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Dois modelos; duas realidades

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Enquanto a gloriosa Petrobras chafurda num imenso lamaçal de escândalos, administrada de acordo com interesses político-sindicais, a produção de petróleo tupiniquim permanece estagnada há quase uma década.  Apesar de todo o carnaval montado em torno dos campos do pré-sal, até hoje ainda não conseguimos tirar qualquer proveito econômico deles, embora o mesmo não se possa dizer do proveito político que o partido governista tem obtido.

Malgrado a incessante propaganda corporativa, que desperdiça centenas de milhões de reais dos acionistas anualmente – apesar do monopólio de fato que a empresa exerce em quase todas as áreas em que atua -, está cada vez mais difícil esconder a ineficiência, a corrupção e os desmandos sistêmicos que contaminam aquela estatal e trazem imensos prejuízos, não só aos acionistas, mas para toda a nação brasileira. Refém de decisões empresariais equivocadas e de um corporativismo galopante, não é nenhum exagero dizer que esse verdadeiro elefante branco vem retardando, de forma contínua e crescente, o desenvolvimento do país em geral e da indústria petrolífera nacional em particular.  Será que exagero?  Vejamos:

Nos Estados Unidos, graças a um sistema completamente diferente do existente aqui, a indústria de óleo e gás não para de crescer.  A produção diária de petróleo daquele país superou os 8,5 milhões de barris/dia (bd) durante o último mês de julho.  Para se ter uma idéia do que isso significa, durante os últimos três anos, a produção de petróleo nos Estados Unidos aumentou em nada menos que 3 milhões de barris/dia, saltando de 5,42 milhões de barris em julho 2011 para 8,513 milhões barris este ano.

Graças à “revolução” na extração de óleo e gás em formações de xisto, os EUA adicionaram à sua produção, em apenas três anos, o equivalente a uma vez e meia a produção brasileira e mais do que a produção diária de petróleo em alguns países da própria OPEP, como Emirados Árabes Unidos (2.8 milhões bp), Kuwait (2.6 milhões bd), México (2.5 milhões) e Venezuela (2.35 milhões). Ao ritmo atual, os EUA devem alcançar os 9 milhões de barris dia entre novembro ou Dezembro deste ano.

A revista Foreign Affairs publicou, no último mês de junho, uma extensa matéria sobre essa “nova revolução americana”.  Através dela, ficamos sabendo, por exemplo, que o “boom” de xisto criou centenas de milhares de novos empregos.  Atualmente, mais de 1 milhão de americanos trabalham na indústria de petróleo e gás – um aumento de cerca de 40 por cento entre 2007 e 2012.  Além disso, como o gás natural fornece atualmente cerca de 25% do total da energia consumida nos Estados Unidos, o “boom” está economizando para os consumidores daquele país centenas de bilhões de dólares por ano. Combinada com outros fatores, esse tem sido um dos principais motores da recuperação econômica, depois da grande recessão.

Essa “revolução” só foi possível porque, ao contrário do modelo retrógrado existente no Brasil, os Estados Unidos possuem (ainda!) os ingredientes e o ambiente institucional e econômico necessários. Ademais, prevalece lá um sistema jurídico que consagra a propriedade privada da terra e dos recursos abaixo dela, juntamente com um mercado de capitais dinâmico e aberto a novos investimentos e um sistema regulatório que, se não é o ideal do ponto de vista liberal, ainda é bem mais razoável do que o existente, por exemplo, no Brasil.

Esse ambiente tornou possível o aparecimento de milhares de empresas de petróleo e gás independentes, que, graças à intensa competição proporcionada por um ambiente de baixa regulação, já perfuraram quase quatro milhões de poços de petróleo e gás no solo americano, contra cerca de 1,5 milhões no resto do mundo. O aquecimento do mercado produtor gerou ainda um aumento da inovação dentro da indústria, numa ordem de magnitude impensável em países como o Brasil, onde o Estado domina a atividade e os níveis de regulação são absurdos.

A história do novo “boom” de petróleo e gás americano começou com George Mitchell, cuja invenção possibilitou a perfuração horizontal do xisto, em substituição à tradicional perfuração vertical. Como os preços de óleo e gás são livres nos EUA e os preços internacionais estavam em alta, as novas técnicas desenvolvidas por Mr. Mitchell tornaram-se atraentes e alcançaram sucesso comercial. Em 2002, a Devon Energy comprou a empresa de Mitchell, incrementou as inovações necessárias e começou a perfurar poços na chamada “Formação de Barnett”.  Logo, outras empresas independentes, como a Chesapeake Energy, aderiram ao processo, dando início ao “boom” de xisto. Uma década depois, a Chesapeake superou ExxonMobil como o maior fornecedor de gás natural dos Estados Unidos e, pouco tempo depois, os EUA ultrapassaram a Rússia como maior produtor de gás natural do mundo.

Nada disso teria acontecido sem um sistema legal como o dos Estados Unidos, que concede aos proprietários os direitos não só sobre a superfície de sua propriedade, mas também de tudo que há abaixo dela – teoricamente, até o centro da terra.  No resto do mundo, os direitos sobre os minerais existentes no subsolo são praticamente todos de propriedade, ou estritamente controlados, pelo Estado. Nos Estados Unidos, qualquer empresa pode chegar a um acordo com um proprietário disposto a arrendar os direitos de exploração de petróleo e gás debaixo da terra e começar a perfurar.  Tal modelo gerou uma intensa competição entre empresários. Atualmente, os Estados Unidos possuem mais de 6.000 empresas independentes de petróleo e gás e igual número de empresas de serviços associados.

Em cada um dos poços destas empresas, dezenas de mentes trabalham em cada parte do processo. Usando equipamentos 3-d para monitorar a atividade sísmica, engenheiros, muitas vezes remotamente e em tempo real, monitoram a localização exata da broca, para que ela possa permanecer nas zonas mais prolíficas da formação xisto e assim otimizar o tamanho das fissuras criadas pelo “fracking”, de modo que elas não sejam nem muito grandes, nem muito pequenas.  Depois de repetidas milhares de vezes, estas e muitas outras técnicas permitiram que as empresas maximizassem sua produtividade e seus lucros, cortando custos e reduzindo prazos.

Enquanto isso, na terra do esperto Macunaíma …

 

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

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