A comunidade internacional e os protestos na Venezuela

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LUIS EDUARDO BARRUETO
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Venezuela_Marcha_hacia_el_Palacio_de_Justicia_de_MaracaiboEmbora muitas organizações privadas em todo o mundo tenham demonstrado apoio ao povo da Venezuela contra os abusos por parte de seu governo, o silêncio da maioria dos líderes internacionais é ensurdecedor.

Em 12 de fevereiro um protesto pacífico se transformou em um movimento de resistência popular depois que vários estudantes foram mortos durante confrontos com a Guarda Nacional e grupos paramilitares conhecidos como “colectivos“. A violência foi condenada pelos presidentes Juan Manuel Santos, da Colômbia, Sebastián Piñera, do Chile, e Ricardo Martinelli do Panamá, bem como pela presidente eleita do Chile, Michelle Bachelet, e pelo Prêmio Nobel da Paz, Oscar Arias. Mas é preocupante que eles sejam uma minoria em um clima de opinião que condenou a brutalidade do governo de Nicolás Maduro contra o povo da Venezuela nos últimos dias.

O presidente cubano Raúl Castro disse que Maduro “tratou com sabedoria e firmeza esta complexa crise” e que estes acontecimentos “confirmam que onde quer que haja um governo cujos interesses se chocam com os círculos do poder americano e alguns de seus aliados europeus há um alvo imediato de campanhas subversivas”. Os presidentes Evo Morales, da Bolívia, e Rafael Correa, do Equador, entre outros, expressaram sentimentos semelhantes, às vezes defendendo o regime Maduro como democraticamente eleito de acordo com o apoio popular. A presidente Cristina Fernández, da Argentina, disse que a crise não tem a ver apenas com a Venezuela, mas também com “o respeito pela democracia, que é o mesmo que respeitar a vontade popular”.

Essas são palavras fortes, considerando que Maduro foi eleito por uma mera margem de 1,59 por cento sobre o seu adversário, Henrique Capriles Radonsky, quando a oposição registrou cerca de 3.200 irregularidades na votação.

Dois pontos merecem atenção. O primeiro é o de que a democracia consiste em mais do que eleições populares. Mesmo que seja entendida como apoio popular a eleição do ano passado, o abuso constante do direito de divergir dos venezuelanos dá um novo significado à frase de Montesquieu: “Não há tirania mais cruel do que aquela que se perpetua sob o escudo da lei e em nome da justiça”.

O segundo ponto é que a comunidade internacional tem dois pesos ao julgar o abuso de poder dos governos. A vencedora guatemalteca do Prêmio Nobel da Paz e ativista dos direitos indígenas Rigoberta Menchú declarou que “nenhuma violência pode trazer a paz”, insistindo que é necessário descobrir quem está por trás dos protestos venezuelanos e declarando que Maduro não deve estar aberto ao diálogo com seus adversários até que a questão seja resolvida. Esta é uma forma de indicar que, às vezes, a violência é um meio justificado por certos fins. Se isso for levado em consideração, somos levados a julgar se a revolução bolivariana foi um fim que valeu a pena. No entanto, em uma réplica histórica feita por Susan Sontag à versão refinada de Noam Chomsky desta postura, encontramos uma resposta sólida a esse estabelecimento internacional: “Ninguém pode pensar e bater em alguém ao mesmo tempo”.

Se se trata de um governo de direita ou de esquerda, se é adoçada com uma promessa revolucionária do paraíso socialista ou colocada como uma luta contra empresários gananciosos, uma tirania é uma tirania é uma tirania. O silêncio é uma aprovação tanto quanto o apoio total.

* JORNALISTA e membro do Conselho Executivo da Estudiantes por la Libertad. Cursa mestrado em Jornalismo, Mídia e Globalização na Aarhus University (Dinamarca) e é originário da Guatemala.

TRADUÇÃO / ADAPTAÇÃO: LIGIA FILGUEIRAS

Artigo original publicado pela AtlasOne.org: The International Community and the Protests in Venezuela

FONTE DA IMAGEM: WIKIPÉDIA 

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Ligia Filgueiras

Ligia Filgueiras

Jornalista, Bacharel em Publicidade e Propaganda (UFRJ). Colaboradora do IL desde 1991, atuando em fundraising, marketing, edição de newsletters, do primeiro site e primeiros blogs do IL. Tradutora do IL.

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