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Inanição é assassinato?

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RODRIGO CONSTANTINO *

A capa do caderno Prosa & Verso do GLOBO de hoje estampa a foto de um menino de dois anos, africano, que sofre de inanição. O choque é imediato para todos aqueles com um pingo de sensibilidade e empatia. É revoltante!

A reportagem fala do livro do sociólogo suíço Jean Ziegler, que foi relator da ONU por oito anos. Para Ziegler, que é professor em Sorbone, se há alimento suficiente sendo produzido no mundo e crianças morrendo de fome, isso é assassinato. Será?

Uma reflexão mais imediata diria que sim. Se sobra de um lado e falta do outro, então só pode ser um ato intencional, um crime, um assassinato em massa. Mas esse é um pensamento simplista, emocional e, acima de tudo, equivocado, que leva ao socialismo e que, como resultado prático, seria responsável pela morte de muito mais gente. Explico.

Faltam casas de um lado, e tem gente com duas casas do outro. Sobram roupas em alguns armários, e faltam em outros. Claro está que, no limite, esse tipo de raciocínio vai levar ao socialismo igualitário, onde “alguém” (o estado) será responsável por equilibrar os resultados, por tirar de João e dar a Pedro, por invadir a casa de Maria e abrigar nela Ana. Sabemos como todas as experiências desse tipo terminaram: com fome, miséria e escravidão.

A fome não é um grave problema nos países mais capitalistas. Curiosamente, o suíço pensa que o problema está justamente… no capitalismo! Alguns ainda chegam ao descalabro de acusar o capitalismo pelo fracasso africano, como se este continente tivesse alguma mísera ponta de sistema capitalista. Não tem! O que falta na África é capitalismo, livre mercado, respeito à propriedade privada, ao lucro obtido honestamente em trocas voluntárias etc.

O sociólogo não quer saber de nada disso, não quer entender como funciona o livre mercado, a especulação, nada disso. Ele prefere observar uma disparidade que revolta, e acusar o lado rico, como se este fosse responsável pelo lado pobre. O suíço, que vive do lado rico, pensa que atacando a riqueza vai reduzir a miséria. É uma crença estúpida. Ele diz, demonstrando sua ignorância sobre economia:

São vários os mecanismos que matam. A primeira explicação é a especulação nas bolsas de commodities com alimentos como trigo, arroz e milho, que correspondem a 75% do consumo mundial de alimentos. […] Essa especulação, que infelizmente é legal, produz lucros astronômicos para os fundos e mortes nas favelas. Nos últimos dois anos, o preço do milho no mercado mundial aumentou 63%. A tonelada de trigo dobrou. […] Quando os preços explodem, os mais pobres não conseguem comprar os alimentos. […] Esses especuladores de alimentos devem ser colocados diante de um tribunal internacional por crime contra a Humanidade. São diretamente responsáveis pela morte de milhares de pessoas.

Falta, aqui, um mínimo de conhecimento sobre o assunto. Ele observa o sintoma e o confunde como a causa. Os preços sobem porque há estímulos monetários de bancos centrais, porque governos criam inflação para não cortar gastos, mas não porque há especulação (que sempre houve, diga-se de passagem). Ele acusa o termômetro pela febre!  Nesse meu artigo, tento explicar melhor as funções dos especuladores. Seria melhor se focássemos nas raízes dos problemas, não em quem tenta arbitrá-los.

Nesse outro artigo, eu uso Hayek para explicar em maior profundidade a questão do problema econômico. Infelizmente, poucos buscam esse tipo de conhecimento mais detalhado acerca do funcionamento da economia. Sem esse instrumento, porém, a chance de errar no diagnóstico é altíssima. Como estamos cansados de saber, o inferno está cheio de boas intenções. O sociólogo suíço está nesse grupo, quando diz:

É um problema estrutural do neoliberalismo. O neoliberalismo puxa a liberalização total de todos os circuitos de mercados, capitais, serviços, patentes, a privatização de todos os setores públicos, o desmantelamento do poder normativo do Estado. As multinacionais têm nas mãos um enorme poder político e financeiro e escapam a todo controle social. Do outro lado, há uma maioria que sofre fome, epidemias, ausência de direitos fundamentais.

Esse meu outro artigo refuta essa falsa dicotomia criada pela esquerda, entre lucro ou vidas. Lamento o fato de que o tipo de discurso usado pelo sociólogo ainda conquiste tanta gente leiga. É um discurso sensacionalista, que vende bem, que coloca seu autor como um altruísta preocupado com os mais pobres e famintos, contra os gananciosos empresários que só querem lucrar. Nada mais falso!

Tenho convicção de que quem ainda tem dúvidas, irá dissipá-las após a leitura dos textos indicados. Os argumentos são claros, os exemplos históricos também. É preciso ter embasamento econômico para não ser vítima dessa retórica demagógica que, em nome de fins nobres, produz apenas mais miséria e inanição. Isso, sim, pode ser visto como um assassinato indireto: vender ideologia socialista por aí.

* PRESIDENTE DO INSTITUTO LIBERAL

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