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Histeria

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MP Advisors*

‘Uma geração vai, e outra geração vem; mas a terra para sempre permanece.’

Salomão – Eclesiastes 1:4

Se o filho de Davi pudesse emitir sua opinião sobre o atual momento brasileiro, creio que sairia mais ou menos assim;

‘Palavras infrutíferas vêm, palavras infrutíferas vão; mas o trabalho a ser feito fica para sempre’

O ano começou quente, não só no clima, mas também nas fricções entre os membros de nossa sociedade (desorganizada e selvagem, mas ainda assim uma sociedade).  Os ‘rolezinhos‘, invasões (violentas em sua maioria) de shopping centers por jovens da periferia, talvez tenha sido o assunto mais comentado e debatido pelos colunistas e comentaristas das mídias.  Em São Paulo, houve um princípio de histeria com um rapaz gay que teria sido supostamente assassinado. Ato contínuo, algumas passeatas e a ministra dos ‘direitos humanos’ vociferando contra o ‘grande mal’ do Brasil, a homofobia. Tudo isso para se descobrir poucos dias depois, que tudo não passou de um triste caso de suicídio. E a temperatura sobe. Esse ser cordato, o brasileiro, elege outro esporte (além do futebol) como o de sua preferência.  Queimar ônibus é a nova moda. Só na cidade de São Paulo foram 33 veículos queimados, apenas em janeiro.  No Maranhão, em mais um episódio de fogueira com coletivos, uma menina de seis anos faleceu. Porém, para ela não houve uma nota de pêsames do governo, nem para os 50 mil brasileiros que morrem todos os anos, vítimas da Sodoma em que estamos nos transformando.

Se nossa carta trata de economia e de investimentos, porque então tanta preocupação com segurança pública e os ‘rolezeiros’? Simples. Imagine uma família onde os filhos fazem o querem, não estudam, acordam depois do meio-dia, os pais por sua vez também não apreciam um mínimo de estudo, ordem e trabalho. E todo mundo acha essa zorra muito natural, entre um baseado e outro. Será que essa família tem chances de ter sucesso? Com um país é a mesma coisa. Quando começamos a perder os limites da civilidade, quando a imprensa parece achar normal um bando de jovens fazendo arruaça num shopping, quando queimar um ônibus por dia é rotina, quando 140 cadáveres diários já não sensibilizam mais ninguém, não podemos esperar muito em termos de ambiente econômico.  Começando pelo básico, um agente econômico que deseje sair de casa para produzir um simples sapato, precisa de um mínimo de tranquilidade para ir e vir. Uma sociedade que começa a perder o básico com certeza não conseguirá ir bem numa economia global cada vez mais competitiva e complexa. Simples assim.

O clima do debate político claramente se acirra nas ruas e nas redes sociais: é muita palavra histérica ao vento e pouca coisa concreta sendo feita. Aliás, de concreto, pode-se dizer que a nossa presidente finalmente entregou sua primeira grande obra, o Porto de Mariel, em Cuba. Nada mais natural para um país como o nosso, que tem um sistema portuário eficientíssimo e suficiente, que ajudemos os outros, não é mesmo? Só com bom humor para lidarmos com a comédia de absurdos em que vivemos. A verdade é que desde 2002 o Brasil teve a chance de fazer reformas e investimentos em infraestrutura e não o fez. De 2002 até 2008 houve a explosão no preço das commodities (que trouxe uma montanha de dólares para cá) e de 2008 até 2013 tivemos (por conta da crise nos desenvolvidos) uma política monetária ultra frouxa e uma montanha de dólares a custo zero sendo alocados nos emergentes.  O que fizemos nos tempos de bonança? Comemos, bebemos e compramos como se não houvesse amanhã. Pois bem, a farra terminou e o Banco Central americano reduziu novamente o ritmo de injeção de dólares na economia. Neste ritmo, chegaremos ao final de 2014 sem mais anabolizantes sendo injetados e com perspectiva de algum aumento de taxa de juros nos Estados Unidos. Parece um grande aspirador de dólares (ainda na velocidade baixa) que foi ligado, sugando os dólares dos países emergentes de volta para o mundo desenvolvido.  As moedas de países como Turquia, África do Sul e Brasil sofreram em janeiro. Os bancos centrais dos emergentes promoveram um bom aumento nas taxas de juros, na esperança de segurar o grande aspirador.  Quem fez a lição de casa fez; quem não fez que se cuide.

