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Como governo e iniciativa privada se adaptam à alta demanda de saúde em nosso país

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“O número de infectados aumentou consideravelmente nos últimos dias”. “Temos um recorde de mortes em um único dia pela COVID-19 no país”. “Os leitos das UTIs do SUS estão com ocupação em níveis próximos da capacidade máxima aceitável”. Estas são algumas frases frequentemente veiculadas nas mídias neste último ano em nosso país, período em que todo o mundo pôs foco em monitorar e acompanhar esta trágica doença que assusta, paralisa e mata a nossa população. É, de fato, uma pandemia em níveis tais que não vivíamos há muito tempo e de que, muito provavelmente, não nos esqueceremos tão cedo.

Apesar do sofrimento e da tristeza deste momento, permitam-me refletir sob um ponto de vista de mercado, com o único objetivo de questionar e ampliar perspectivas sobre o modelo de saúde que utilizamos em nosso país e como melhorá-lo. O fato de utilizar, para esse propósito, tal doença que representou luto, tristeza e sofrimento para muitos, pode parecer algo grande frieza, mas o objetivo é um só: a busca pela evolução e novas possibilidades para o futuro.

As frases citadas no começo deste texto demonstram claramente um aumento da necessidade por saúde, ou seja, uma maior demanda por tratamentos, consultas, exames e demais serviços de saúde. Estes, por sua vez, são ofertados por duas entidades em nosso país: pelo SUS, Sistema Único de Saúde do Governo Federal, que provê uma boa parte dos serviços de saúde para quem quiser ou precisar sem necessidade de contratação prévia ou pagamento no ato do atendimento, ou pelo mercado, sendo este composto por empresas de iniciativa privada que prestam os diversos serviços de saúde para quem contrata e paga por eles. A ideia do sistema único de saúde é bastante atrativa, principalmente quando se tem uma população muito carente em nosso país, mas o foco neste texto é refletirmos quanto à capacidade de adaptação deste sistema e o quanto ela impacta a disponibilidade de recursos versus a capacidade de um sistema baseado em mercado.

Quando ouvimos dizer que os leitos de UTI estão com ocupação em níveis próximos da capacidade máxima, temos aí uma limitação de recursos e então se inicia um processo de busca por novos estoques para suprir tal demanda. Nesse cenário, a entidade “governo” irá buscar mais recursos financeiros, provenientes originalmente de tributos pagos por toda a população, e para isso inicia-se um processo burocrático que normalmente passa por diversos níveis de aprovação. Já na entidade “mercado”, as iniciativas privadas passam a demandar de fornecedores os recursos de que precisam, que por sua vez passam a produzir mais e passam a puxar toda a cadeia de suprimentos para atender à demanda final pela saúde. Nesses casos ocorrem, em primeiro momento possíveis aumentos nos preços dos serviços.

Neste momento, e avaliando apenas o número de forma global, o governo parece ter vantagem nesse processo, já que, para isso, basta aumentar os tributos ou retirar o dinheiro de determinada área, segurança por exemplo, e destinar para a saúde. Entretanto, avaliando a distribuição da demanda, aí inicia-se um processo de dificuldade nesta entidade. Isso porque a demanda não está concentrada em um único local; ela está disseminada por todo o território e cada cidade ou estado tem sua parcela ou particularidade nestas situações. Dessa forma, passa a se iniciar um processo de concorrência em que apenas uma figura, o governo, centraliza a decisão e a priorização das demandas. É claro que existem vários órgãos e departamentos que cuidam dessas decisões, mas os recursos saem de um lugar só. O desafio aqui é dividir bem este bolo, mas receio que isso não seja simples e que normalmente acabe gerando muitos problemas de desentendimentos e grupos de pressão para defender cada um o seu lado, inclusive com outras áreas, como a segurança citada, que vão defender os seus recursos. A consequência é a lentidão no processo e o forte apelo ao poder e à política para que essa máquina do governo consiga se adaptar à situação de crise.

