Bolsonaro apostou tudo – e quer saber, eu não o condeno!

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O discurso de Bolsonaro foi ousadíssimo em todos os sentidos. Ele se apoiou em uma vertente de otimismo e visão de que a pandemia não é tão grave quanto se desenhava pelos infectologistas, órgãos oficiais e mídias.

Tal vertente é seguida hoje por países como Estados Unidos, Holanda, Hungria, entre outros. Além disso, no discurso à nação, Bolsonaro mais uma vez mostrou como é assustadoramente incompetente no ato de se comunicar, e ainda que fale sobre algo relativamente correto e sensato, sob sua fala tudo soa um tanto quanto mais imprudente e bobo do que deveria; talvez nunca antes tivemos alguém tão tenebroso e desqualificado para se expressar― tirando a Dilma, aquela era insuperável. Parece-nos que o Presidente está eternamente num bate-boca de boteco. Profundamente lamentável para um chefe de Estado!

No entanto, como analista político, devo ir além dos defeitos óbvios do discurso ou do emissor para entender a ideia que permeia o discurso. Há uma questão séria na escolha governamental de Bolsonaro evidenciada no pronunciamento, e essa tal questão não pode ser sublimada atrás de um histerismo generalizado, ressentimentos jornalísticos ou vadiagens ideológicas; o pano de fundo merece ser justamente analisado.

Como adiantado acima, Bolsonaro escolheu um tom otimista frente à pandemia do Coronavírus e fez um pedido para que os estados voltem à normalidade, ainda que tenha pedido expressamente para protegerem os idosos. Bolsonaro, ao discursar dessa forma, apostou tudo, pois se os estados acatarem o pedido feito no pronunciamento, e os casos do COVID-19 aumentarem de forma alarmante e mortal, isso será praticamente o prego em seu caixão presidencial.

Pessoalmente me abstive em opinar sobre o assunto do vírus chinês, pois simplesmente não tenho capacidade intelectual para falar com assertividade sobre o tema de prevenção sanitária. Mas sobre política e análise da conjuntura social eu creio que tenha tal capacidade que anteriormente me faltou – e fato é que a mídia estava criando um clima gigantesco de pânico e terror, tem gente que está pensando que o apocalipse bíblico já começou, vídeos de pessoas estocando alimentos ou brigando em supermercados já se tornaram corriqueiros. O pânico social é o início mesmo de qualquer queda abrupta de sociedades, e quedas abruptas de sociedades significam morticínios, desgraças e toda sorte de imoralidades e cerceamento de liberdades.

O que mais vejo são análise afoitas. Quantas pessoas pararam de fato para evidenciar o caos social que viria após três meses de quarentena e incontáveis empresas paralisadas? Quantas empresas conseguiriam sobreviver a isso? Sejamos sinceros independentemente do que achemos do Presidente. Após o caos pandêmico passar, quando mais da metade da população tiver sido infectada e se tornar imune, ou uma vacina tiver sido inventada, o que faremos com os 40 milhões de desempregados? Daremos Bolsa-família a eles? O desemprego em massa gera fome, miséria, que por sua via gera desespero, crimes, insegurança, falta de investimento, estagnação econômica, mortes e outros problemas sociais. Qual a solução para além da histeria condenatória? Essa é uma das questões a que parece que os críticos de sofás não querem dar uma resposta.

Falem-me uma coisa: vocês gostam de seus empregos, ou ao menos de ter salários? Pois bem, se os trabalhadores ficarem mais de um mês em suas casas, isso praticamente falirá quase toda e qualquer pequena ou média empresa. Quantos micro-empresários brasileiros têm fundos para sustentar 10 funcionários que não produzem durante 3 meses, por exemplo? Façam o seguinte: abram uma empresa, contratem apenas 5 funcionários, aluguem um imóvel, paguem água, luz, encargos, segurança, etc. Após isso mandem os funcionários para as suas respectivas casas e os sustentem durante 2 meses apenas, ainda que não estejam produzindo. Somente após isso eu começarei a considerar opiniões que ignoram tal fator.

Mas como faremos com os nossos velhos, Pedro? Devem estar se questionando. Eu não sei; nem sempre as respostas são matemáticas. E como sou um conservador confesso, não temo desfraldar minhas limitações. Eu não tenho uma resposta que cobrirá todos os problemas sociais. Se querem uma resposta política para sanar todas as aporias humanísticas, deveriam procurar antes os mentirosos. Devemos ter humildade em situações caóticas; assumir que não há escolha fácil ou opção que agradará a todos neste momento pode não ser a resposta esperada, mas é a que temos.

Bolsonaro parece ter apenas dois caminhos nesse momento: + cuidados sanitários = – empregos; ou + empregos = – menos cuidados sanitários. Não há, até o agora, uma terceira viaPodemos discordar da escolha do chefe de Estado, é lícito que critiquemos o modus operandi presidencial; mas não podemos condená-lo por tomar uma posição diante de um caos que se impõe. Em seu lugar nós também teríamos que escolher um lado.

O fato é que sabe-se que o contágio em massa indubitavelmente passará; muitas pessoas serão infectadas e outras tantas morrerão independente do que o Estado faça. Isso é certo e observável! O Brasil, por sua via, é um país de poucas reservas econômicas,  e gerar um panorama de desemprego em massa é uma forma de recuar décadas no tempo, criar miséria como nós nunca antes vivemos. Cabe agora lembrar de Mises e rezar sob a cartilha de que o Estado não gera riquezas, que dinheiro não nasce em árvores e nem sai espontaneamente de impressoras. Então, na minha opinião, faz bem o Presidente em amenizar a opinião pública alarmista.

Por fim, afastem-se dos comentários chucros de redes sociais e de jornalismos ideológicos; analisar com a bílis não é o adequado. Sensatez é a palavra de ordem; e ainda que pareça idiotice, geralmente são os capacitados que pedem calma diante de uma calamidade, o puro desespero ao sair de um prédio em chamas pode acabar deixando muitos carbonizados. O ponto fulcral é o seguinte: até que ponto Bolsonaro deve amenizar o medo popular e o alarmismo midiático? Ele usou em seu discurso o termo “voltar à normalidade”. Será? Com que rapidez? Essas perguntas são as que o colocarão na fossa política ou no Olimpo da história nacional; será lembrado como um dos maiores estadistas brasileiros, ou como um palhaço com a faixa verde e amarela no peito; o homem que matou parcela de seu povo ou o que salvou o ganha pão de milhões. A resposta somente o tempo dará!

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Pedro Henrique Alves

Pedro Henrique Alves

Filósofo, colunista do Instituto Liberal, ensaísta do Jornal Gazeta do Povo e editor na LVM Editora.

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