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Em defesa da Beija-Flor

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A Beija-Flor é o Judas da hora.  Desde quarta feira, quando foi divulgado o resultado dos desfiles das escolas de samba no Rio de Janeiro, a imprensa tupiniquim não parou de malhar a Escola de Nilópolis, por conta de uma suposta falta de ética (alguns alegam até mesmo ilegalidade) pelo patrocínio de 10 milhões de reais recebido da ditadura sanguinária da Guiné Equatorial.

Data máxima vênia, como diriam os causídicos, acho que alguns estão tratando o assunto (notadamente os opinantes esquerdistas) com enorme carga de hipocrisia.  A Guiné Equatorial é um país que mantém sólidas relações diplomáticas e comerciais com o Estado brasileiro – entidade constitucionalmente encarregada de tratar das nossas relações exteriores.

Para se ter uma idéia de quão estreitas são essas relações, somente nos últimos cinco anos dois presidentes brasileiros visitaram aquele país oficialmente, enquanto Obiang – o cruel ditador – também aqui esteve pelo menos uma vez, em visita oficial. Lula voou para lá, pela primeira vez, em 2010, quando assinou acordos de cooperação e perdoou 80% da dívida da Guiné com o Brasil.  Posteriormente, já em 2013, Lula voltou lá, desta vez como “caixeiro viajante”, em missão oficial, acompanhado de diversos empresários tupiniquins, interessados em fazer negócios naquele país.

Sabe-se de alguns projetos em andamento na Guiné Equatorial, operados por empresas brasileiras, e de pelo menos um financiado pelo BNDES, com dinheiro dos pagadores de impostos de Pindorama.  O Itamarati, órgão de Estado encarregado das políticas com o exterior, tem uma página na internet somente para descrever os profícuos laços diplomáticos e comerciais com aquele país africano, cuja relação data de 1974 – mais de 40 anos, portanto. Além disso, desde 2006, o Brasil mantém uma embaixada na sua capital, Malabo, e, desde 2010, estão suspensas as exigências de visto prévio para viajantes entre os dois países, acordo este que o Brasil não tem, por exemplo, com EUA, China e México, entre outros países.

Salvo algumas vozes dissonantes, nunca a mídia pátria fez qualquer crítica mais contundente ao fato de termos relações, digamos, tão estreitas com a ditadura do notório senhor Obiang – cujo filho tem contra si até mesmo uma ordem de prisão expedida na França.

Pelo contrário.  Nunca ouvi ninguém criticar as empresas que lá estão fazendo obras faz tempo.  Por quê então todo esse alarido com o patrocínio recebido pela Beija-Flor?  A escola nada mais fez do que uma transação comercial com um “país amigo”.  Sim, patrocínios são transações comerciais como outras quaisquer.  Sim, a Guiné Equatorial, queiram ou não, deve ser considerada “país amigo”, já que o Estado brasileiro mantém sólidas relações diplomáticas e comerciais com ele.

Por outro lado, só para não dizerem que não falei de flores, digo, de Cuba, empresas e governo tupiniquins têm feito obras vultuosas financiadas pelo indefectível BNDES (vide o porto de Mariel) e negócios milionários (mais médicos) com a não menos sanguinária ditadura castrista, sem que se tenha visto, exceto da parte de uns poucos opinantes da “direita neoliberal golpista”, qualquer crítica ou impugnação a respeito.

Ora, vamos ser coerentes.  Ou criticamos todo mundo, ou não criticamos ninguém.  Ademais, a Beija-Flor, pelo menos, fez bom uso do dinheiro recebido e venceu o carnaval carioca com um desfile quase irretocável.

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

13 comentários em “Em defesa da Beija-Flor

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    24/02/2015 em 9:55 pm
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    Pois é, a Vila Isabel foi campeã com o patrocínio do finado Hugo Chaves da próspera e democrática Venezuela.
    Ninguém chiou. Intrigante!

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    23/02/2015 em 4:54 pm
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    Também acho a crítica de que “enquanto os africanos passam fome e não tem saneamento básico, o governo financia carnaval no Brasil” bastante hipócrita, até porque, também temos brasileiros que passam fome e não tem saneamento básico e nem por isso as prefeituras das capitais brasileiras deixaram de desembolsar incríveis 170 milhões com os carnavais Brasil a fora.

