Desgraça (estatal) na merenda indiana

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RODRIGO CONSTANTINO *

Confesso não gostar de escrever sobre tragédias logo depois que acontecem, muito menos para puxar o assunto para o tema da política e da ideologia. Esse tipo de coisa fica parecendo exploração sensacionalista da desgraça alheia, algo que a esquerda é especialista. Dito isso, não dá para ignorar o assunto no caso das merendas envenenadas na Índia. Outras vidas estão em jogo.

É porque as impressões digitais do governo estão claramente nas cenas do crime, e o Brasil, não custa lembrar, tem o segundo maior programa estatal dessa natureza. Alguém lembra do fracassado “Fome Zero”? Pois é. Quando o estado se arroga a capacidade de gerir programas mega complexos, normalmente a coisa desanda. Diz a reportagem da Folha:

O programa de alimentação escolar gratuita da Índia é o maior sistema desse tipo no mundo, e serve 114 milhões de crianças. O do Brasil vem em segundo lugar, com 47 milhões de crianças atendidas.

Os preços da comida dispararam na Índia nos últimos anos, e os pais de famílias mais pobres dependem das refeições fornecidas pelas escolas para garantir a nutrição das crianças.

No entanto, o programa enfrenta sérios problemas de desperdício e corrupção. Incidentes de envenenamento são comuns, ainda que raramente tão graves.


As autoridades suspenderam um fiscal de alimentos e iniciaram um caso de negligência criminosa contra a diretora da escola. Nitish Kumar, ministro chefe do Estado de Bihar, ordenou um inquérito e anunciou uma indenização de 200 mil rúpias (cerca de R$ 7.500) aos pais das crianças mortas.


O governo abre inquérito, pune um subalterno qualquer, solta alguma verba para as famílias vítimas da desgraça, e vida que segue – ao menos para aqueles que não perderam seus filhos nessa tragédia. Acidentes acontecem, não resta dúvida. Ou, como diz o ditado, “shit happens”. Só que “acidentes” costumam acontecer com uma frequência espantosa quando se trata de gestão estatal. E eis o ponto importante de frisar aqui.
Onde há governo e bilhões em recursos, pode estar certo de que haverá corrupção, desvios, negligência e descaso. É por conta do mecanismo de incentivos envolvido. Enquanto as pessoas não compreenderem isso, vão associar ao mero acaso tantas tragédias que ocorrem quando há elevado grau de intervenção estatal. Não é coincidência.
Quando se trata da construção de arenas esportivas ou coisa do tipo, o risco é penalizar o bolso dos pagadores de impostos. Mas quando há hospitais ou programas de alimentos envolvidos, aí estamos falando do risco de vida para milhões de pessoas. Quem assume a responsabilidade por isso? Quem paga o preço pelo sofrimento dos inocentes?
* PRESIDENTE DO INSTITUTO LIBERAL

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