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Conflitos de civilizações, pessoas, gêneros, nações…

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MULTICURALISMO-02

Em 1993, o saudoso Professor Samuel P. Huntington publicou um dos artigos mais polêmicos da Revista Foreign Affairs. O título não poderia ser mais provocativo: “The Clash of Civilizations?” (tradução livre: “O Conflito de Civilizações?”). O artigo propunha uma nova leitura das relações internacionais – após o fim da Guerra Fria. Desde a introdução, Huntington anuncia que, em sua hipótese, os conflitos deixariam de ser, primordialmente, econômicos ou ideológicos. Em sua visão, a base dos conflitos passaria a ser cultural.

O artigo provocou furor. Chegou-se ao ponto de defender que Huntington estaria estimulando o conflito cultural e civilizacional. Isso, em razão de uma revista que só é lida por pessoas razoavelmente esclarecidas que têm interesse em relações internacionais. Pelo burburinho causado, ao que tudo indicava, o Professor havia acertado o alvo.

Mas, certamente, Huntington não imaginava os desdobramentos. Ele nunca poderia conceber, por exemplo, os sórdidos atentados de 11 de setembro de 2001 (Civilização Islâmica contra a Ocidental). Também não imaginaria que a fragmentação civilizacional – no plano internacional – poderia encontrar eco dentro dos Estados Nações (minha hipótese). Seria impensável imaginar que, neste século, experimentaríamos os seguintes conflitos: (i) mulheres contra homens; (ii) homossexuais contra heterossexuais; (iii) negros contra brancos; (iv) religiões umas contra as outras; e por aí vai.

Vivemos um momento em que o conflito se tornou a regra. Estados, indivíduos, clérigos… Todos vivem e alimentam as desavenças ruidosas, os ataques de cólera, o desrespeito com as ideias, o saque e o roubo como estruturas de pensamento, e, por que não dizer, o assassinato. É uma era de extremismos, de radicalismos e de absoluta falta de diálogo.

As pessoas adotam crenças, entram para uma tribo qualquer (ideológica, religiosa, ou o que o valha) e começam a disparar golpes – uns contra os outros. Não há qualquer intuito de trocas, seja de ideias ou de experiências. Apenas os dogmas da seita têm valor.

Não se iludam com o comércio internacional, ou com conceitos do tipo “O Mundo é Plano” (Thomas Friedman). Fazer dinheiro – seja no comércio ou no mercado financeiro – não prova a colaboração, nem nega os conflitos culturais. Basta lembrar que a cobrança de juros teve início quando Judeus passaram a cobrá-los dos Cristãos. A razão era simples, a Bíblia proibia a cobrança de juros entre os filhos de Deus, que seriam todos irmãos. Como os Judeus não consideravam os Cristãos como irmãos, não havia proibição.

Peço que entendam o exemplo acima dentro do contesto histórico. Repudio, desde já, qualquer acusação de antissemitismo. Tenho profunda admiração pelo povo judeu e não aceito qualquer disputa quanto a isso. Aliás, Huntington defendia que uma das civilizações ocidentais é a judaico-cristã, em razão da convergência de valores.
Pois bem. Feito o esclarecimento, o exemplo acima demonstra que a discórdia não impede a realização de negócios comerciais. Ou seja, o mercado (interno e externo) não é capaz de evitar os conflitos culturais, pois eles são irrelevantes no processo comercial econômico. Mas, por que nos transformamos nestes intransigentes crônicos? Será que foi o artigo de Huntington em 1993? Não, definitivamente não.

Nesta história cíclica, volta e meia, algum fantasma do passado retorna para nos assombrar. Durante a Guerra Fria, havia uma divisão – correta ou não – entre o bem e o mal. Era a época do conflito EUA vs. URSS. Quando isso acabou, com a Perestroika e a Glasnost, a queda do Muro de Berlin e outros desdobramentos, as pessoas ficaram perdidas e sem referências. Suas bússolas giravam alucinadamente.

A falta de referência permitiu um “vale tudo” enlouquecedor. Um momento como esse é perfeito para os aproveitadores. Se não há mais conflitos Globais, que tal fomentar alguns locais. Afinal de contas, sem conflitos não há dominação, e, sem dominação, qual seria o papel dos fanáticos pelo poder. O pretexto é sempre embalado em uma caixa linda, com um embrulho nobre: neste caso foi a defesa das minorias.

Com esse objetivo, aparentemente legítimo e aceitável, os seres humanos foram sendo segregados por: gênero; cor; opção sexual; religião; a lista é enorme. Os criadores de direitos especiais para cada segmento ganharam poder político. Ninguém percebia, contudo, que eles estavam dividindo para conquistar. Cada qual com seu “curral eleitoral”. O próximo passo, contudo, era mais ousado. Dividida a sociedade, bastava que os famintos pelo poder fizessem acordos velados para garantir a sua conquista.

Enquanto isso, fomos, aos poucos, nos tornando escravos, manipulados como fantoches. A prova disso, a incrível barreira de entrada para pessoas ingressarem na política, é praticamente impossível. Isso ocorre no mundo todo, inclusive no Brasil. Não se trata, portanto, de privilégio perverso de algum povo ou país. A situação se repete mundo afora. Nada, contudo, foi planejado. A oportunidade surgiu, e, quem acompanha os estudos políticos e as tendências, aproveitou a onda. Agora, o que nos resta é mudar esse rumo. Promover o debate de ideias e respeitar opiniões fundamentadas é um bom começo. Mas, para tanto, as pessoas precisam estudar e refletir. De outro modo, continuaremos presos aos famigerados dogmas.

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Leonardo Correa

Leonardo Correa

Advogado e LLM pela University of Pennsylvania, articulista no Instituto Liberal.

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