setores públicos e nos privados controlados pelo governo.
A justiça social via estado é uma completa tragédia porque os incentivos naturais do setor público são uma tragédia. Pela lógica da verba pública, quanto pior o serviço, maior a pressão social para aumentar a verba para aquele setor. Ou seja, quanto pior o serviço, mais dinheiro. Esse é o incentivo natural do setor público. Podemos ver isso claramente na questão da educação pública. Há uma pressão social intensa para que seja direcionado 10% do PIB pro setor. Quando isso acontecer e o serviço continuar um lixo, vão exigir 15% e assim por diante.
O problema está nos incentivos.
O fato é que tanto Hayek quanto Friedman não eram radicais ultraliberais, e sim social-liberais, que defendiam alguns direitos positivos como saúde e educação, mas, sabedores do problema dos incentivos perversos do setor público, defenderam a privatização desses setores e que os pobres recebessem bolsas-escola e bolsas-saúde. Para esses autores (embora eu tenha uma certa resistência quanto a essa visão deles), educação e saúde são direitos, e a melhor maneira de se fornecer isso a baixo custo é através da atividade privada, ainda que custeada em parte pelo estado para quem não pode pagar.
E lembro que os dois autores citados são radicalmente contra a guerra às drogas e em defesa do livre-mercado nesses casos, além de defenderem um direito penal mínimo (menor intervenção do estado no direito penal).
A impressão que fica, para todos os que conhecem esses autores, é que o professor LFG simplesmente não os leu, e criou um espantalho deles, um espantalho liberal deformado que pode ser atacado sem reagir.
Por fim, ironia das ironias, relembro que o prof. LFG é a prova viva da eficiência do livre-mercado em favor dos mais pobres, graças ao seu sistema de ensino. Suas ideias não correspondem aos seus atos.
E aqui está a situação “sui generis”: enquanto a maioria das pessoas que vivem essa hipocrisia tem ideias boas e atos ruins, o prof. LFG tem ideias ruins e atos bons.
Ao prof. LFG, cabe uma nova frase popular: “façam o que ele faz, não façam o que ele diz”.
*DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL