Em cima do muro?
RODRIGO CONSTANTINO *
A reportagem de capa do Segundo Caderno do GLOBO fala de novo livro sobre Bruce Springsteen, especificamente sobre a história do show que ele fez na Alemanha em 1988, meses antes da queda do Muro. O que há de instrutivo nisso é a roupagem que a esquerda sempre usa para parecer neutra, isenta, imparcial, acima das disputas partidárias ou ideológicas. O cantor teria dito, segundo a matéria:
Não sou a favor ou contra nenhum governo. Estou aqui para tocar rock and roll para vocês, na esperança de que um dia todas as barreiras sejam derrubadas.
Muito bonito, não é mesmo? Nos remete até à música “Imagine”, de John Lennon. Só tem um detalhe chato: é mentira! Springsteen, ou “The Boss”, como gosta de ser chamado, tem partido, ideologia, e é ativista. Ganha uma mariola quem acertar para qual lado ele faz campanha? O lado esquerdo, claro!
Bruce endossou a campanha de Obama e fez shows para levantar recursos para o então candidato Democrata. Além disso, seus discursos politizados clamam sempre por “justiça social”, leia-se mais impostos. Afinal, Bruce é identificado como um “homem do povo”, próximo dos operários de chão de fábrica. Tirando o fato de que ele é podre de rico e faz de tudo para pagar menos impostos…
O cantor, que ganha milhões enquanto posa como guardião das classes baixas, economiza milhares de dólares em impostos com mecanismos um tanto obscuros. Ele se declara um fazendeiro dentro do limite estadual que lhe garante subsídios fiscais em toda a sua enorme propriedade. A ganância parece ruim apenas quando é dos outros.
Além disso, algo como 15% da venda total de seus discos se dá pelo canal de distribuição da Wal-Mart. A gigantesca rede de varejo, como sabemos, é vista como inimiga número um dos trabalhadores simples, pois não aderiu ao jogo de sindicalização que, no fundo, atende aos interesses apenas dos sindicalistas.
Obviamente, o show não teve efeito direto na queda. Houve a pressão popular, o Gorbachev e outros fatores que contribuíram decisivamente para isso.