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A culpa é sempre dos outros

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A presidente Dilma Roussef aproveitou a sua estadia na Austrália, durante a reunião do G-20, para exercitar aquela atividade tão comum aos brasileiros em geral: culpar os outros pelos próprios problemas.  Em discurso reportado pelo jornal Estado de São Paulo, Dilma culpou os países desenvolvidos não apenas pelo baixo crescimento do Brasil, como também pelo nosso renitente déficit em transações correntes.

Infelizmente, essa fuga da responsabilidade não é exclusividade dos nossos governantes.  Ela é bastante acentuada na maioria da população brasileira, habituada desde priscas eras a sentir pena de si própria. O fato de responsabilizarmos alguém pelos nossos insucessos aplaca as nossas consciências e, ao mesmo tempo, nos induz a um permanente estado letárgico, sem poder de reação.

A tendência à auto comiseração explica, por exemplo, aquela famosa máxima, tão comum nas bocas esquerdofrênicas, segundo a qual a miséria brasileira estaria associada, primeiramente, à expropriação colonialista e, posteriormente, ao imperialismo, exercido principalmente pelos americanos do norte. De acordo com esse despautério, a nossa pobreza seria diretamente proporcional à riqueza do primeiro mundo.

O raciocínio tortuoso de que a nossa penúria é parte do legado colonial não resiste às evidências histórias, uma vez que países hoje desenvolvidos como Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Hong-Kong e até mesmo os riquíssimos Estados Unidos foram, outrora, colônias européias, enquanto nações miseráveis como Etiópia, Libéria e Butão jamais foram colonizadas. Por outro lado, Espanha e Portugal, poderosos colonizadores do passado, não estão entre os países mais prósperos, enquanto a Alemanha, cujas aventuras colonialistas do século XX redundaram sempre em magníficos e onerosos fracassos, é hoje a nação mais opulenta da Europa.

Já a teoria imperialista, que pretende explicar as causas do nosso subdesenvolvimento através de um contínuo saque das nossas riquezas pelos ogros americanos, é de morrer de rir, pois parte do pressuposto que a riqueza do mundo é algo estático, pré-existente, que trocaria de mãos ao sabor da força ou da coação. Chega a ser patético que alguém possa defender tais teses mesmo sabendo que perto de 70% do PIB norte-americano são provenientes do setor de serviços. Além disso, se a economia deles equivale hoje a quase 15 vezes a nossa, basta um mínimo de lógica e alguma isenção de raciocínio para verificar que não foi através da pilhagem das nossas reservas naturais que os ianques enriqueceram e progrediram. Desculpem a franqueza, mas parece piada achar que os caras construíram aquele PIB de trilhões de dólares à custa da exploração alheia. Ademais, é de uma presunção sem limites.

Enquanto continuarmos insistindo na confortável estratégia de jogar a culpa pelos nossos reveses nos ombros alheios, definitivamente não chegaremos a parte alguma, pois permaneceremos incapazes de aprender com nossos próprios erros. É preciso entender, de uma vez por todas, que, se o Brasil permanece subdesenvolvido, cantado em prosa e verso como um país de futuro brilhante, mas que nunca chega, isso é resultado das nossas decisões e escolhas.

Que culpa têm os outros se mantivemos até hoje inalterada uma legislação trabalhista retrógrada, cuja profusão de direitos e benefícios onera de tal maneira as contratações que acaba por desestimulá-las, no lugar de incentivá-las, como seria desejável? Por acaso foram os outros que nos impuseram um sistema político e econômico caracterizado pelo gigantismo de um Estado paternalista, assistencialista, ineficiente, perdulário e insaciável, que através da sua sanha tributária inviabiliza a formação de poupança interna e, por conseqüência, os investimentos do setor produtivo?  São eles os responsáveis pela total insegurança jurídica que grassa em Pindorama, afastando investidores e encarecendo sobremaneira os custos operacionais das empresas?  E a corrupção desenfreada?  A culpa é deles também?

