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O ministro da Fazenda e a corrida aos bancos

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No primeiro semestre de Economia, os professores costumam introduzir conteúdos gerais, chamando a atenção dos alunos através de histórias. Uma das favoritas dos alunos diz respeito às crises econômicas: “afinal, por que aconteceu? Como eles conseguiram sair disso? O que precisa ser feito para não se repetir…” Essas são perguntas frequentes entre os jovens economistas. Nesse contexto é que é introduzido o conceito de corrida aos bancos e a importância da confiabilidade. Bancos, assim como restaurantes, lojas de e-commerce, barbearias, livrarias e qualquer parte da economia só se sustentam quando o cliente final (consumidor) tem algum nível de confiança no produto ou serviço que está consumindo. Mas o que acontece quando essa confiança é quebrada? O cliente não retorna ao estabelecimento. E o que acontece quando o cliente final desconfia de que o banco não “anda bem das pernas”? Os clientes correm (literalmente) para sacar o seu dinheiro o mais rápido possível, pois quem chegar por último pode não ser capaz de retirar tudo o que tinha deixado no banco. Então, os bancos, assim como o comércio em geral, sobrevivem à base da confiança recíproca com sua clientela.

O atual governo do PT venceu a eleição de 2022 com uma pequena diferença de votos, eleição extremamente polarizada e alto nível de abstenção e votos nulos. Isso sinaliza uma desconfiança com relação ao futuro. O lema é bonito: União e Reconstrução. Quem seria contra essas duas palavras tão bonitas?

Os últimos anos têm sido difíceis para a economia global. Estamos vivendo em um cenário pós-pandêmico com alta inflação[1], desemprego e queda no crescimento global.

PIB REAL 2020 (%)
EUA -2,8
Zona do Euro -6,8
Japão -4,3
Brasil -3,3
México -8,0
Argentina -9,9
América Latina e Caribe -6,2

Fonte: Banco Mundial. [2]

 

Somada a isso, temos a guerra entre Rússia e Ucrânia que têm gerado desabastecimento[3], instabilidade global e aumento da incerteza acerca do cenário geopolítico mundial. E onde se encontra o nosso país no cenário global? Em certa medida, o Brasil se encontra em uma situação privilegiada, pois é um país exportador de commodities (podendo abastecer e expandir sua produção agrícola e mineral) e, dentro dos países emergentes, parece ser aquele com maior estabilidade econômica[4] e possibilidade de crescimento.

Mas o Brasil não é para amadores; nós, brasileiros, não perdemos a oportunidade de perder oportunidades. Imaginemos a seguinte situação: compramos um imóvel e marcamos uma visita para conhecermos melhor as instalações, os vizinhos, a iluminação, os móveis… Ao chegar ao local, percebemos que uma grande obra está sendo feita: reparo no teto, conserto das paredes, troca de piso; no entanto, essa reforma parece estar nas fases iniciais. Você olha para o proprietário e pergunta quando acabará a obra. O proprietário, sorridente, responde: “a minha parte já acabou, mas fique tranquilo, pois contratei um jardineiro excelente! Ele terminará todos os reparos.” Sem acreditar, olho para o cartão do jardineiro e lá está escrito: União e Reconstrução. Compreendendo a cilada, vou embora triste, pois tinha adorado a localização. A história seria hilária se não fosse realmente a nossa casa. No primeiro mês de governo, Haddad e o governo Lula parecem ignorar o passado, as boas práticas pró-mercado que estavam dando certo, apostando, em vez disso, no terraplanismo econômico e na narrativa “nós contra eles”. Ironicamente, aquilo de que mais chamaram os membros do governo passado – negacionistas – caí sobre a política econômica do atual governo. Vamos negar aquilo que os outros governos fizeram. Pergunto: “por que negar, a ideia é ruim? Estamos piorando economicamente?” Nada disso, o objetivo de nosso governo é marcar território e mostrar que não parecemos com os governos passados, independentemente da realidade. Nada de novo na história política brasileira. Viva a ideologia![5]

Façamos uma breve recapitulação econômica do primeiro mês do governo:

  1. Na política fiscal, ataque ao teto de gastos, herança do governo Temer, que impossibilita o governo de gastar mais que arrecada. Já no início de seu governo, Lula fura o teto.[6] Isso abre precedente para que, no futuro, caso o governo queira continuar aumentando os seus gastos sem responsabilidade, seja livre para fazê-lo.
  2. Na política social, colocar o rico no imposto de renda e o pobre nos benefícios sociais. Ele só não especificou que quem ganha mais de R$ 1900 reais[7] por mês é considerado rico para ele. “Mas, durante a campanha, Lula prometeu reajustar a tabela do IR…” Pois é, vamos chamar o jardineiro, ele deve ter alguma boa explicação. Some-se a isso o aumento dos impostos sobre a gasolina[8] e o fim do saque-aniversário do FGTS[9]. Parece que a propaganda da proteção aos mais vulneráveis não irá passar da página dois, não é mesmo?
  3. Na política monetária, Lula disse: “A independência do Banco Central é uma bobagem”[10], até porque, senhor presidente, nunca na história desse país um presidente utilizou-se da política monetária para maquiar a economia, certo? Há, ainda, a proposta de moeda comum[11] entre alguns países da América do Sul. (Que inveja que o nosso presidente tem da inflação da Argentina e da Venezuela. Seria tão bom ter inflação alta para culpar os empresários que só pensam no lucro, poder fazer política de congelamento de preços, relembrando os tempos de Sarney. “Ali sim tínhamos um governo forte…”)
  4. Na política externa, uso do BNDES para o desenvolvimento dos países latino-americanos, até mesmo aqueles que não possuem uma posição tão republicana com relação aos direitos humanos.
  5. Nas falas gerais, Lula ressuscita o conceito de mais valia.[12] “O empresário não ganha muito dinheiro porque ele trabalhou, ele ganha muito dinheiro porque os trabalhadores deles trabalharam.” Nada mais antigo que somente os terraplanistas da economia poderiam acreditar.
  6. Na política do trabalho, o ministro da pasta compara o trabalho por aplicativos ao trabalho escravo.[13] A única diferença que o ministro esqueceu de salientar é que eles não estão sendo forçados a trabalhar nisso.

