fbpx

“Biografia impecável” e moral revolucionária

Print Friendly, PDF & Email

lixo-debaixo-do-tapeteJosé Eugênio Soares é um comunicador e humorista com história e talento em emissoras diferentes. Não estou entre aqueles que não reconhecem nele nenhum valor. No entanto, o velho Jô vem se portando de forma vergonhosa em seu programa, fazendo declarações no mínimo espantosas a favor do PT. Não estou acostumado com essa sua postura, nem creio seja conveniente se acostumar com o erro. Depois de afirmar que Dilma pode não saber do que se passou na Petrobras, Jô disse que, “antes de ser prejulgado pela mídia”, ninguém menos que José Dirceu possuía uma “biografia impecável”.

O comunista que fez cirurgia plástica para não ser reconhecido, que tinha ligações notórias com os cubanos e sua ditadura longeva, por isso mesmo já não passaria perto de ter algo a que se pudesse taxar de “biografia impecável”. Sobre os julgamentos do mensalão, devemos sempre nos lembrar de que estamos, e já estávamos, em um país sob o comando do PT. Não no nível em que se encontra agora, mas já. O PT comanda as naus, o PT dirige o barco. Que espécie de “julgamento político e ditatorial” se realiza debaixo do governo ao qual estavam associados os condenados? Estivéssemos nós no regime militar julgando comunistas, em um governo flamenguista julgando criminosos tricolores, sob o domínio dos Capuletos em um julgamento de meliantes Montéquios, e esses delírios fariam algum sentido. De outro modo, o que há é tão-somente o transcurso de um processo legal – o que já não ocorre, por exemplo, com a decisão do Congresso em alterar a Lei de Diretrizes Orçamentárias aos 45 do segundo tempo, premiando a irresponsabilidade de Dilma Rousseff. Aí sim temos uma decisão convenientemente “política”. Militantes empedernidos e que preferem se manter cegos aos escândalos vastamente evidenciados podem mergulhar nessa esparrela; Jô Soares não deveria se dar a esse pérfido luxo.

O que Jô está fazendo, sabe-se lá com que intenção, é resgatar o velho discurso, que nos perturba a sanidade desde os idos do governo Lula, de que a imprensa “capitalista neo-liberal conservadora” execrou os nobres heróis petistas e os hostilizou sem nenhuma prova, e o ex-ministro Joaquim Barbosa seria uma espécie de “carniceiro” que julgou de acordo com seu ódio político. Esquecem, por conveniência, que Barbosa era eleitor do partido – o que considero uma mancha, mas, ao contrário de muitos, não escolhi o ex-ministro para herói. Vejo nele apenas um profissional que se dignou a cumprir seu papel e, ao final, demonstrou indignação com o que observava ocorrer, alegando que uma “maioria de circunstância” teria “todo o tempo a seu favor” no STF para promover os interesses em que está apoiada. Com as indicações ao Supremo que o PT poderá fazer, os riscos somente se ampliam, e a necessidade de vigilância constante como preço da liberdade, como já dizia Thomas Jefferson, apenas aumenta.

A atribuição do rótulo de “biografia impecável” à trajetória vermelha de Dirceu, associada ao gesto do braço erguido de “mensaleiros” como José Genoíno ao serem conduzidos ao cumprimento de suas penas, é um apelo desesperado ao romantismo ingênuo das belas histórias de guerreiros da justiça social, de bons senhores que coloriram suas vidas de amor no coração e suor pelo bem do povo. Sob esse adorno flácido, vale tudo. Roubar, comprar parlamentares, chantagear, no caso do PT. Matar, executar, no caso de “heróis” dos idiotas, como Ernesto Che Guevara ou Mao Tse Tung. Talvez o PT também, se nos lembrarmos do caso Celso Daniel, mas essa é outra história…

Só existe uma forma de limpar o nome de figuras como José Dirceu e de genocidas como os acima mencionados. É dar crédito às teorias de León Trotsky acerca da moral. Fazendo isso, fica fácil: todos os conceitos de certo e de errado se relativizam, subordinados a um imperativo único: o que se faz é benéfico à revolução? É benéfico ao “novo mundo paradisíaco” que você e o seu time de “revolucionários” sabem como construir melhor do que qualquer um e precisam fazer isso de qualquer maneira? Se for ajudar nesses intentos, então é correto, é impecável.

