Dividir para pacificar
An Exit Strategy for Iraq”
Autor: Ivan Eland*
Pontos a considerar
- Em fevereiro de 2009, o presidente Barack Obama anunciou que iria retirar a maior parte da força militar combatente no Iraque em agosto de 2010. Se a violência viesse a recrudescer, acrescentou na ocasião, ele adiaria a retirada. Esta condição está dizendo o seguinte: ela não apenas indica que a redução da violência desde 2008 pode ter sido temporária, mas também indica que as tropas americanas poderiam ficar por muito mais tempo do que Obama prometeu durante sua campanha presidencial. Felizmente, apesar das perspectivas de um recrudescimento da violência serem grandes, a cuidadosa instauração de um governo descentralizado para o Iraque – que venha a enfraquecer as condições que possam desencadear uma guerra civil em larga escala – pode oferecer aos iraquianos uma razoável esperança de um futuro de paz.
- O Iraque é um país artificial com uma história nacional muito recente. A Mesopotâmia esteve unida por apenas 68 dos mais de 1.300 anos de governo islâmico no Oriente Médio, entre 600 DC e a criação do Iraque, a partir das três províncias britânicas, depois da I Guerra Mundial. Quase todos os grupos tribais e de sectarismo étnico do Iraque colocam a lealdade ao grupo acima da lealdade à nação. Esta situação tornou o Estado do Iraque disfuncional desde o início. O Iraque só pode sobreviver como um único país se for governado por mão de ferro.
- Os sinais de uma iminente desintegração do Iraque já estão aparecendo. Pelo menos 70 por cento de Bagdá encontram-se sob segregação sectária. A cidade está dividida entre o setor oriental, xiita, e o setor ocidental, sunita. A criação de áreas mais homogêneas em muitas cidades, antes de uma limpeza étnica, ainda que terrível, tornou mais fácil uma potencial divisão. Uma divisão ratificada, com limites cuidadosamente traçados e acordados por todos os grupos, é necessária para evitar que a limpeza étnica inicial venha a se desdobrar numa guerra civil total.
- Quer o governo Bush admita ou não, seu Comandante-Chefe da Força Multinacional no Iraque, General David Petraeus, implicitamente desistiu de criar um Iraque democrático unificado, e reconheceu que a estabilidade requeria um reconhecimento da realidade fragmentada do território. Petraeus treinou as forças de segurança do Iraque, que estão fortemente infestadas de milícias xiitas. Ele não desafiou o Supremo Conselho Islâmico Iraquiano, que controlava a maior parte das cidades na região sul xiita. Ele não combateu a milícia xiita militante de Moqtada al-Sadr, mas, ao invés disso, ajudou al-Sadr, trabalhando com seu grupo para prestar auxílio e serviços em certas áreas xiitas, dando combate apenas às facções mais radicais e renegadas dessa milícia. Por fim, Petraeus subsidiou, armou e treinou ex-guerrilhas sunitas para policiar áreas sunitas e combater a al Qaeda. Com isso, os Estados Unidos provavelmente terão treinado e armado a maior parte das facções de uma guerra civil multilateral.
- Os críticos da divisão do Iraque usaram exemplos históricos – principalmente as divisões da Irlanda em 1921, a do Punjab em 1947 e a da Palestina em 1948 – numa tentativa de desacreditar sua solução. Eles alegam que a divisão vai gerar mais violência e instabilidade e conduzirá a resultados antidemocráticos. Entretanto, mesmo essas violentas divisões podem ter salvado vidas no longo prazo ao separar ao menos parcialmente as facções em guerra. Em todo o caso, a violência no decurso do tempo não foi causada pelas divisões em si, mas pelo fato de que as divisões foram incompletas. Além disso, os críticos ignoram muitas divisões bem sucedidas e menos comemoradas, e até mesmo pacíficas, tais como a de Begala em 1947 e a divisão da Tchecoslováquia em República Tcheca e em Eslováquia, em 1993.
* Ivan Eland é reconhecido como um dos mais destacados especialistas em estudos sobre defesa e política externa dos EUA. Ele é Membro Sênior e Diretor do Centro para Paz e Liberdade do Independent Institute. Reside em Washington, D.C.
Fonte: The Independent Institute, 21.10.2010
Para adquirir o livro: livraria on line do Independent Institute
TRADUÇÃO: LIGIA FILGUEIRAS