Se, ao invés de perdermos tempo criando teorias malucas, salpicadas de despeito e inveja para explicar as nossas mazelas, focássemos a atenção no essencial, não seria difícil deduzir onde estão os problemas.  Mas preferimos continuar culpando os outros.  É mais cômodo e menos trabalhoso…

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

Um comentário em “A culpa é sempre dos outros

  • Avatar
    18/11/2014 em 6:52 pm
    Permalink

    Show de bola!!!!!!

    “essa fuga da responsabilidade não é exclusividade dos nossos governantes. Ela é bastante acentuada na maioria da população brasileira, habituada desde priscas eras a sentir pena de si própria. O fato de responsabilizarmos alguém pelos nossos insucessos aplaca as nossas consciências”

    …e assim, adotamos a MORAL do COITADINHO.

    Os escravos, sobretudo os que amam a servidão, inventaram a MORAL do ESCRAVO para glorificar a própria servidão.

    Os marginais e ladrões focaram na idéia do “BANDIDO BOM” simplesmente por aceitar a MORAL do SERVO como auto santificação e assim gozar das delicias do Paraíso.
    Uma moral que faz da servidão a um soberano, ídolo ou autoridade qualquer, fazendo-se mesmo a glorificação de um marginal que aceitando-a se redime de todo e qualquer crime que tenha cometido, é de fato atraente não só para bandidos mas também para aqueles que, vaidosos, querem glorificar aquilo que em si reconhecem: seja a fraqueza, a indolência, o carater mole, a inaptidão e toda sorte de defeitos que podem ser escondidos por uma moral conveniente àquilo que em si reconhecem e SE FRUSTRAM. A alternativa para tentar amitigar a vaidade ferida é conceber uma moral que valorize aquilo que nenhum valor tem.

    É a inveja que se vinga do valor individual ou coletivo alheio através da anuência festiva e ostensiva de uma moral conveniente FORJADA NUM CONSENSO HIPÓCRITA que exercita o velho “Asinus asinum fricat” na esperança de que a manifesta e ostensiva opinião alheia sobre os alinhados com a moral ideologica os convença do “valor” que possuem e que suas consciências internas não conseguem reconhecer.
    Essa apelação em beneficio de dogmas e arbitrariedades convenientes nada é se não a inconformidade com a reralidade, a verdade e a lógica reconhecida em suas consciências, mas que fere a sua vaidade. Portanto, o desprezo pela própria consciência faz com que o indivíduo se apegue a “consciências coletivas” ostentadas em ideologias que disfarçam o interesse egoísta em pretensos coletivismos redentores.

    Não por acaso as ideologias fanatizam e cegam seus adeptos: eles precisam da opinião alheia para tentarem se convencer a negarem suas próprias consciências em favor de uma “consciência superior” a do reles indivíduo. Assim, assumem como visão superior os COLETIVISMOS, que parecem não serem convenientes ao indivíduo e por tal pretensamente um “julgamento isento” que visa não o próprio bem mas um fantasioso “bem comum” como objetivo ideológico ou FIM SUPREMO capaz de justificar todos os MEIOS em SEU NOME INVOCADOS e PRATICADOS.

    Por esta razão aqueles que afirmam não desejarem nada para si mesmos, invocando o valor do altruísmo e mesmo da servidão voluntária a um mito qualquer, geralmente o mito da “SALVAÇÃO do MUNDO”, tornam-se violentos e intolerantes aos divergentes, mesmo que sob a idéia de não estarem defendendo seus direitos ou interesses; como se tal fosse possível.

    Um altruista jamais admitiria receber ajuda ao custo do sacrificio alheio se não espontaneo. Contudo os seguidores de ideologias preconizam em seu altruísmo, ou anti egoísmo, o ataque a outros a fim de beneficiarem a si mesmo ou a outros. Ora, o que escondem é que sua COBIÇA e/ou INVEJA se vale de uma efetiva contradição para reivindicar beneficio para si mesmo ao custo alheio tanto quanto para reivindicar apenas o dano alheio a fim de vingar-se.

    …Eis o homem! … com suas ideologias contraditórias, estapafurdias e dogmaticas.

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