Internautas brasileiros e torcedores turcos dão exemplo de estupidez
Quando atrocidades como os atentados em Paris no último dia 13 de novembro chamam à ação – ou à perplexidade -, somos capazes de revelar nossas maiores misérias, nossas mais extremas carências morais, nossos mais pungentes vícios animalescos. Se tragédias como essa nos evocam a solidariedade e a empatia, também podem trazer à tona o que temos de mais repulsivo e mais insensível.
Logo após o ato de guerra do Estado Islâmico contra a França e contra a humanidade, as redes sociais se viram tomadas por uma discussão medíocre – particularmente travada entre os brasileiros. Como muito bem destacou o colunista e diretor do Instituto Liberal, João Luiz Mauad, no artigo Pelo direito de escolher as próprias causas, usuários do Facebook adotaram uma bizarra atitude policialesca de fiscalizar a sensibilidade alheia – o que, ao fim das contas, denota falta dessa mesma sensibilidade. A rede social disponibilizou o recurso de pintar as fotos dos perfis com as cores da bandeira da França, em solidariedade pelos horrores vividos em solo parisiense. Ninguém era obrigado, colocava quem quisesse. Eu mesmo não pus, nem acho que esse gesto seja muito significativo ou importante. Na verdade, muitos dos que colocaram a bandeira da França em suas imagens de exibição – outros tantos, ressalte-se, não estão incluídos – manifestam extrema condescendência, quer com as bandeiras socialistas e desarmamentistas do governo francês, quer com os riscos do extremismo islâmico, afeitos que são ao esquerdismo ou ao multiculturalismo ingênuo que facilita ocorrências desoladoras como essa. Respeito, porém.
Muitos brasileiros reclamaram de a mesma homenagem não ser feita às vítimas da tragédia com o rompimento das barragens em Mariana, Minas Gerais, por descaso da Vale do Rio Doce, da Samarco Minerações e da fiscalização do governo. Diga-se de passagem, governo que tem basicamente o controle acionário da Vale, o que depõe contra os petistas e quejandos que querem ver no incidente algo que baste para demonizar a iniciativa privada. Somos solidários às vítimas e ao sofrimento do povo mineiro. As pessoas que acharam por bem pintar suas fotos com a bandeira tricolor do país europeu, sentindo necessidade de fazer isso para mostrar seus respeitos, não expressaram em momento nenhum que desprezam o acontecido em Mariana. No entanto, apesar de ser um evento trágico brasileiro, não foi um ato de guerra contra a civilização ocidental, nem um atentado do Estado ou da empresa contra os brasileiros de forma deliberada – foi “apenas” (sem deixar de ser muitíssimo grave e dever ser exemplarmente punido) efeito de negligência.
Os eventos em Paris foram uma emblemática ramificação, sob forma de um ataque terrorista simbólico e concreto, de um problema severíssimo de âmbito geopolítico e raízes internacionais e civilizacionais profundas que afetam a humanidade inteira. Foi um desafio de fanáticos obscurantistas a todo o mundo livre e civilizado. No entanto, eu não tenho o direito de me comover com isso e achar que foi o fato mais relevante do momento, se antes eu não mudar foto de Facebook ou escrever textinho para chorar pelas vítimas de Mariana, pelo tsunami asiático, o furacão no México, os meninos mortos nas favelas do Rio a cada minuto, a chuva de granizo no Turcomenistão… É surreal constatar que estamos reduzidos a esse nível de discussão! Que tédio!
Apesar do ridículo, a maior insensibilidade de que fomos capazes foi essa. Em amistoso entre Turquia e Grécia, sediado no primeiro país, parte da torcida turca fez mais feio. Assim como em toda a Europa as partidas respeitaram um minuto de silêncio em lamento pelas vítimas do 13 de novembro, o mesmo seria feito no jogo. Seria. Enquanto, em partida entre Inglaterra e França, todos cantaram o belíssimo hino francês, La Marseillase – apesar de sua vinculação com a sanguinária Revolução Francesa -, os turcos vaiaram o minuto de silêncio. Mais do que isso; vaiaram-no e exclamaram, em coro, “Allah Akhbar” (Deus é grande). Algumas reportagens a respeito mencionaram que eles já haviam gritado a mesma coisa na Eurocopa, durante um minuto de silêncio em memória às 102 pessoas mortas depois de um atentado na capital turca Ancara, e que haveria dúvidas se não estavam apenas vaiando a Grécia, com quem mantinham relação hostil até há pouco. Bobagem. Pouco importa. O próprio técnico do time, Fatih Tehrim, ficou envergonhado, e disse que “hoje é um dia de boa vizinhança, mas eles mostraram o contrário”.
