Breaking bad (chutando o balde)
CARTA MENSAL DA MP ADVISORS
O título tanto pode se referir ao grande sucesso da TV americana, série encerrada recentemente debaixo de aplausos do público e crítica, como também ao estado das coisas no Brasil. O seriado conta a história de um pacato professor secundário de química, que, ao se descobrir com um câncer de pulmão, resolve virar o jogo e começa a fabricar uma droga, metanfetamina. Acompanha-se, ao longo das cinco temporadas, a lenta e gradual degradação do caráter do personagem principal, Walter White, que deixa um rastro de mortes e destruição. É interessante notar que a maior dificuldade do protagonista na sua carreira no crime foi dar o primeiro passo. O resto foi uma escalada de atrocidades até o ápice final.
No Brasil, vivemos um processo de deterioração dos padrões minimamente aceitáveis de ordem, decência e civilidade. As cenas de destruição e vandalismo contra agências bancárias e lojas já são parte de nossa rotina. A última contagem indicava 430 agências bancárias destruídas pela turba mascarada vestindo preto, autodenominada black blocs. Um instituto científico foi invadido e os cães, usados para teste de medicamentos, foram roubados. A consequência foi a destruição de anos de pesquisa científica. A reitoria da USP continua ocupada por alunos que não concordam com o método de escolha do reitor. Os exemplos são inúmeros, de como a nossa sociedade está ‘breaking bad’ ou chutando o balde.
Se esse apodrecimento geral já afasta o investidor, mais ainda o assusta a maneira com a qual as nossas instituições tem reagido a essa verdadeira invasão bárbara. Algumas decisões controversas da justiça, que trazem insegurança jurídica:
– Negativa de reintegração de posse da reitoria da USP para a instituição, ainda invadida pelos alunos.
– Libertação, no dia seguinte, do casal de marginais que participou dos atos de vandalismo da foto ao lado.
– O STF mandou a Prefeitura do Rio de Janeiro voltar a pagar os professores grevistas, que agora recebem sem trabalhar.
Um investidor mais atento consegue facilmente identificar nestas decisões a falta de respeito à propriedade privada (ou do estado), uma leniência com a selvageria e o estabelecimento do conceito que fazer greve no Brasil é algo muito fácil e cômodo.
Se o ambiente jurídico e o clima nas ruas já não andam bons, o ambiente econômico continua descendo a ladeira, empurrado pelos black blocs governamentais. A última deles foi a renegociação das dívidas de estados e municípios, com intuito eleitoreiro de beneficiar a cidade de São Paulo. Antes, a dívida era corrigida pelo IGP-DI mais uma taxa de juros que ia de 6% até 9% ao ano. Agora as dívidas serão corrigidas por IPCA + 4% ou pela taxa Selic, o que for menor. Ou seja, é como se os estados e municípios estivessem captando dinheiro a uma taxa menor (ou igual) do que a própria República. As contas fiscais, que já não iam bem das pernas, irão sofrer essa pressão adicional apenas para que governo de Fernando Haddad seja ajudado. Convém lembrar que em 2002 a dívida de São Paulo era de apenas R$ 10 bilhões e se a Prefeita Marta Suplicy (que tinha o atual prefeito em sua equipe) tivesse optado por amortizar R$ 3 bilhões, o indexador teria sido IGP-DI + 6% não os atuais +9%. Essa decisão política (ela tinha o dinheiro em caixa) causou um prejuízo de R$ 17 bilhões aos moradores da cidade. É o PT consertando uma lambança com outra lambança.
