Keynesianos sem memória
RODRIGO CONSTANTINO *
O problema de uma ciência não-exata como a economia é que os economistas que fracassam em suas previsões sempre podem alegar que o problema está em outro lugar. Ou algum fator exógeno, ou em um argumento contrafactual, como a alegação de que foi feito pouco daquilo que ele recomendava, e por isso as medidas não surtiram o efeito desejado.
Penso nisso quando leio, no caderno EU&Fim de Semana do Valor, longo artigo de Luiz Fernando de Paula e André de Melo Modenesi, ambos da Associação Keynesiana Brasileira (AKB). Eles fazem de tudo para isentar seu guru Keynes do fracasso atual da equipe econômica, que até ontem era elogiada e defendida por eles mesmos. Eles dizem:
Sustentamos que a desaceleração econômica recente no Brasil é, em boa medida, resultado de má coordenação de políticas econômicas e de uma estratégia confusa, que não foi devidamente sinalizada aos agentes econômicos. Utilizando o linguajar médico, alguns remédios, ainda que recomendados (como redução de juros), foram insuficientes para combater a doença; outros, entretanto, foram erroneamente prescritos. Assim, cabe entender por que as políticas anticíclicas foram bem-sucedidas para enfrentar o contágio da crise do Lehman Brothers, mas não evitaram o contágio da crise do euro.