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    22/02/2015 em 11:43 pm
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    apenas para assinar a news letter
    abraços

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    22/02/2015 em 9:52 am
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    Mauad, também penso que é de uma hipocrisia absurda (como costuma acontecer neste país em tempos esquerdopatas) ficar condenando a escola de samba quando o que o governo fez e faz é muito pior. A dívida perdoada certamente é muito maior do que o valor arrecadado pela beija flor, e não se pode dizer que a população brasileira pobre concordaria com essa megadoação que financia um regime criminoso. O problema é que nosso povo, inclusive a grande maioria dos ditos esclarecidos, ou é alienado ou sofre de cegueira seletiva guiada pela esquerdopatia dominante. Acho que a escola xe samba tem de ser duramente criticada, sim. Mas, antes, que se faça crítica muito mais dura ao governo amiguinho de ditaduras.

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    22/02/2015 em 8:25 am
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    Caro João,
    Não faltam enredos críticos falando da miséria, das favelas no Rio, do Brasil etc. Podemos então pedir da agremiação silêncio sobre as mazelas nacionais nos próximos enredos? Era realmente necessário um enredo tão bovinamente propagandístico? Lembra que a Vila Isabel pegou um patrocínio da BASF e fez um enredo celebrando o agricultor brasileiro? Originalmente era para celebrar o agronegócio (nada contra, da minha parte). Mas habilmente a Vila contornou. É só isso. Quanto ao PT: pfui…
    Abraço.

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    21/02/2015 em 3:54 am
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    Interessante o duplo padrão moral dos esquerdistas, não criticam o presidente queridinho deles em perdoar a dívida com a ditadura sanguinária, mas criticam a Beija Flor por receber dinheiro da MESMA ditadura sanguinária.

    Não dá para discutir com esse tipo de trotskista doente mental.
    Precisamos mostrar todas as inconsistências lógicas deles.

    Parabéns pelo artigo.

    Governos e empresas privadas devem ter o MESMO direito de manterem relações diplomáticas e negócios financeiros com ditaduras sanguinárias.

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    20/02/2015 em 11:05 pm
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    Comentário da ótima Dora Kramer:

    “Vale o que vier. Durante décadas o Rio conviveu não só com o patrocínio das escolas de samba com dinheiro de origem ilícita como celebrou os patronos notoriamente envolvidos na criminalidade sob a supostamente inocente fachada da contravenção.

    “A conquista do campeonato pela Beija-Flor com produção de desfile financiada pela ditadura da Guiné Equatorial afinal despertou os, digamos, bem informados, para esse tipo de permissividade que só chegou a esse ponto porque vem sendo aceita ao longo do tempo por autoridades e sociedade como uma espécie de lado festivo/romântico da bandidagem.

    “Já foi comum ver prefeitos e governadores confraternizando nos camarotes com barões da ilegalidade que depois eram saudados pelas arquibancadas enquanto desfilavam a frente de alas das respectivas escolas.

    “Depois veio a prática do “aluguel” de enredos ao poder público para promover homenagens a essa ou àquela localidade. O dono do poder local desembolsa sem perguntar à população se o gasto interessa ao coletivo. Nesse ambiente de vale o que vier, principalmente o que vier e der, os cobres do ditador africano certamente soaram à diretoria da Beija-Flor como aquele mantra entoado no Planalto: “Todo mundo faz, o que é que tem?”.”
    http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,encontro-as-escuras-imp-,1636825

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    20/02/2015 em 8:46 pm
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    Prezado Mauad, países democráticos terem relação comercial (que em regra é boa para os dois lados envolvidos) e diplomática com ditaduras (para manter diálogo sobretudo sobre questão delicadas, em vez de usar violência) é algo mundialmente comum, não?, –e me parece acertado.

    Coisa bem diversa é um bandido (não só por ser um ditador) gastar dinheiro de uma população estrangeira para fazerem carnaval no Brasil, certo? Esse evento não acarreta nenhum retorno, ganho para o país africano, né? Fazer bom uso do dinheiro aqui, como alegado no final do texto, tampouco legitima o ato.

    Não me parece certo pôr no mesmo saco coisas como comércio internacional, empréstimos para financiar obras no exterior (equivocados ou não) e doação para festança no exterior. Quando o governo brasileiro usa dinheiro no nosso carnaval, pelo menos dá para alegar que esse evento atrai turistas que consumirão aqui.

    Algo que me chamou a atenção nesse caso de Guiné é que as pessoas parecem condenar a doação para fazerem festas não pela doação em si, e sim por o governo doador ser de um país pobre. Se fosse o governo da Noruega creio que não veriam problema nesse gasto inútil.

