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Homenagem a Roberto Campos, ícone do liberalismo

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Há vinte anos, o Brasil perdia um de seus mais importantes pensadores da história recente do liberalismo brasileiro. Estou falando de Roberto de Oliveira Campos, autodenominado “lanterna na popa”.
 
Apesar de hoje ser visto como um símbolo do liberalismo, Roberto iniciou sua trajetória política do outro lado do quadrante político, no socialismo. Em suas próprias palavras: “Em minha juventude também fui socialista. Acreditava no poder do estado para reformar o mundo, se não criá-lo de novo. Cheguei mesmo, em vista de meu ímpeto nas Nações Unidas, ímpeto crítico contra as nações lideres, a ser chamado de comunista pelo ilustre ministro Oswaldo Aranha”. Sua transição do socialismo ao capitalismo liberal aconteceu em seu tempo servindo sob o Itamaraty nos Estados Unidos, onde teve a oportunidade de fazer sua pós-graduação em Economia pela George Washington University. Apesar de ser um grande economista, Campos não possuía formação econômica, sendo teólogo e filósofo de formação. Após seu tempo nos EUA, passou a militar pela economia de mercado, que, em suas palavras, é uma democracia permanente em que cada cidadão vota diariamente, quando na vida politica ele vota raramente.

Após sua atuação nas Nações Unidas, voltou ao Brasil, onde atuou por diversas vezes como assessor e membro de equipes econômicas de vários governos, sempre buscando iluminar o caminho do Brasil ao capitalismo liberal de mercado e para longe do famigerado capitalismo de Estado que tanto vemos por aqui. Assessorou Getúlio Vargas na elaboração do projeto de lei que criou a Petrobras. Entretanto, no projeto original, diz Campos, destacávamos a criação de uma empresa de exploração de petróleo de capital majoritariamente brasileiro, mas com participação estrangeira, portanto sem um monopólio de caráter estatal. Este foi incluso no projeto pelo congresso nacional. Foi também um dos criadores do BNDE, atual BNDES, banco de desenvolvimento criado para suprir a falta de crédito observada no país à época, uma grande barreira para o crescimento e para o desenvolvimento do país. Atuou como coordenador de trabalho no plano de metas de Juscelino Kubitschek, onde sugeriria a mudança do nome para “Programa de Metas”, além de sugerir que se fizesse um plano mais amplo visando a combater o déficit público e equilibrar as contas externas através de uma reforma cambial, ambas propostas renegadas por Juscelino. Ainda auxiliaria Jânio Quadros nas tratativas com credores internacionais do plano de metas, com foco em seus credores europeus, e seria ministro do planejamento do governo Castelo Branco, em que, junto a Octavio Gouveia de Bulhões, foi responsável pela modernização do Estado brasileiro, a instituição do PAEG, o controle da inflação, a liberalização da lei de remessas de lucros e a criação do Banco Central do Brasil.

Além de sua atuação como ministro, Roberto Campos atuaria por duas vezes como embaixador do Brasil, primeiramente no governo João Goulart em Washington e posteriormente como embaixador em Londres no governo Geisel. Em Washington, foi muito atuante ao tentar uma aproximação do Brasil com o governo de John Kennedy, o que facilitou em primeiro momento o acesso do Brasil a créditos de origem internacional. Campos chegou até mesmo a organizar um jantar entre John Kennedy e o então presidente do Brasil João Goulart a fim de acalmar os ânimos e acabar com as especulações ideológicas a respeito de Goulart que circulavam por Washington. Durante sua estadia em Londres, enraizou ainda mais suas crenças quanto ao liberalismo econômico, ao observar os resultados do gigantismo estatal brasileiro e compará-los aos programas de governo de Margaret Tatcher no Reino Unido. Ainda em Londres, participou da banca de doutoramento em Economia na Universidade de York, do ex-presidente de Portugal Dr. Aníbal Cavaco Silva.

Como parlamentar, atuou por quatro pleitos, oito anos como senador por Mato Grosso e oito anos como deputado pelo Rio de Janeiro. No auge do plano Cruzado, durante o governo Sarney, foi uma das poucas vozes críticas ao plano. Durante a Assembleia Nacional Constituinte de 1988, sentia como se fosse o único parlamentar a defender a economia de mercado e as ideias do liberalismo econômico. Não teve nenhuma de suas ideias aprovadas quando deputado e senador. Apresentou quinze projetos de leis no Senado, todos rejeitados, entre os quais estão projetos propondo:
— Livre negociação salarial no setor privado e estabelecimento de medidas de flexibilização do mercado de trabalho para evitar o desemprego;
— Extinção, como empresas estatais, das que forem deficitárias, privatizando-as ou liquidando-as;
— Criação de contratos de trabalho simplificados para facilitar novos empregos.

Terminou seu mandato reclamando da solidão do liberal no Brasil e dizendo que o discurso era um retrospecto melancólico ao seu tempo como parlamentar:

“Minha melancolia não vem de saudades antecipadas de Brasília, cidade que considero um Bazar de Ilusões e uma usina de déficits, e sim do reconhecimento do fracasso de toda uma geração – minha geração – em lançar o Brasil em uma trajetória de desenvolvimento sustentado. Continuamos longe demais da riqueza atingível e perto demais da pobreza corrigível. A melancolia vem também da constatação de nossa insuportável “mesmice”. Quando cheguei ao congresso em 1983, eleito senador por Mato Grosso, os temas cadentes do momento eram moratória e recessão. Dezesseis anos depois quando me despeço de dois mandatos como deputado federal pelo Rio de Janeiro, os temas voltam a ser recessão e crise cambial. Isso mostra que o Brasil, conquanto capaz de saltos de desenvolvimento não aprendeu a tecnologia do desenvolvimento sustentado. É um saltador de saltos curtos, e não um corredor de resistência.”

Roberto Campos ainda se tornaria membro da ABL em 1999 após uma conturbada eleição. Sua candidatura sofreu pesada oposição de membros como Celso Furtado e Ariano Suassuna. No fim, foi eleito por 20 votos a 16 pela Bella Jozef e assumiu dia 28 de Outubro com um discurso que destacou o contraste ideológico entre os membros da cadeira a que ele foi eleito, suas perspectivas para o futuro do Brasil e do mundo, e criticou o que ele considerou uma “batalha ideológica”.

Roberto Campos faleceu no ano de 2001 no auge de seus 84 anos, ainda muito atuante e verbal contra as violações à liberdade e diversas intervenções econômicas do Estado brasileiro sobre o mercado. Apesar de não estar mais entre nós, sua aura de defesa do liberalismo e combate ao intervencionismo econômico continua a pairar sobre o Brasil, esperando que mais indivíduos como ele assumam seu lugar e tomem para si as dores desse debate que há tanto tempo impede o crescimento do Brasil e nos limita a migalhas e voos de galinha. Seu legado continua a inspirar o movimento liberal que o sucedeu, sempre relembrando a alcunha que lhe foi dada no passado, e que deu nome à sua autobiografia: A lanterna na popa. Ele continua iluminando o caminho para os liberais de hoje e inspirando aqueles que virão amanhã. Dessa maneira, deixo aqui minha homenagem a ele que foi um dos grandes pensadores e patronos do liberalismo moderno no Brasil. Que a lanterna na popa continue a guiar dezenas de liberais que escolheram este caminho e seja sempre uma lembrança de que esta batalha não é de nenhuma maneira fácil, mas é uma batalha pela qual devemos lutar.

*Artigo publicado originalmente na página Liberalismo Brazuca no Facebook.

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