Informalidade empreendedora é Liberdade
Carla Pereira*
Uma empresa é um filho, que você projeta, sonha, idealiza e, se tudo der certo, acaba nascendo e te dando muito orgulho e bons frutos ao longo do tempo. Se há alguma coisa nesse mundo que me deixa com sangue nos olhos é o empreendedorismo. Interagir, conversar, trocar experiência e observar gente que tem um negócio é fascinante, sempre há o que aprender e é desafiador perceber o quanto uma mesma ação pode ter um resultado totalmente oposto em seguimentos diferentes.
Se você fizer um exercício mental fechando os olhos agora e imaginando um cenário empreendedor, o que você vê? Um espaço físico com paredes, teto e tudo muito convencional, não é? Mas bem sabemos que um empreendimento pode ser bem mais informal do que isso e que algumas pessoas nem sabem que estão empreendendo.
Há algum tempo sucumbi a um convite antigo de um amigo libertário e boêmio, para visitar um famoso local da capital gaúcha, conhecido por ser frequentado predominantemente por pessoas de esquerda e com visual mais alternativo. Confesso que quando recebi este mesmo relato junto ao convite eu senti um pré-conceito, relutei por semanas até aceita-lo. Que bobinha! Eu adorei o lugar.
Por quê? Ora, Misete, lá havia um mar de gente livre, de fato predominantemente com conceito político e econômico ainda inadequado, mas em suma todos subvertendo ao mesmo estado que tanto defendem. E eu senti o sangue nos olhos naquele ambiente como descrito no primeiro parágrafo e, pasme, eu não fumei. Ali vi dezenas de empreendedores, pessoas vendendo cachaça e cerveja artesanal, deliciosa por sinal, pizza vegana, bolinhos, entre outras coisas que vocês podem imaginar.
O objetivo daquelas pessoas é o mesmo de qualquer empreendedor convencional, o mais pragmático e capitalista objetivo que se pode ter: ganhar dinheiro. Mas será que eles têm consciência de que envolvendo o estado diretamente em seu negócio, ou seja, regulamentando, estariam reduzindo drasticamente seu lucro; burocratizando o comércio ou até mesmo impossibilitando totalmente de ser realizado?
A resposta é óbvia, sim eles têm consciência! Tanto que não o fazem. E aí chegamos a outro ponto fundamental na mudança de pensamento que estamos buscando, por que em sã consciência alguém insiste em defender algo que subverte? Essa resposta eu não tenho, mas espero que consigamos responder e solucionar em breve este problema.
Nota da autora 1: nunca, nem sob tortura eu escreveria o endereço desse local maravilhoso em um texto público, não seria cúmplice do Estado ao desfazer um antro de empreendedorismo informal.
[Nota da autora 2: a foto é da cerveja deliciosa que provamos lá.
Nota da autora 3: i’ll be back
*Biomédica e do Conselho Executivo Nacional do Estudantes Pela Liberdade