Cão que ladra, mas não morde
JOÃO LUIZ MAUAD *
Depois que o avião do presidente boliviano, Evo Moralles, foi proibido de sobrevoar três países europeus (França, Espanha e Portugal), presumivelmente a pedido dos Estados Unidos, sob a suspeita de transportar Edward Snowden, o Brasil, ladeado pelos parceiros do MERCOSUL, saiu soltando fogo pelas ventas, tendo inclusive chamado os embaixadores daqueles três países às falas.
Em comunicado conjunto, os países do MERCOSUL manifestaram o seu “firme repúdio” pelas ações dos governos europeus, por “não permitirem o sobrevôo nem a aterragem da aeronave“. De acordo com o mesmo comunicado, o episódio foi considerado “infundado, discriminatório e arbitrário“, tendo sido qualificado ainda como “prática neocolonial” e “ato insólito e hostil, que viola os direitos humanos e a liberdade de trânsito, deslocação e imunidade” de que goza “qualquer chefe de Estado“.
Tal reação, para qualquer pessoa sensata, já teria sido, sem dúvida, um exagero diplomático, especialmente porque o Brasil não estava diretamente envolvido no caso. O que dizer então, agora, depois que veio a público outro episódio, para lá de humilhante, ocorrido há menos de dois anos com o avião do Ministro da defesa brasileiro, justamente em solo boliviano, e mantido em segredo até ontem, quando o jornalista Cláudio Humberto desvendou-o.
Sem ter mais como esconder o triste episódio, o governo capitulou. Um comunicado oficial confirmou que, em outubro de 2011, “autoridades bolivianas, sem autorização do ministro da Defesa, Celso Amorim, vistoriaram o avião usado por ele em compromisso oficial na cidade de La Paz.”
A assessoria do ministério não soube informar o motivo da ação do governo boliviano na ocasião, mas explicou que uma nota de reclamação foi encaminhada àquele país pela embaixada brasileira. “No documento, a embaixada informou que a repetição de tais procedimentos abusivos levaria à aplicação, pelo Brasil, do princípio da reciprocidade”.
Não é patético? Um governo tão feroz com os europeus, num assunto que sequer nos dizia respeito, e tão dócil com os bolivianos, que nos impuseram enorme humilhação. Como diziam os antigos, “tem carne debaixo desse angu”.
* ADMINISTRADOR DE EMPRESAS