    O que não dá para aceitar –e com isso os jornalistas não se indignam– são os perdões de dívidas em favor de devedores solventes realizados por pessoas (presidentes) que não são os credores,

    “Filho de ditador gasta em compras o dobro da dívida com o Brasil”
    http://oglobo.globo.com/mundo/filho-de-ditador-gasta-em-compras-dobro-da-divida-com-brasil-9345732#ixzz3SKBIVTvO

    Corrija-me se eu estiver enganado no que escrevi. Abraço de um leitor contumaz.

    • João Luiz Mauad
      21/02/2015 em 10:29 am
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      Prezado Eduardo,

      Seus comentários são muito bem vindos. Aparentemente, a intenção do governo da Guiné foi promover o país no exterior, visando ao incremento do turismo. Li hoje no Globo que o governo e empresas da Suíça também patrocinaram o desfile da Unidos da Tijuca, cujo enredo era aquele país. O Brasil é um grande mercado, especialmente para nações africanas da Costa Oeste, e os desfiles das Escolas um evento grandioso, com divulgação não só no Brasil.

      Meu ponto no artigo foi mostrar que não cabe aos dirigentes das escolas averiguar o que se passa no interior de outros países (a enorme maioria dos brasileiros não tinha sequer ideia de que existia um país chamado Guiné Equatorial). Se há um culpado nesse imbróglio, não é a Beija-Flor, mas o governo brasileiro, que mantém relações estreitas e bastante cordiais com uma ditadura sanguinária. É dele que se deve cobrar, não da escola de samba.

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        22/02/2015 em 7:06 am
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        Caro Mauad,

        gosto muito dos teus textos mas não concordo com o ponto que deste artigo como você colocou. A ignorância da maioria dos brasileiros sobre Guiné Equatorial ou Timbuktu, a ignorância sobre a existência de regimes totalitaristas, homicidas, corruptos e ladrões como o do Sr. Obiang não desculpa de forma nehuma a “Escola de Samba”.
        Não acho que tenha a ver com ganhar ou deixar de ganhar o desfile, eu particularmente, nem ligo para isto. Não gosto do carnaval como ele é hoje (e quando digo hoje, já faz muito anos).
        Não me parece que tenhamos evoluído muito, antes se pegava dinheiro de bandido para fazer festa, agora se pega dinheiro de homicidas.
        Esta é uma questão moral e que demonstra, para minha infelicidade, o baixo nível moral da população média brasileira. E explica porque ninguém parece se importar com o “Petrolão”, por exemplo. Afinal, o PT estava roubando para ajudar o país, segundo a mensagem da Srª Dilma.
        Cabe sim aos dirigentes de qualquer agremiação saber a origem do dinheiro que os abastece e ao aceitar este dinheiro, estão sujeitos sim ao julgamento moral quanto a origem dele. E não é esta a acusação (entre várias outras) que se faz ao PT quanto a origem do dinheiro de sua campanha? E o PT não nega sempre dizendo entre outras coisas não saber a origem dos valores que abastecem seu caixa?
        Se não execramos moralmente o comportamento da escola de samba Beija Flor, por que o fazemos com o PT? Canalhas são canalhas, alguns são conscientes de suas canalhices outros não mas isso não os torna menos canalhas.
        Sobre a vitória da escola de samba, o Felipe Moura Brasil, em seu texto no blog da Veja, escreveu um grande artigo e vale a pena dar uma olhada.
        Que jornalistas esquerdistas furibundos que suas escolas não ganharam, queiram execrar a escola ganhadora por causa da origem do dinheiro que financiou seu carnaval pode se dizer que é possível fazer coisas certas por maus motivos assim como é possível fazer coisas erradas por bons motivos.
        Promoção do turismo em Guiné Equatorial? Num lugar onde só parte da capital possui saneamento básico? Oras…
        De resto, sobra apenas a vergonha alheia de saber que pessoas fazem festas com o dinheiro extorquido violentamente de uma população miserável que não possui praticamente nada e parecem não achar absolutamente errado.

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          23/02/2015 em 8:34 am
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          Se existe algum verdadeiro culpado na história é o governo brasileiro que perdoou a dívida com a ditadura sanguinária SABENDO que existe uma ditadura sanguinária.

          A escola de samba seguiu apenas a mesma moral que o governo fez, ou seja, se o governo pode perdoar dívidas com o país X, então eu também posso receber dinheiro do mesmo país X.

          Ou as regras morais não se aplicam à governos, apenas às escolas de samba?

          Ou coisa, isso só teve repercussão desse tamanho porque os esquerdistas “intelequituais” da mídia brasileira querem achar qualquer coisa para falar para abafar o Petrolão.

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    20/02/2015 em 3:43 pm
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    Ai ai, tenho ficado fã do que tenho aqui…

Fechado para comentários.

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