O atual governo só enxerga uma maneira de fazer as coisas: mais e mais gastos, de preferência tributando a população de maior renda. O atual alcaide de São Paulo, num ato populista, resolveu não aumentar as tarifas de ônibus. Naturalmente, isso tem um custo e adivinhem quem pagará? Os moradores dos bairros centrais, com aumento de IPTU que pode chegar a 75% em quatro anos. A exemplo do que ocorre na França, o que acontece quando os verdadeiros criadores de riqueza e de produção são taxados de forma espoliativa? Eles simplesmente vão embora. Tudo tem limite. Naturalmente essas farras fiscais já não enganam mais ninguém e esse mês o Brasil foi advertido (ao mesmo tempo) por dois organismos internacionais, o FMI e a OCDE. Desde 2010 a dívida bruta do setor público subiu de 61% para 66% do PIB. 2014, ano de eleições, deve ser pior ainda.
Outro exemplo da estratégia de vender o almoço para comprar o jantar foi a licitação do campo de Libra, amplamente divulgada na imprensa. O modelo de partilha adotado pelo governo de fato maximizou os ganhos de curto prazo do governo, que vai ter um reforço de R$ 15 bilhões no seu caixa, porém o que é bom para o governo automaticamente não é bom para a Petrobrás. Digamos que o leilão tivesse sido realmente um leilão, com competição entre as partes. Digamos que o vencedor tivesse feito um lance ousado, oferecendo 60% do lucro e não os 42% do lance mínimo. A Petrobrás, com participação compulsória de 30% em qualquer consórcio, teria sido obrigada a aceitar um projeto com taxa de retorno duvidoso. Nada contra se o seu capital fosse 100% do estado, mas não é. É o acionista minoritário dando boa vida para o estado. Paira no ar a dúvida de como a Petrobrás irá conseguir financiar 40% de um investimento estimado em USD 250 bilhões, se nem ao menos consegue aumentar os seus preços.
E quando olhamos para o consórcio único que levou, fica a dúvida do quão mais caro o projeto sairá para atender as exigências de ‘conteúdo nacional’. Outra jabuticaba desse modelo é a estatal recém-criada, a PPSA, que mesmo sem ter colocado um centavo no projeto, terá poder de veto nas decisões operacionais e poderá decidir e arbitrar sobre custos e investimentos. Vai ser um casamento com a sogra dentro de casa e com poder de veto nas decisões do casal. Tenho sérias dúvidas se, com tantos empecilhos, o projeto conseguirá sair do papel no tempo e no custo adequados. E quando se olha a curva de preços do petróleo futuro, percebe-se que ela é declinante, já contando com a entrada maciça do gás de xisto americano na matriz energética mundial. Não é sem motivo que com tantos ‘senões‘, as grandes empresas americanas, canadenses e inglesas ficaram de fora.
É nesse ambiente de putrefação lenta e gradual de valores e instituições, que o investidor tem que defender (sim, defender!) a sua suada poupança.
Na renda fixa, o Banco Central aumentou a taxa de juros básica para 9,50%. A inflação já dá sinais de aceleração para os últimos meses do ano, e é interessante notar que algumas medidas técnicas (que indicam a persistência e a resistência do processo inflacionário) como o núcleo de inflação e o índice de difusão apontam para mais e não para menos inflação. O mercado refez as contas e já estima que os juros terminarão 2013 em 10,00% ao ano. Será que o BC continuará a subir juros num ano que promete uma eleição disputada? Com isso os papéis pré-fixados ainda oferecem pouco prêmio e o mais indicado é ficar nos títulos pós-fixados.
A alocação em bolsa brasileira continua baixa. Afinal, o atual patamar de preços pode ser muito caro, ou muito barato, de acordo com a agenda de quem ganhar a presidência em 2014. A visibilidade é baixa ainda. Na categoria de multimercados continuamos também sem muito ânimo. De nossa seleção (dos melhores gestores) apenas 30% conseguem superar o CDI em 2013. Mesmo com a intervenção do governo no mercado cambial, achamos que o atual patamar de 2,18-2,20 é atrativo para investidores de longo prazo e que busquem ativos não correlacionados com a economia brasileira.
Para 2014 vemos maiores chances de ganho com ativos ligados às economias europeia e americana, que se encontram em processo de recuperação. Em resumo, mantenha-se líquido e diversificado regionalmente.