Os resultados do dever de casa não feito estão aí. A inflação terminou o ano de 2013 com espantosos 0,92% em dezembro (5,91% no ano). Com isso, o Banco Central, solitário na luta contra a inflação, subiu a taxa de juros para 10,50% ao ano. Insuficiente para tamanho desafio, e o pior é que não deve ir além de 11,00% pois as eleições estão logo ali. Para 2014 esperamos uma inflação incômoda, afinal os preços administrados não ficarão para sempre comprimidos artificialmente. Um exemplo disso foi o aumento de 9% que o Prefeito do Rio de Janeiro já concedeu para as tarifas de ônibus (que ainda não foram queimados). Aliás, olhando para a inflação de serviços e pela análise empírica do que vemos em nossas vidas cotidianas, eu diria que a inflação real (isto é, tudo aquilo que não está debaixo do tacape governamental) está rodando mais num patamar de 8-9% ao ano do que os oficiais 5-6% ao ano.

O investidor consegue alguma proteção do poder de compra com instrumentos isentos atrelados à inflação.  Quem compra e leva até a maturidade (sem se preocupar com a volatilidade do mercado) tem uma proteção interessante com os juros reais entre 6 e 7%, que esses papéis pagam.  Os papéis pré-fixados não nos parecem tão atrativos ainda, até porque a grande batalha contra a inflação será travada em 2015, seja lá por quem ganhar as eleições. O saldo dessa batalha poderá ser uma bela oportunidade nos pré-fixados. Tenha paciência.

No cenário externo fechamos 2013 com um ‘rombinho’ de USD 80 bilhões no conta corrente, o que entrou de investimento direto não foi suficiente (USD 63 bilhões). Para 2014 o rombo das contas externas deverá se estabilizar. Afinal o câmbio saiu de 2,00 para 2,40. O que talvez piore são os investimentos diretos num ano eleitoral (vamos ser sinceros, quem tem vontade de investir em um país onde a turba destrói tudo, dia sim, dia não?). Por isso a tendência do dólar é continuar em alta.  Se o governo entrar com a sua munição (ainda não vendeu reservas) para evitar as manchetes negativas, será uma boa oportunidade de compra.

Sobre a bolsa. Bem, o melhor investimento em bolsa no momento é comprar uma bela bolsa feminina de boa marca para presentear a esposa ou a namorada (ou se presentear, no caso de uma leitora). O regalo com certeza trará mais satisfação e terá uma menor desvalorização do que as ações brasileiras, ao menos no curto prazo. Que as ações brasileiras, de um modo geral, estão baratas não se discute.  A Petrobrás parecia barata quando valia 70% do seu valor patrimonial, não parecia? Pois bem, já vale 50%. Estar barato não é sinônimo que irá se valorizar. Eu quero catalisadores para uma alta nas ações tupiniquins. Mas não encontro. Se alguém tiver alguns, podem nos enviar.  O ano promete em emoções e não me parece que chegamos no fundo do poço.

Outra coisa que nos preocupa é o setor elétrico.  Enfrentamos o verão mais seco das últimas décadas, os reservatórios estão perigosamente vazios. Usinas termelétricas serão ligadas e esse custo será pago por quem? Pelos consumidores (mais inflação) ou pelo tesouro (mais deterioração fiscal, que no final dá em mais inflação)? O ano começa com muitas dúvidas. Ganhará dinheiro em 2014 quem optar pelo conservadorismo e pela liquidez maior que o usual, para aproveitar as oportunidades. Mantenha a cabeça fria. Sem histeria.

*MP Advisors é uma empresa independente de consultoria financeira e conta com profissionais há mais de duas décadas no setor.

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Roberto Barricelli

Roberto Barricelli

Assessor de Imprensa do Instituto Liberal e Diretor de Comunicação do Instituto Pela Justiça. Roberto Lacerda Barricelli é autor de blogs, jornalista, poeta e escritor. Paulistano, assumidamente Liberal, é voluntário na resistência às doutrinas coletivistas e autoritárias.

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