Trotsky resume: “Numa sociedade baseada na exploração, a moral suprema é a da revolução socialista. Bons são os métodos que elevam a consciência de classe dos operários, a confiança em suas forças e seu espírito de sacrifício na luta”. Ou seja, é bom tudo aquilo que alimenta os delírios reformadores, ruim tudo aquilo que chama à razão e à realidade.

Em seu site, a corrente “O Trabalho”, tendência interna do PT, em artigo intitulado “Nossa moral e a deles”, de 15 de abril de 2013, reforça essa visão, ao dizer que “as questões da moral revolucionária confundem-se com as questões da estratégia e tática revolucionárias” e “somente a experiência viva do movimento, iluminada pela teoria, pode dar a resposta certa a esses problemas”. Caberia ao “movimento, isto é, aos militantes e filiados do PT, julgarem os erros e acertos dos dirigentes”. Em outras palavras: aos revolucionários, aos esquerdistas, cabe o poder decisório sobre o bem e o mal, de acordo com suas intenções. Se assim for, então podemos dar razão a Jô Soares e julgar Dirceu moralmente impecável, caso tudo que fez tenha sido a favor da “causa”. Poderíamos julgar o mensalão algo moralmente impecável, posto que feito para ajudar o PT na sua incansável busca pela “justiça social”.

Felizmente, à diferença dos petistas, acreditamos em valores maiores e substanciais e não nos vemos como os salvadores da humanidade. Nossa biografia não é impecável, mas certamente – ao menos falo por mim – prefiro que ela jamais o seja. Ter uma “biografia impecável”, no mesmo sentido com que a de José Dirceu o é, vai contra meus princípios.

Faça uma doação para o Instituto Liberal. Realize um PIX com o valor que desejar. Você poderá copiar a chave PIX ou escanear o QR Code abaixo:

Copie a chave PIX do IL:

28.014.876/0001-06

Escaneie o QR Code abaixo:

Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

3 comentários em ““Biografia impecável” e moral revolucionária

  • Avatar
    19/12/2014 em 1:48 pm
    Permalink

    Ah!
    ia esquecendo: outra coisa extremamente importante nessa luta luta é derrubar a mitologia ideológica.
    Seguidores de ideologias se firmam na moral ideologica ao sentirem-se representados por seus ídolos tanto quanto unidos pelos “objetivos supremos e redentores” que, como componentes morais, são MITOS AGREGANTES.

    Não é por acaso que ideologias carecem de “totens”, imagens, ídolos mentores, cores, bandeiras e toda sorte de simbolismos representativos. Afinal, negando a própria consciência o indivíduo perde-se de si mesmo e precisa então desesperadamente se agarrar a estas representações “mistico-mitológicas” para suportar-se afastado de sua própria consciência.

    Ou seja, derrubar a aura destes mitos, ídolos messiânicos, mentores e celebridades representativas é fundamental para provocar os conflitos na consciência dos indivíduos capturados por uma ideologia. Vendo sua representatividade abalada naquilo que de bomk se afirma é um golpe mortal nos adeptos ansiosos por se “representarem” em algo pretensamente grandioso e maior que suas próprias personalidades individuais. O coletivismo atrai exatamente por isso.

    Não é por acaso que agentes envolvidos, por oficio, em difusão de ideologias ou formação de opinião (digo manipulação) tenham PROFUNDA ATRAÇÃO pela DIVULGAÇÃO de PREMIAÇÕES PRETENSAMENTE ENOBRECEDORAS.
    Estas premiações visam impor uma pretensa realidade através da ostentação alegórica.
    Preste-se atenção na quantidade de EVENTOS PREMIATIVOS e “engrandecedores” para aqueles indivíduos envolvidos na difusão e manipulação de opinião.

    São inúmeros prêmios simbólicos e efetivos; medalhas, comendas, troféus e lá os escambau. Precisam desta ostentação de aparente verdade reconhecida em suas personalidades tanto quanto precisam exibir tais “GLÓRIAS” e honrarias (Vide Schopenhauer) como líderes, mentores ou meras celebridades associadas à comunidade um tanto por eles representada. Assim, os membros da comunidade podem valerem-se das “gloriosas” representações. …pif!!!

    Perceba-se o quanto um fanático mais se irrita e atormenta com a desmoralização de seus ídolos do que com a própria. Afinal tais “representações” ou símbolos da comunidade são construções onde muito trabalho e falsificações foram gastos. Os cultos à personalidades simbólicas não são algo casual, é coisa muito bem planejada desde que percebida a força que possui.

