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Carta Aberta ao Partido Novo: reflexões para os próximos passos

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Caro Partido Novo,

Os últimos dias devem ter sido de intensas comemorações para vocês, certamente. Em sua primeira participação nacional vocês conseguiram eleger 20 deputados, sendo 8 federais, 11 estaduais e um distrital. Mais: João Amoedo conquistou 2,7 milhões de votos na eleição presidencial, superando nomes de peso, como Henrique Meirelles, Marina Silva e Álvaro Dias. Antes da onda de voto útil que varreu o país nos últimos 10 dias do primeiro turno, ele chegou a ser apontado com 5% nas intenções de voto em algumas pesquisas. Ao que tudo indica, sua votação poderia ter sido ainda mais expressiva.

O que torna tudo mais impressionante é que o resultado foi obtido sem financiamento público, sem tempo de televisão e rádio, sem estrutura partidária, sem apoio de governadores, prefeitos e vereadores – além dos únicos 4 que o Novo elegeu em 2016.

Mais: o Novo conquistou o segundo maior colégio eleitoral do país – Minas Gerais – com Romeu Zema. Será um enorme desafio de governabilidade, haja vista que a Assembleia Estadual contará com 28 partidos diferentes e apenas três deputados estaduais serão do Novo. Assim, será um teste de fogo na execução, mas é inegável que o partido foi um fenômeno no estado.

Sou entusiasta dos valores e ideias de livre mercado do Novo. Comemorei ao ver o resultado nas urnas. É a grande novidade, a nível partidário, da política nacional nos últimos anos. Contudo, para que o fenômeno do partido seja sustentável e ele cresça nas eleições de 2020 e 2022 é preciso amadurecer politicamente – e isso implica desapegar-se de alguns dogmas. Daí o motivo da presente carta.

O primeiro deles é uma descentralização política do partido a fim de permitir um crescimento mais célere. Em vários estados, o Novo não tinha condições de eleger ninguém para o Congresso Nacional, mas proibiu o lançamento de candidaturas competitivas às Assembleias Estaduais. Isso contrasta com a ideia de que diretórios estaduais deveriam ter liberdade de decisão para lançar candidaturas conforme o cenário local. Os candidatos, sabendo que não tinham chances de se eleger, fizeram campanhas mais econômicas e menos competitivas, prejudicando a própria divulgação de ideias do partido.

Além disso, lançar candidaturas para ambos os cargos – deputados federais e estaduais – é estratégico, pois os candidatos para um cargo ajudam a divulgar os do outro.

Por conseguinte, a falta de liberdade dos diretórios locais em lançar candidaturas é um empecilho ao próprio crescimento do partido. A dois anos das eleições, alguém que simpatiza  com as ideias do Novo e que queira lançar-se para vereador em sua cidade não possui qualquer garantia de que poderá candidatar-se. Assim, mesmo que realize um bom trabalho de base no partido, criando um diretório municipal, conseguindo dezenas de filiados e que se realizem diversos eventos em determinada cidade, corre-se o risco de não ser autorizado a concorrer por ordem nacional.

Além disso, o estatuto do Novo impede que seus nomes já eleitos se candidatem a outros cargos, dificultando a ascensão política deles e a substituição por novos nomes do partido e que tinham ficado como suplentes. Assim como a vedação à reeleição, esse ponto gera um desincentivo a novos nomes. Isso não é uma defesa ao carreirismo político, apenas uma forma de maximizar a efetividade de um trabalho a fim de que determinado candidato deixe um legado em menos tempo de vida pública.

Houve uma exceção nestas eleições, com a candidatura a deputado federal do vereador do Rio de Janeiro, Leandro Lyra. A atitude foi reprovada publicamente pelo partido, que tentou impedi-lo de lançar seu nomeEssa falta de liberdade do mandatário transmite uma falta de confiança do partido em relação a eles, ainda que todo candidato do Novo precise passar por processo seletivo e demonstrar seu alinhamento com o partido.

Alguns outros pontos estatutários, como o art. 16, que veda o apoio de filiados do Novo a candidatos de outros partidos, ainda que ideologicamente alinhados e que não concorram com a onda laranja, também podem desestimular o crescimento do partido.  

Os erros macroeconômicos de Dilma Rousseff e a consequente falência do Estado criaram um timming para as ideias do Novo para agora. A mentalidade do Novo, de ser um projeto de longo prazo, é ótima, contudo, é preciso ter em mente que política é timming: o sentimento do eleitorado, atualmente favorável às ideias do Novo, não necessariamente estará presente para o próximo ciclo eleitoral. Algumas mudanças hoje podem ser determinantes para a sustentabilidade do sucesso do partido nos próximos quatro anos.

Pela Liberdade,

Luan Sperandio

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Luan Sperandio

Luan Sperandio

Analista político, colunista de Folha Business. Foi eleito Top Global Leader do Students for Liberty em 2017 e é associado do Instituto Líderes do Amanhã. É ainda Diretor de Operações da Rede Liberdade, Conselheiro da Ranking dos Políticos e Conselheiro Consultivo do Instituto Liberal.

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