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Destruindo, vandalizando símbolos e tentando apagar o passado

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No festival de destruição e vandalismo de estátuas, nomes de ruas e tudo o mais, verifiquei uma questão que merece a devida atenção. Seria correto condenar indivíduos com base em princípios morais do presente, que não eram nem de longe padrões comportamentais no passado?

Parece-me que a resposta deva ser negativa. Seria muito cruel, por exemplo, julgar alguém por um ato qualquer que, na época, não era considerado errado. Sem saber que algo é socialmente reprovável, o indivíduo não tem noção ou consciência da reprovabilidade.

Recentemente, eu estava discutindo a questão das estátuas destruídas ou vandalizadas com alguns amigos estrangeiros em um grupo de WhatsApp. Disse que devíamos preservar a nossa história.

De repente, um deles reagiu agressivamente dizendo que eu estava sendo estúpido e arrogante por ser branco; que pessoas tinham sido ofendidas por um Winston Churchill ou Thomas Jefferson — o primeiro por ter feito comentários racistas; o segundo por ter sido proprietário de escravidão — e, portanto, ambos não merecem ser lembrados. Além disso, fui advertido pelo grupo de que eu não devia criticar o movimento.

Confesso que fiquei perplexo e atordoado. Assim como esse colega, considero o racismo algo abominável. Aliás, ninguém deve ser julgado com base na cor de sua pele, gênero, crenças religiosas ou orientação sexual.

Entretanto, tenho a exata noção de que isso é um padrão de conduta de hoje. Não era assim no passado. Como liberal, estou convicto de que nenhum movimento — qualquer que seja ele — pode ser absolutamente isento de críticas. Antes de tudo, respeitemos a liberdade de expressão. Se alguém pode fazer uma manifestação ou movimento, outros devem poder criticar.

Não fosse só isso, acho errado apagar o passado em razão de valores do presente. Ora, o passado deve ser lembrado — entre outras coisas — para não nos esquecermos de atos que não queremos repetir.

Vou dar um exemplo simples. Hitler e Stálin foram duas das criaturas mais abomináveis que pisaram na terra. Tudo o que eles fizeram devia ser destruído e apagado? Nenhuma foto, nenhuma referência, nenhum escrito… Nada que fizesse referência a eles devia ser exibido? Acho que não, pois quanto menos se falasse deles, maiores as chances de repetição de seus atos.

O ponto não é de superexposição — que costuma levar ao descaso — e endeusamento, mas de nenhuma exposição. Destruir todos os símbolos não apaga malfeitos do passado e, infelizmente, abre uma avenida para que pessoas repitam erros.

Respeitando os que pensam diferentemente, acredito que atos e condutas do passado devem ser julgados com base nos critérios e valores morais vigentes na sua época. Não fosse só isso, a história deve ser preservada, dentre outras coisas, para evitarmos novos erros e compreendermos a nossa evolução.

Thomas Jefferson redigiu a Declaração de Independência dos Estados Unidos, com a famosa frase: “Consideramos como evidentes as seguintes verdades: que todos os homens foram criados iguais; que receberam de seu Criador certos direitos inalienáveis; que entre eles estão os direitos à vida, à liberdade e à busca da felicidade.” Este talvez tenha sido um dos documentos mais importantes para eliminar preconceitos perversos. Ele é invocado por todos, inclusive para fundamentar o fim da escravidão. O homem que o redigiu era proprietário de escravos. O que fazemos? Destruímos suas estátuas, seus livros e todos os seus escritos, inclusive esse? Acho que seria um tiro no pé.

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Leonardo Correa

Leonardo Correa

Advogado e LLM pela University of Pennsylvania, articulista no Instituto Liberal.

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