Ninguém cai nessa conversinha para desfazer má impressão. Os terroristas e fanáticos do Estado Islâmico enxergam na destruição, no medo, na aniquilação do outro, um altar para glorificar o seu deus. Não desejamos agir com preciosismo, movidos pelo abominável politicamente correto, e querer censurar manifestações de torcidas de futebol. No Brasil, também temos o costume de fazer barulho e gracejos em horas que poderiam ser consideradas impróprias. No entanto, o gesto dos turcos foi muito emblemático e claro para ser interpretado de outra forma. Menosprezaram, sim, o golpe duro sofrido no âmago da França e da civilização ocidental, rechaçaram o momento destinado a homenagear as vidas perdidas no seio da nossa dor, para glorificarem o seu deus em um jogo de futebol. A confusão grotesca de departamentos e a insensibilidade mais estúpida estão explícitos aqui. Não cabe tergiversar e elaborar outras hipóteses, se até entre eles há quem reconheça o papelão.
Mesmo em nossas algazarras eventualmente indecorosas e em nossa discussão boboca sobre qual tragédia merece mais ser lamentada, não fizemos ainda tão feio quanto os turcos, ao usar o momento de lazer para destilar um ódio repulsivo e inerentemente desnecessário. Precisamos e podemos ser, todos nós, melhores do que isso.
De uma coisa não podemos esquecer: os estádios de futebol turcos são algo bem ao estilo dos estádios daqui, vide as inúmeras brigas entre facções de torcidas organizadas, senão pior. Veja o que deu um simples gesto de Felipe Mello ano passado. Não se pode esperar muito de fanáticos religiosos torcedores de times que até entre si se comem.
Tem de nada de policiar ou criticar a sensibilidade alheia!
Na verdade, brasileiro precisa parar de ser pateta e pato donald, pois se viu claramente que os internautas, especialmente do facebook, são tudo carneirinho!
A questão, portanto, nada tem a ver com a solidariedade ou sentimento a respeito da tragédia francesa, meu caro! E sim com a burlesca e patética vocação pra fazer o que os outros lhe instigam…em outras tragédias não se viu tal “sensibilidade”!!!
E esses bárbaros ainda acham injusto a UE não aceitar a Turquia.
A reação dos dois povos foi previsível. A imensa maioria dos brasileiros não tem noção do que é o terrorismo. Acham que isso não é problema nosso. Na segunda feira, algumas pessoas simplesmente não sabiam o que tinha acontecido na França. Questão de interesse. Fico abismada ao ponto de individualismo que chegamos.
Quanto aos turcos, fazem parte do “esquema”. Para a imensa maioria deles, o Ocidente todo deveria queimar no inferno.
O que pega, no caso da oposição Ocidente x Oriente Médio, é que até na Europa Oriental, como no caso da Rússia (sei nem dizer se realmente é Europa de fato), a população acha que o Ocidente é o malvadão dominador e quer que o planeta Terra se foda, vivendo nababescamente. Enquanto eles choram as pitangas, Ilhotas vão ficando ricas na Ásia, Emirado Árabes se prepara para o futuro fim das suas reservas (o que talvez se dê depois de a dependência dos combustíveis fósseis se acabar), Botswana e alguns vizinhos estão começando a se organizar e enxergar um futuro um pouco melhor e assim por diante. Islamismo não é religião. Acredita quem quiser que seja. Islamismo é uma forma de dominação política, já que não admite nada fora dele e ainda possibilita a inclusão de novos adeptos pela simples conversão através da conquista de territórios, utilizando a guerra, comandados por um líder máximo. Se isso não for a pretensão de ser império, não sei o que seria!
A Turquia é o país islâmico mais “moderado”.