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Mont Pèlerin Society: o que é?

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O século XX testemunhou tempos tumultuados que, de muitas maneiras, puseram em xeque as bases do liberalismo clássico. Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a persistente memória da Grande Depressão, a convicção na eficácia do governo limitado, do estado de direito e dos mercados abertos e competitivos estava em declínio. Muitos intelectuais, principalmente acadêmicos, começaram a argumentar em favor de uma maior intervenção governamental nos assuntos privados, especialmente na economia, para garantir a estabilidade social. Essa mudança de pensamento marcou uma desvio significativo do conceito original de liberalismo nos EUA, distanciando-se de seus princípios originais do século XIX e passando a ser associado ao progressismo e às ideias intervencionistas.

Foi nesse momento que Friedrich A. Hayek, o respeitado economista austríaco e filósofo político, publicou The Road to Serfdom em 1944. Neste influente trabalho, Hayek argumentou que mesmo intervenções bem-intencionadas em assuntos privados, ainda que promovidas por governos democraticamente eleitos, poderiam levar a um aumento da centralização do poder e, consequentemente, a uma diminuição da liberdade individual. Ele previu que o caminho do intervencionismo levaria a futuras tiranias, tão prejudiciais quanto os regimes autoritários que o mundo lutava para superar.

Para Hayek, a solução estava na preservação e disseminação dos princípios do liberalismo clássico. Ele acreditava que era necessário reunir e estimular o pequeno número de intelectuais ainda comprometidos com esses ideais, que, por sua vez, estavam dispersos e isolados. Assim, ele convocou uma reunião em abril de 1947 no Mont Pèlerin, na Suíça, com 39 expoentes das ideias liberais da Europa e dos Estados Unidos. Entre eles, destacam-se nomes como Milton Friedman, George Stigler, Aaron Director, Ludwig von Mises, Leonard Read, Karl Popper e Wilhelm Röpke. Dessa conferência, nasceu a Mont Pèlerin Society, uma organização dedicada a revigorar, sustentar e propagar o liberalismo clássico.

Hayek, que se tornou o primeiro presidente da Mont Pèlerin Society e ocupou o cargo até 1960, deixou claro que a Sociedade não se envolveria em ação política direta, mas sim se dedicaria a desenvolver uma robusta filosofia da liberdade capaz de oferecer uma alternativa às opiniões políticas amplamente aceitas naquela época. A missão era engajar as melhores mentes na formulação de um programa político que poderia atrair apoio popular.

A Mont Pèlerin Society, desde então, se mantém como uma comunidade voluntária de indivíduos dedicados aos princípios de uma sociedade livre. Não tem sede central, nem pessoal remunerado permanente, nem publicações oficiais, exceto uma pequena newsletter trimestral. A sociedade não adota uma posição oficial sobre questões políticas e sua influência é principalmente refletida pelo que seus membros, como indivíduos, escrevem, dizem e fazem.

Os membros da Mont Pèlerin Society concordam na essência do Estado mínimo, embora haja discordâncias sobre os seus limites exatos. Alguns membros veem o mercado como a solução para todos os problemas, enquanto outros defendem que o papel do governo deve ser limitado ao Night-watchman state – ou minarquismo, como conhecido aqui no Brasil -, fornecendo apenas defesa nacional, polícia e um judiciário. Questões como a política monetária e cambial são áreas de debate, variando entre os membros que defendem o retorno a um padrão estrito do ouro e aqueles que veem o ouro como um bem como qualquer outro.

No início do século XXI, a Sociedade cresceu para cerca de 500 membros espalhados pela América do Norte, Europa, América Central e do Sul, Hong Kong, Taiwan, Japão, Índia, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul e Turquia. A adesão é estritamente por convite, após a recomendação de dois membros e aprovação do Conselho de Administração. Os membros incluem acadêmicos de diversas disciplinas, empresários, associados de instituições de pesquisa privadas, advogados, juízes, jornalistas e até mesmo alguns políticos.

A Mont Pèlerin Society hoje é amplamente respeitada mesmo por aqueles que discordam de seus objetivos. Entre seus membros, oito ganharam o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas: F. A. Hayek (1974), Milton Friedman (1976), George Stigler (1982), James Buchanan (1986), Maurice Allais (1988), Ronald Coase (1991), Gary Becker (1992) e Vernon Smith (2002).

Com o colapso do comunismo na União Soviética e na Europa Oriental, um evento que Hayek teve a oportunidade de testemunhar, o liberalismo clássico, que parecia destinado a se tornar uma relíquia do passado, encontrou um novo fôlego. Grande parte do crédito por esse renascimento pertence a F. A. Hayek e aos membros da Mont Pèlerin Society, cujos esforços para manter vivos os princípios do liberalismo se mostraram influentes e transformadores.

*Leonardo Chagas é presidente do Instituto Atlantos. 

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