Já o mercado responde à demanda por um objetivo simples: oportunidade de lucro. É isso que garante a sobrevivência do negócio e das empresas que estão inseridas nele. Dessa forma, ao iniciar a demanda por mais recursos para a saúde, fornecedores percebem essa oportunidade e passam a produzir mais para que consigam vender mais e aumentar seus lucros. Para que os fornecedores produzam mais, toda a cadeia de suprimentos e a demanda pela matéria-prima aumenta de forma natural, puxada simplesmente pela oportunidade que todos têm de aumentar os lucros nesta situação. Veja que aqui o lucro funciona como uma motivação, ou seja, algo que engaja e acelera as iniciativas a atenderem à demanda.

Além disso, o fato de as iniciativas privadas estarem distribuídas ao longo do território, já baseado na demanda original daquelas populações locais, certamente faz com que tenham melhor capacidade de se adaptar e responder, de forma mais assertiva, às necessidades daqueles mercados específicos. Nessa perspectiva, ela já tem um conhecimento prévio sobre a sua localidade, bastando então apenas aumentar e se ajustar para que os seus serviços consigam atender à população.

Olhando para a figura do governo, ele tem a responsabilidade de manter a saúde em bons níveis para evitar revoltas da população e críticas dos grupos políticos opositores. Nesse caso, a motivação também é a sua manutenção, mas, de uma forma reativa, apenas para garantir que uma crise ou grande insatisfação não seja instalada. Não há motivação nesse ponto para prover uma ótima qualidade, o que se faz necessário na iniciativa privada, já que a falta dela pode ser algo que a faça ser vencida pela concorrência, ou seja, por outros prestadores que atendem à mesma demanda.

Vendo as duas perspectivas, percebemos que o que move cada entidade é sua manutenção. Ou seja, o governo precisa atender à população, para que se mantenha no poder e que seu governo seja bem avaliado ou, pelo menos, que não seja mal avaliado. Já as iniciativas privadas precisam do lucro para que sobrevivam e se mantenham vivas no mercado. A diferença é que o governo, apesar de motivado pela manutenção de seu poder, não pode durar por muito tempo. Dessa forma, a sua responsabilidade muda de acordo com o tempo que passa e os poderes mudam de mãos. Além disso, ele vai fazer o mínimo para garantir a sua sustentação e não existe motivação para que exceda este nível de qualidade. Já o mercado e a iniciativa privada certamente precisam fazer o melhor para a saúde e gerar bons resultados, pois há necessidade de sobrevivência e perpetuidade do seu negócio. O lucro, que muitas vezes é visto como algo egoísta e ganancioso, na verdade é a premiação para os empreendedores que prestaram os seus serviços com um nível ótimo de qualidade. Não há um limite de qualidade para esta entidade: ela vai sempre buscar mais e mais, o quão ganancioso e dedicado for o empreendedor. Veja o lado positivo: quanto mais ganancioso o empreendedor, mais ele buscará qualidade e ofertar mais serviços, beneficiando assim a seu negócio e gerando lucros, assim como a população que terá estes bons serviços disponíveis.

Existem muitas questões econômicas e sociais que podem e devem ser discutidas no cenário da saúde, para que mudanças no sistema atual sejam realizadas. Entretanto, avaliando sob a ótica de responder adequadamente às demandas e prover serviços de qualidade, é perceptível que a iniciativa privada baseada na livre concorrência possui vantagens sobre o governo, que é centralizado, lento e sem garantias de boa qualidade. Então, refletindo sobre a questão inicial de como podemos evoluir nosso modelo de saúde para futuras gerações e possíveis novas epidemias, talvez tenhamos que pensar melhor e considerar que o mercado e a iniciativa privada têm ótimas características que podem nos ajudar muito nessas situações. Caso contrário, ficaremos sempre nas mãos de poucos, que não sentem as dores que a população sente e só estão interessados na manutenção do seu poder, fazendo o mínimo possível para isso.

*Rodrigo Lorenzoni é Associado Trainee do Instituto Líderes do Amanhã. 

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