Bizarrice na FSP
JOÃO LUIZ MAUAD*
Leio na Folha de São Paulo de hoje um artigo assinado pelo economista Marcelo Miterhof, do BNDES. O referido artigo é tão repleto de sofismas e meias verdades que não dá para não comentá-lo, ainda que brevemente.
Já no título, o autor diz a que veio. Numa tentativa tosca de invalidar as leis econômicas que vigoram há séculos, o economista do BNDES resolveu questionar se a economia é uma ciência. Para responder, ele começa comparando a ciência econômica com as ciências naturais, que chama de “ciências duras”. Ora, nenhum economista jamais disse que a economia é equiparada a uma ciência natural. Ela está corretamente listada entre as ciências sociais, vale dizer, sujeita às subjetividades e idiossincrasias do ser humano.
Lá pelas tantas, escreve o bravo economista:
“O problema de caracterizar a economia como uma ciência dura é menos por sua conhecida capacidade de fazer previsões ruins. Isso poderia significar somente que seu estágio de desenvolvimento é inicial.”
“Mais relevante, a economia tem uma face prescritiva inexistente na física, indicando ao governo como agir. Comparação melhor é com a engenharia, que prescreve métodos de construção ou fabricação.”
Em primeiro lugar, a economia não serve para fazer previsões. Ela é uma ferramenta analítica, que serve não somente aos governos, como principalmente aos indivíduos, em sua busca constante por progredir e melhorar seu bem estar. As previsões são um aspecto secundário. Em segundo lugar, quem disse que a física não serve para fazer previsões. Será que ele, conhecendo a lei da gravidade, pularia de um prédio de 10 andares, sabendo de antemão, graças às previsões oriundas da física, o que lhe aguardaria trinta metros abaixo?
Ao tentar invalidar as prescrições da boa economia sobre inflação e rigor fiscal, o valente escreve aquela que talvez seja a maior bobagem do texto. Vamos a ela, in verbis:
“Por exemplo, uma grande preocupação com a inflação e o rigor fiscal atende à crença de que esses seriam requisitos da confiança dos investidores. No entanto, é também um jeito de fazer com que o principal interesse dos mais pobres (ganhar mais) seja deslocado para o longo prazo, enquanto é imediata a busca de inflação baixa, que preserva a riqueza de quem já tem renda alta.”
Como é que é? A inflação beneficia o pobre e prejudica os ricos? Ora, qualquer calouro em economia sabe que a inflação prejudica muito mais os mais pobres, que não têm as ferramentas adequadas de defesa, como acesso ao mercado financeiro e de capitais, do que os ricos, que dispões dessas ferramentas. Basta olhar os gráficos de aumento da renda média do brasileiro, antes e depois do Plano Real, para constatar isso.
Como todo bom heterodoxo, o autor defende a emissão de moeda sem lastro como “uma novidade decisiva para o sistema econômico, que fez a demanda –por produtos, inovações e investimentos– passar a ser o motor principal do desenvolvimento produtivo, livrando a humanidade de ter que previamente acumular excedentes (poupança)”. Como era de se esperar, nosso economista que a lei da escassez é uma invenção ou que existe almoço grátis.
Finalmente, o valente chama, ainda que indiretamente, de ideológicos aqueles que acreditam em leis econômicas universais – como a lei da escassez e da oferta e demanda, por exemplo – e rechaçam certas ideias absurdas de que ele parece gostar tanto. Como bom aprendiz de Lênin, o autor acusa os outros justamente daquilo que ele é.