Aos poucos, esses seis pontos aqui apresentados vão gerando um clima de desconfiança no mercado, nos empreendedores e em nós, ficando a pergunta: qual será a próxima pílula dourada ou jabuticaba azeda que teremos que engolir?

O governo Lula e seus ministros parecem acenar para os fracassos econômicos que o Brasil teve nos últimos 70 anos e busca replicá-los, “mas agora vai dar certo, companheiro”. Nacional desenvolvimentismo, cepalinos[14], Estado grande buscando ser o motor da economia e pilar da justiça social. Esse modelo não deu certo no governo de Juscelino, na ditadura militar ou na era do PT (2003-2015)[15]. Também, infelizmente, os indícios do atual governo nos sinalizam que a “despiora” da economia parece que não irá acontecer nos próximos 4 anos. Não é o fato de ser o agente A ou B, é o fato de a ideia (ideologia) de um governo forte e um mercado regulamentado e burocratizado (nós contra eles) estar equivocada[16]. Não acredito na “venezuelanização[17] do país nos próximos quatro anos, mas voltamos aos voos de galinha[18] tão comuns em nossa história econômica. Então, vamos aproveitar que temos um bom jardineiro e pedir para ele cuidar também do galinheiro.

[1] https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/tag/pib-mundial/

[2] https://www.worldbank.org/pt/publication/global-economic-prospects

[3] https://www.bbc.com/portuguese/internacional-61930676

[4] Estabilidade econômica está sendo representada como a tendência histórica de alguns índices: taxa de desemprego, taxa de juros, crescimento do PIB, marcos regulatórios, reformas pró mercadoa, inflação.

[5] Ideologia: busca explicar o mundo através das ideias a priori. Quando os fatos apontam para outras evidências estas são desprezadas por não corroborar com a visão de mundo imposta.

[6] https://g1.globo.com/politica/noticia/2022/12/21/congresso-promulga-pec-que-amplia-teto-de-gastos-por-1-ano-e-permite.ghtml

[7] https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2023/01/16/salario-minimo-se-aproxima-do-teto-da-isencao-do-ir

[8] https://www.cnnbrasil.com.br/business/novo-preco-da-gasolina-nas-distribuidoras-comeca-a-valer-nesta-quarta-feira-25/

[9] https://www.correiobraziliense.com.br/economia/2023/01/5068412-ministro-do-trabalho-diz-que-governo-prepara-fim-do-saque-aniversario.html

[10] https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2023/01/lula-critica-bc-chama-autonomia-de-bobagem-e-ve-exagero-em-atual-meta-de-inflacao.shtml

[11] https://www.infomoney.com.br/economia/ideia-de-moeda-comum-para-transacoes-e-antiga-mas-nunca-saiu-do-papel/

[12] https://www.gazetadopovo.com.br/rodrigo-constantino/historico-veja/refutando-com-bohm-bawerk-a-teoria-da-exploracao-marxista/

[13] https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2023/01/luiz-marinho-diz-que-trabalho-por-aplicativo-beira-a-escravidao.shtml

[14]  Cepalinos: pesquisadores e autores vinculados com a CEPAL. Estes, por sua vez, propunham como uma das ideias econômicas centrais para superação da pobreza deveria ser através da industrialização deveria ser apoiada pela ação do Estado.  Assim o Brasil conseguiria a superar a sua condição de subdesenvolvimento

[15] Não há de se questionar que houve melhoras no país como um todo, entretanto não houve um crescimento econômico sustentável ao longo das décadas.

[16] Benjamin Netanyahu aborda como Israel venceu a pobreza através da parábola: “fat man and the thin man”. Como é impossível um país prosperar com um governo grande (fat man) sendo sustentado por um mercado enfraquecido ( thin man).
Vídeo explicando o conceito:  https://www.youtube.com/watch?v=Sq82pVlNTww

[17] Venezuela vive uma profunda crise econômica: Alta inflação, baixo crescimento econômico, elevado número de pessoas imigrando do país, elevado número de pessoas miseráveis.

[18] Quando não há crescimento econômico sustentável.

*Marcos Chaves Gurgel é engenheiro agrônomo formado pela Universidade Federal do Ceará, economista e administrador formado pelo Insper. Atualmente está no mestrado em Políticas Públicas do Insper e trainee do IFL-SP.

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