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Início das atividades do Grupo de Estudos José Guilherme Merquior

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LEONEL CARACIKI*

No dia 5 de Setembro de 2013 se iniciaram as atividades do Grupo de Estudos José Guilherme Merquior. Gestado no seio do Instituto Liberal, tem como objetivo aprofundar as leituras e debates sobre liberalismo: desde sua vertente clássica até os anarco-capitalistas e afins. O grupo se pauta por leituras coletivas de textos escolhidos, assim como aulas avulsas. Nestas aulas, um ou mais membros pode escolher um tema que domine para palestrar para o resto do grupo. O texto introdutório escolhido foi “Esquerda e Direita: Perspectivas para a Liberdade” de Murray N. Rothbard.

Todavia o que mais me interessa explicar é a escolha do nome.

Por motivos que não sei exatamente quais são, sempre me incomodou a falta de nomes brasileiros na discussão sobre liberalismo que acompanho na internet. O referencial teórico era majoritariamente anglo-saxão e muito recente. Primeiramente pensei que era porque o libertarianismo, por procurar se afirmar como ideia política nova, naturalmente rejeitava – ou deixava de lado – as antigas filosofias políticas liberais. Logo vi que estava equivocado, pois mesmo Locke, Hobbes, Adam Smith e mesmo Tocqueville figuravam em algumas discussões. A inquietação, portanto, não passou. Talvez tenha conseguido um alívio ao propor batizar o grupo de estudos sediado no IL de “Grupo de Estudos José Guilherme Merquior”.

Tive meu contato com a obra de Merquior por acaso. Estava em um dos sebos do centro do Rio e vi lado a lado exemplares de “O Argumento Liberal” e “O Marxismo Ocidental”. Naquele momento cursava ainda a graduação em História na Universidade Federal do Rio de Janeiro e já me cansavam as diversas leituras calcadas no materialismo histórico e suas derivações.

Comprei os livros e os devorei rapidamente. Logo procurei saber mais do autor.

Diplomata, crítico literário, ensaísta, sociólogo. José Guilherme Merquior, ao meu ver, pertence a uma categoria de intelectual cosmopolita que poucas vezes o Brasil produziu. Nascido em 22 de Abril de 1941 em uma família de classe média tijucana, ainda criança já impressionava pela precocidade de suas leituras. Graduou-se em Direito e Filosofia, seguindo pela carreira diplomática. Inicialmente, flertou com ideias socialistas ao mesmo tempo que trilhava uma brilhante carreita como crítico literário. Durante os anos 1970, passou a enveredar pela política e firmou-se como defensor do liberalismo no Brasil. Era visto como um “espadachim conservador” pela esquerda, que em sua grande maioria, nunca deixou de respeitá-lo.

Marxistas ortodoxos como Leandro Konder e Carlos Nelson Coutinho, um expoente de estudos de Gramsci, dizem que Merquior foi “o primeiro crítico conservador do marxismo no Brasil que efetivamente leu Marx”. Já Marilena Chaui, que ressurgiu em meados dos anos 2000 gritando que “odeia a classe média”, foi acusada de “plágio não-doloso” por JGM. Supostamente, a “filósofa” havia “se apropriado com pouco cuidado” da obra de Claude Lefort. Nunca teve problema de se inserir no debate público, figurando desde colunista do Jornal o Globo até como entusiasta da possibilidade de um governo liberal na figura de Fernando Collor – que demonstra que sua visão política não era infalível.

Vitimado em 1991, aos 49 anos, por um devastador câncer, Merquior refletiu sobre o liberalismo até o último momento de sua vida, propondo um “neocapitalismo produtivo”, contra a “república sindicalista” e o “capitalismo especulativo”.

Talvez suas ideias soem estranhas em tempos nos quais o liberalismo brasileiro  se redefine em múltiplas facetas tais quais o agorismo, libertarianismo, anarco-capitalismo e outras denominações. Mas seu espírito cŕitico e inconformista me parece uma inspiração para todo o movimento liberal. Cito aqui a parte final do ensaio “História Mirim da Crítica ao Poder”, originalmente publicado no jornal Estado de São Paulo e reproduzido no livro “O Argumento Liberal”. Nele, Merquior sintetiza de maneira magistral como se deu historicamente a critica ao poder tanto à direita, quanto à esquerda. Segue:

“Contudo, o Estado tentacular só é realmente nocivo à liberdade, isto é, contrário tanto à liberdade política quanto à civil, quando a estrutura do poder dentro da sociedade se enrijece numa monocracia – no monopólio dos centros de decisão nas mãos desses “reis filósofos” que são os “politburocratas” da utopia coletivista. E por aí se vê que, qualquer que seja o combate contra quistos opressivos de poder social, a causa da liberdade só pode ser bem servida se não foi esquecido o velho postulado do liberalismo clássico: a necessidade de submeter periodicamente a autoridade político ao controle efetivo do soberano, ou seja da opinião pública. Nenhuma crítica do poder possui o direito de absolutizar o poder da crítica. Do contrário se marcha em linha reta para a supressão da liberdade em nome da libertação – a ironia semântica mais daninha e mais cruel que o mundo moderno veio a engendrar”.

*PROFESSOR E MESTRE EM HISTÓRIA (UFRJ)

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