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A influência de Rousseau na formação e na vida de Simón Bolívar

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RICARDO VÉLEZ-RODRÍGUEZ *
Simón Rodríguez
Simón Rodríguez

1) O Mestre 

Simón Rodríguez foi, sem dúvida, o educador que exerceu maior influência na formação da personalidade do Libertador Simón Bolívar. Rodríguez nasceu em Caracas e veio falecer em Amotape, cidadezinha do Departamento de Piura (Perú) (Cf. Liévano Aguirre, 1987: 15-22).

Se teve alguém que encarnou de forma fiel o ideal de vida e de concepção humanística apregoados por Jean-Jacques Rousseau, foi Simón Rodríguez. Ele reproduziu, na sua vida e nos seus ensinamentos, os ideais rousseaunianos: autodidatismo, relação estreita entre natureza e sociedade, moral alicerçada na liberdade, domínio  do sentimento sobre a razão, teoria da bondade natural do homem e  doutrina do contrato social (Cf. Francovich, 1983: 2).

Simón Rodríguez também sofreu a influência de Holbach (1723-1789) e Saint-Simon (1760-1825). Do primeiro, o educador de Bolívar tirou a valorização do conhecimento científico e experimental da natureza, influência que, aliás, também tinha recebido de Rousseau, e do segundo os ideais socialistas, calcados sobre a idéia rousseauniana de igualdade. A filosofia que prevaleceu em Rodríguez foi, como se pode observar, a de Rousseau. […]

O contato de Simón Rodríguez com Bolívar deu-se em três momentos: na adolescência do seu pupilo, entre os 11 e os 14 anos (1794-1797), na sua juventude, aos 21 anos de idade (1804-1805) e vinte anos depois, quando já Bolívar era o Libertador de cinco países. Em todos esses momentos,  a influência do mestre sobre o discípulo foi decisiva. […]

O Libertador quis que o  mestre irradiasse a luz dos seus conhecimentos nos países recém libertados. […]

 

2) O Discípulo

Se bem é certo que a formação de Simón Bolívar sofreu, como vimos, a marcante influência do seu tutor e mestre, Simón Rodríguez, não se pode afirmar, contudo, que se circunscrevesse aos ideais humanísticos rousseaunianos do seu “Robinson”. Houve no Libertador, também, a formação militar.  Para compensar a formação heterodoxa e romântica que o tutor dispensava ao adolescente, o seu previdente tio, don Carlos Palacios, decidiu incorporá-lo como cadete no Batalhão de Voluntários de Aragua, o mesmo no qual o pai de Bolívar tinha servido. Entre 1797 e 1798, durante 13 meses, o futuro Libertador recebeu a sua formação militar.  Como frisa Sandoval Franky (1991: 40),  “(…) daí em diante, até a sua morte,  essa atividade seria a sua mais gloriosa, talvez a sua exclusiva e verdadeira profissão”.

Era evidentemente clara a feição militar da personalidade de Bolívar. “A guerra é meu elemento; os perigos, a minha glória”, afirmava ele mais tarde. […] Se os ideais humanísticos e cívicos foram bebidos por Bolívar na fonte rousseauniana, o seu arquêtipo militar foi Napoleão. Como frisa Mancini (1970: 151), “não lhe foi possível se substrair à influência dos dois homens cujo pensamento e cuja ação dominam o século e a Jean-Jacques e a Napoleão é a quem Bolívar pedirá lições e exemplos”. Não obstante a admiração que o Libertador tinha pelo herói da França na época da assinatura do Tratado de Amiens, em 1802 (cf. Cova, 1943: 49), quando da coroação deste, em 1804, como Imperador, Bolívar considerou que Napoleão tinha traído os ideais republicanos. […]

Uma vez garantida a independência e a liberdade às nações hispano-americanas, o Libertador aspirou ao supremo ideal rousseauniano: encarnar a figura do Legislador, o “(…) indivíduo único (…), ser extraordinário, inspirado e quase divino, capaz de dar a um povo, no ponto de partida, na origem de sua vida política, o seu ‘sistema de legislação’, as suas leis essenciais, fundamentais, fonte de instituições duradouras” (Chevallier, 1973: 173). […]

Mas não foi apenas o Bolívar político ou legislador que revelou a influência rousseauniana. Ela se revela também, de forma marcante, no Bolívar educador, para quem o processo educacional consistia no “endurecimento do corpo como suporte do espírito” (apud Acevedo Carmona, 1989: 26). A influência rousseauniana manifesta-se, outrossim, no Bolívar romântico que ama as mulheres e a vida do bon sauvage e que sente fastídio pela velha Europa.

* PROFESSOR UNIVERSITÁRIO E PESQUISADOR

 

Leia o artigo na íntegra no blog do autor.

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