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Como a censura tornou-se algo normal e até desejável

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Em 1988, quando foi promulgada a nossa última constituição, a palavra “censura” era quase um palavrão. De lá para cá, principalmente a partir da primeira década deste século, começou a ser tolerada e até elogiada, desde que usada contra o pensamento politicamente incorreto.

Um grande número de acadêmicos e intelectuais respeitados de repente começou a acreditar que a sociedade tinha o dever de impedir as pessoas de dizerem coisas que eles consideravam ofensivas ou imprecisas. Até mesmo palavras e expressões outrora corriqueiras passaram a ser demonizadas e até criminalizadas.

Os novos censores, sincera ou cinicamente, confundiam suas interpretações (para lá de subjetivas) dos fatos e da realidade com os próprios fatos e realidade. Suas narrativas, não raro filtradas por ideologias, preconceitos e idiossincrasias, transformaram-se, como num passe de mágica, em verdades incontestáveis. Seus achismos e sua visão estreita do mundo passaram a ser evidências do que quisessem que fosse. Dessa forma, interpretações concorrentes dos fatos, da história e até da ciência passaram a ser vendidas ao distinto público como graves desinformações – ou fake news, se preferirem.

Quando a COVID-19 surgiu, a maior parte da classe política e dos gestores públicos estava absolutamente despreparada para exercer uma liderança sensata. O que precisávamos naquela altura era da coleta e da interpretação de informações para a rápida implementação de políticas publicas, mas os dados eram extremamente confusos, mudando de forma a cada dia, sem que houvesse interpretações óbvias. Ninguém entendia a propagação daquele vírus altamente resiliente, mesmo os especialistas que julgavam entendê-lo.

A situação exigia o reconhecimento do risco, a ponderação dos custos em relação aos benefícios e a escolha razoável entre interesses conflitantes; mas o que aconteceu foi um exercício de autodestruição coletiva – no Brasil e em muitos outros lugares do mundo -, com as saudáveis exceções de praxe, como na Suécia e em alguns estados americanos.

Políticos, burocratas e agentes públicos se esquivaram da responsabilidade de fazer escolhas e cederam esta prerrogativa aos especialistas que fingiam ter respostas empiricamente comprovadas para todas as questões. Tudo em nome da ciência, claro.

E eles, contando com uma mídia que vendia catastrofismos diariamente e uma população inerte pelo medo, nos forçaram uma série de políticas – fechamento de negócios, fechamento de escolas, mandatos de máscaras e de vacinas – que conseguiram, na melhor das hipóteses, pequenas desacelerações na propagação da doença, ao custo de uma tremenda destruição econômica e amargura social.  Custo este que continuaremos a pagar por longo tempo.

Mas a COVID também deu aos tiranetes de plantão o ambiente e os pretextos ideais para burlar a lei e tirar a liberdade das pessoas.  Tudo para o próprio bem delas, evidentemente.  Até mesmo leituras enviesadas de filósofos pró-liberdade, como John Stuart Mill e Karl Popper, foram transformadas em sofismas para convencer as pessoas de que a sua liberdade precisava ser tutelada pelos senhores da verdade.

No mundo todo, aqueles que não aceitavam a existência de verdades oficiais foram sendo paulatinamente excluídos do debate, primeiro pelos donos das mídias oficiais, depois pelos donos das mídias sociais e, finalmente, pelos agentes do Estado.

Assim chegamos ao ponto em que a censura (científica, política, ideológica e até cultural) não é mais apenas tolerada, mas abraçada e incentivada pelos iluminados formadores de opinião e por instituições outrora voltadas para a defesa da liberdade de expressão – pelo menos enquanto ela estiver sendo usada contra seus adversários políticos, ideológicos, intelectuais e culturais.

Não sei quando nem como tudo isso vai terminar, mas é certo que ainda teremos tempos sombrios pela frente até que a liberdade finalmente triunfe.

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

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