Chega de incentivo!
Leio nas folhas que o filme brasileiro “O Candidato Honesto”, estrelado por Leandro Hassum, foi o campeão de bilheteria no fim-de-semana de sua estreia, desbancando produções estrangeiras de peso, como “Maze Runner” e “O Protetor”.
Segundo a mesma fonte, o filme arrecadou perto de R$ 5,5 milhões nos três primeiros dias de exibição. Nada mau para uma produção orçada em R$ 6 milhões. Trocando em miúdos, o investimento dos produtores já foi praticamente todo recuperado e, daqui para frente, tudo que vier é lucro, inclusive a venda para a TV, que deverá render uns bons trocados.
Essa bela performance de um filme nacional, a exemplo do que já havia ocorrido com outros campeões de bilheteria tupiniquins, só vem confirmar que películas bem elaboradas e produzidas tendo em vista o gosto do grande público têm grandes chances de se tornarem ótimos investimentos, independentemente de serem feitos aqui ou alhures, de contar ou não com a ajuda de dinheiro público. Quem gosta de cinema não nutre qualquer preconceito contra filmes nacionais. Só não nos peçam para assistir a filmes ruins só porque são brasileiros. Aí, não dá!
Infelizmente, entretanto, o que mais tem por aí é filme brasileiro ruim, produzido não para o gosto do público, mas, muitas vezes, apenas para satisfazer o bolso e o ego de produtores e diretores. O problema é que o Brasil tem uma legislação de “fomento” às produções nacionais que, no lugar de incentivar a produção de obras voltadas para a satisfação do consumidor, incentiva o rent-seeking.
Por um lado, os chamados “investidores”, que na verdade não passam de meros financiadores, contam com 100% ou mais de incentivo fiscal, o que torna o investimento sem risco, independentemente do retorno da bilheteria. Como bem resumiu Marcelo Ikeda, numa ótima análise sobre o tema, as decisões de patrocínio baseiam-se num conceito de marketing cultural, ou ainda, nas escolhas dos diretores de marketing das empresas, voltadas para fatores que não são necessariamente mercadológicos. Como a dedução fiscal do patrocinador é integral, não existe risco para os investidores e o incentivo fiscal – pago, evidentemente, com dinheiro dos contribuintes – passou a ser o fator preponderante na decisão das empresas, em detrimento da expectativa de retorno comercial. Além disso, produtores e diretores bem relacionados têm enorme facilidade para captar recursos junto a empresas públicas. Não por acaso, Petrobras e Eletrobras são, disparado, as maiores patrocinadoras do cinema nacional.
Se para os “investidores” a coisa é muito conveniente, para os produtores não é diferente. Segundo Ikeda, “Como os filmes “se pagavam” simplesmente em seu próprio processo de produção, e não mediante a sua circulação no mercado, a orientação primeira dos produtores foi a sua viabilização financeira: ou seja, é como se, ao invés de serem “orientados para o mercado”, os projetos fossem essencialmente “orientados para a captação”. Ou ainda, mais importante que realizar um filme “que caia no gosto do público”, é montar um projeto “que caia no gosto dos investidores”.
“A primeira consequência desse modelo de captação é o desestímulo à economia de custos de produção, levando ao aumento dos orçamentos. O custo de cada projeto passava a ser definido exclusivamente por sua viabilidade de captação, e não por uma estratégia comercial de recuperação dos custos por ocasião de seu lançamento no mercado.”
Mais recentemente, o governo, cedendo ao fortíssimo lobby dos artistas, introduziu mais um incentivo às produções de baixa qualidade e pouco apelo de público, quando, a exemplo do que já ocorria com as salas de cinema, obrigou as TVs a cabo de todo país a exibir um percentual mínimo de produções brasileiras.
Como bem sabem os bons economistas, se você quiser encarecer e piorar a qualidade de qualquer produto ou serviço, crie reservas de mercado para eles. Não tem erro. Nesse ambiente, temo que campeões de bilheteria, como “O Candidato Honesto”, continuem raros, infelizmente.