RODRIGO CONSTANTINO *
Em artigo de hoje no Estadão, Demétrio Magnoli, quem muito respeito, resgata certo otimismo com os acontecimentos ligados à “Primavera Árabe”. Diz o sociólogo:
A “segunda Tahrir” revela tanto a vitalidade da revolução democrática no Egito quanto o fracasso dos profetas que condenaram de antemão a Primavera Árabe como uma queda no precipício do fundamentalismo islâmico. Em pouco mais de dois anos os egípcios derrubaram uma ditadura militar e um governo eleito que pretendia aprisionar as liberdades no calabouço da ortodoxia religiosa. Depois disso a tese do “choque de civilizações” deveria ser recolhida ao museu das relíquias ideológicas.
Eu não estaria tão certo disso. Considero a conclusão otimista precipitada. É verdade que o povo não aceitou a “democracia” islâmica (sharia) de Mursi e seus colegas fanáticos da Irmandade Muçulmana. Mas daí a concluir que há em curso uma luta por democracia, pois os egípcios derrubaram tanto a ditadura militar como a ditadura velada e disfarçada de democracia islâmica, acho que vai uma longa distância.
Eu faria uma provocação alternativa: e se esses povos ainda não estão preparados para democracia alguma, e a opção realista que se apresenta for entre regime militar secular e aliado ao Ocidente, ou “democracias” que nada mais são do que uma estratégia para o totalitarismo islâmico? E se o “choque de civilizações” é justamente o que está acontecendo por lá?
Por enquanto, fica a questão: podemos mesmo afirmar que os povos árabes “despertaram” e clamam por democracia e liberdade? Ceticismo parece crucial nesse momento, para não cairmos novamente em ilusões perigosas…
* PRESIDENTE DO INSTITUTO LIBERAL