    • Avatar
      24/12/2014 em 2:16 pm
      Permalink

      Caro Bruno.
      Acompanho o blog diariamente e sempre me depao e leio na íntegra suas colocações. Seus comentários são tão bons quanto o próprio texto.
      Já deveria ganhar um espaço por aqui (rs).

      Abraço.

  • Avatar
    19/12/2014 em 1:18 pm
    Permalink

    Impecável:
    “Ter uma “biografia impecável”, no mesmo sentido com que a de José Dirceu o é, vai contra meus princípios.”

    Aliás, lembrar de José Dirceu nestes tempos de incontáveis escandalos de corrupção é algo salutar ao extremo. Pois tal impecável militante da servidão ao governo (o socialismo nada é senão isso) viveu no brasil algo em torno de uma decada sob IDENTIDADE FALSA. Tal proeza se deu sob a tal dita dura. Como diz a boa filosofia (amor ao conhecimento) a dúvida é o primeiro passo para se aproximar da verdade. Da mesma forma, eu interpreto, Nietzsche criticava as convicções e não o conhecimento. Afinal, quem tem apenas convicções e nelas se fundamenta esta decidido a não analisar coisa alguma que possa abala-las.

    Ora, eu não tenho qualquer convicção sobre os corruptos do mensalão, etc., etc., etc. e petrolão bem como aqueles escandalos de corrupção que possam surgir ou permanerem ocultos de que estes usam unicamente suas identidades primitivas.
    É bastante comum, até para bandidinhos, usarem identidades falsas e conseguirem até abrir contas em bancos, bem como fazem emprestimos consignados através de tal fraude que acaba descoberta por existir o dono original destas identidades.
    Ou seja, é não só possível como provável que existam inúmeros “personagens fantasmas” para encobrir os verdadeiros donos de inúmeras destas identidades. Afinal, se um dos detentores de uma “biografia impecável” conseguiu viver no brasil sob uma identidade falsa no periodo da tal dita dura militar a qual se opounha, que podemos pensar atualmente sobre duvidas quanto o destino dos bilhões roubados em incontáveis escandalos decorrentes da socialização de recursos estatais dentre os companheiros e camaradas???

    A cara de pau destes seres repulsivos que se intitulam marxistas, comunistas ou socialistas só é possível pelo fato de, exatamente, exercitarem essa moral dupla. Nenhum indivíduo consegue suportar o peso de sua própria consciência sem o apoio comunitário, sem um apoio externos que possa servir-lhe de argumento contra a sua própria consciência, esta que não pode ser enganada mediante sua apresentação ao erro. Não por acaso todas as ideologias têm propensão para a censura tanto quanto para a histeria como argumento. Exatamente por esta razão as ideologias tendem a enaltecer o “JULGAR com o CORAÇÃO” ou mesmo o “não julgar” em franco apelo à emoção contra a razão.

    Carl Jung sentenciou algo a vista de todos, mas pouco analisado. Ele verbalizou que o indivíduo apoiado num grupo é capaz de fazer coisas que não conseguiria fazer caso estivesse sozinho. Ou seja, as atrocidades de o indivíduo é capaz de praticar são facilmente praticadas quando este sente-se MANIFESTAMENTE apoiado pela comunidade que integra. Trotsky apenas reforçou, manifestando-se, que o que vale mesmo é o apoio dentro de seu grupo e que se danem os demais com quem não interessa viver em comunidade.
    Esta é a razão de haver muitas morais e sobretudo morais que defendem a própria duplicidade, como a de Trotsky e seus simpatizantes. Não é tão estranho perceber que quanto mais perverso é um indivíduo em favor de seu grupo, maior é seu prestigio como líder dentro deste grupo, maior a admiração que seus companheiros lhe dedicam, afinal o grau de perversidade do líder torna os seguidores mais confortados em suas consciências, até mesmo por forjarem-se meros seguidores sem total responsabilidade por seus atos.

    Eis porque o apelo moral, o jogar na cara destes repulsivos seres é algo salutar. Isso polde provocar-lhes “GPFs” mentais e induzir que suas consciências os freiem em seu comportamento ideológico.
    Ou seja, QUEBRAR a ESPIRAL do SILÊNCIO que os favorece ante suas consciências individuais desinformadas ou superadas pela “moral deles” é fundamental para fragiliza-los. A consciência é ainda o melhor freio para os canalhas. Claro que os maníacos psicopatas ou sociopatas não se quedarão, mas são minoria.

Fechado para comentários.

Pular para o conteúdo