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Brasil, Um País Trotskista?

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Por Gil Cordeiro Dias Ferreira*
Tem feito muito sucesso, no Brasil e no mundo, o livro “O homem que amava os cachorros”, do cubano Leonardo Padura Fuentes – um “tijolaço” de 600 páginas (sim, claro que o li) que aborda o assassinato de Leon Trotsky – fenômeno editorial que parece ter trazido de volta ao proscênio político uma ideologia que andava um tanto esquecida: o trotskismo.

Para os que chegaram agora: Liev Davidovich Bronstein – Leon Trotsky – lutou ao lado de Vladimir Ilich Ulianov – Lênin – na Revolução Russa de 1917; foi o consolidador do Exército Vermelho e co-fundador da III Internacional Comunista, em 1919, com Lênin, de quem deveria ter sido o sucessor em 1924, quando de sua morte. Mas as manobras políticas levaram ao poder Josip Vissarionovich Djougachvilii – Stalin – que comandaria a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) até morrer, em 1953. Trotsky foi perseguido e exilou-se em Coyoacán, no México, num bunker, dentro do qual veio a ser assassinado, em 1940, certamente a mando de Stalin, por Jaime Ramón Mercader del Rio Hernandéz – um espanhol catalão recrutado pelo serviço secreto russo para esse fim. Todavia, em 1938, fundou, em Paris, a IV Internacional, que tem como “bíblia” seu mais conhecido texto – o “Programa de Transição” – e, naturalmente, opunha-se à III Internacional “stalinista”.

Quando da defenestração de Trotsky, em 1924, os Partidos Comunistas de todo o mundo – “seções da III Internacional” – sofreram cisões; o líder criou as chamadas “Oposições de Esquerda”, congregando seus seguidores, que se desfiliaram das agremiações “stalinistas” vinculadas à URSS e criaram outras, “trotskistas”.

Após a morte de Trotsky, a luta por sua sucessão foi grande. Inicialmente a IV Internacional foi conduzida pelo grego Michel Raptis, ou “Pablo”, mas logo a seguir começou a cindir-se em diferentes centros irradiadores, aos quais os seguidores de Trotsky foram se filiando da maneira mais variada, num grande número de países.

No Brasil, além dos grupos trotskistas já existentes desde os anos 20, outros surgiram, particularmente a partir de 1979, após a Anistia, filiados aos diferentes centros então existentes. Todos eles, inicialmente, se encastelaram no Partido dos Trabalhadores (PT). Anos depois, alguns se legalizaram, e outros permanecem até hoje como “tendências”, ainda dentro do PT.

Legalizaram-se: a Convergência Socialista, ou “Alicerce”, hoje PSTU – Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado; a Organização Quarto-Internacionalista, ou “Causa Operária”, hoje PCO – Partido da Causa Operária; e um grupo dissidente da Democracia Socialista, que fundou o PSOL – Partido Socialismo e Liberdade.

Continuam no PT: a OSI – Organização Socialista Internacionalista, também conhecida como “grupo do Jornal O Trabalho”; o restante da Democracia Socialista, ou “grupo do Jornal Em Tempo”; e possivelmente os antigos “posadistas” do PORT – Partido Operário Revolucionário Trotskista, surgidos ainda nos anos 50, atualmente denominados LER – Liga Estratégia Revolucionária, ou “grupo do jornal Palavra Operária”.

Observe-se que até hoje o trotskismo ainda não assumiu o poder em um país específico, como ocorreu com o comunismo soviético e o chinês, dentre outros. Entretanto, ele parece estar tomando um grande vulto no Brasil, de maneira sub-reptícia, por duas vertentes:

– o domínio político que o PT vem exercendo há 12 anos: conquanto essa agremiação não seja exatamente trotskista, sua ideologia esquerdista reveste cada vez mais as diretrizes partidárias de princípios comunistas, dentre os quais vários trotskistas, emanados de seus principais ideólogos, como, por exemplo, o “Internacionalismo Proletário” (claramente defendido no Programa do PSOL, basta acessar seu site e conferir…), caracterizado pela iniciativa petista de fundar o Foro de São Paulo, espécie de “União das Repúblicas Socialistas da América Latina – URSAL”, e manter laços cada vez mais estreitos com Cuba e outras nações já dominadas pelo chamado “bolivarianismo”; e

– o avanço trotskista neste primeiro turno do pleito de 2014: expressiva foi a votação do PSOL, com toda certeza por força da sedução que seu discurso exerceu sobre um grande número de inocentes úteis, que não fazem a menor ideia do que venha a ser o trotskismo.

Cabe, naturalmente, ressaltar que não há qualquer ilegalidade, no Brasil, em professar o trotskismo ou quaisquer outras ideologias de esquerda. Portanto, não estou aqui imputando ações ilegais a quem quer que seja, mas tão somente debatendo ideias.

Prosseguindo, confiramos:
– dos onze candidatos à Presidência da República, apenas três (os “grandes”), efetivamente, tinham chances de chegar ao topo da disputa; em quarto lugar ficou a candidata do PSOL, Luciana Genro, que conquistou essa posição em dezoito Unidades da Federação, tendo caído para quinto nas outras nove, abaixo apenas do Pastor Everaldo, do PSC, por diferenças mínimas; e mais – os oito “pequenos” candidatos obtiveram, juntos, 3,55% dos votos para Presidente; destes, Luciana conquistou 1.612.186 (1,55% do total geral), ou 44% do total desse subgrupo. Sem dúvida, um desempenho impressionante, no âmbito dos “pequenos”, e que possivelmente tenderá a aumentar a cada nova eleição;

– para Deputado Federal, o PSOL conquistou cinco cadeiras: no RJ, Chico Alencar, Jean Willys e Cabo Daciolo; no Pará, Edmilson Rodrigues; e em SP, Ivan Valente; Chico e Jean obtiveram expressivas votações e foram, respectivamente, o 4º e o 7º colocados dentre os quarenta e seis que integrarão a bancada do RJ;

– O PSOL não elegeu Senadores (Heloísa Helena não voltará ao Congresso tão cedo); já Deputados Estaduais foram 13 em todo o Brasil, sendo três no RJ, dos quais Marcelo Freixo obteve a primeira colocação dentre os setenta novos integrantes da ALERJ; e

– dentre os candidatos ao Governo Estadual do RJ, quatro eram “grandes” (Pezão, Crivella, Garotinho e Lindberg); e foi Tarcísio Motta, do PSOL, que chegou em quinto, bem acima dos outros “pequenos”, com praticamente 9% dos votos, apenas um ponto abaixo de Lindberg.

É lícito supor que, em 2016, nas eleições para Prefeituras e Câmaras Municipais, o PSOL, embalado por esses resultados, cresça ainda mais, principalmente pelos votos dos jovens, que parecem constituir a parte mais significativa de seu eleitorado.

Espero, todavia, que, ao longo dos dois anos que nos separam do próximo pleito, boa parte desses jovens dediquem um pouco de seu tempo à leitura do livro de Leonardo Padura mencionado ao início deste texto. Será um ótimo caminho para entenderem melhor o que é o trotskismo, e – parodiando uma das mais antigas e eloquentes propagandas antitabagistas – apagarem de vez essa ideia!

(*) Gil Cordeiro Dias Ferreira é leitor do blog do IL

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

Um comentário em “Brasil, Um País Trotskista?

  • Avatar
    15/10/2014 em 6:21 pm
    Permalink

    eles infelizmente nao param de crescer no RJ

Fechado para comentários.

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