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Batman in Rio

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MARIO GUERREIRO*

Já disse uma vez que, no Brasil, às vezes a realidade se transforma em ficção e a ficção,em realidade. A linha divisória entre ambas é extremamente tênue.

Cinelândia – protestos na Cinelândia. 18 jun 2013. Wikipédia

Nas marchas de junho a agosto, em São Paulo, no Rio e em outros grandes centros urbanos, havia diversos grupos exercendo seu direito constitucional de expressão.

Aconteceu algo nunca antes visto neste País: em São Paulo, um grupo de protestadores – protestantes é outra coisa! – protestando contra o Governador do Rio, embora no Rio ninguém tivesse protestado contra o Picolé de Chuchu pindamonhangabense.

Alguns limitavam-se a protestar contra os governos estaduais e governo federal. A maioria dos manifestantes fazia um protesto pacífico e faziam questão de deixar claro que não estavam fazendo tal coisa em nome de nenhum partido político, apesar de muitas bandeiras do PSTU, do PSOL, do PCO et caterva.

Protestavam, na qualidade de cidadãos indignados, contra “tudo isto que aí está”, para usar uma expressão típica de Leonel Brizola em suas pendengas com o governo federal, não necessariamente filiando-se ao “Pangaré dos Pampas” – epíteto da lavra do jornalista David Nasser.

Alguns de seus cartazes e faixas revelavam um humor cáustico, manifestando repúdio contra todos os políticos como, por exemplo, este: se a bomba é de efeito moral, joga no Congresso Nacional.

Outros grupos, embora não falassem em nome de nenhum partido, falavam em nome de uma ideologia política, pois vestiam camisas pretas com um A branco dentro de um círculo branco: emblema do anarquismo.

No todo, podemos dizer que se tratava de um protesto difuso, já que incluía reivindicações particulares como, por exemplo, “passe livre para os estudantes” e reivindicações de caráter geral: melhora do sistema de transportes, atendimento de qualidade melhor no SUS, etc.

Havia, no entanto, um grupelho destacando-se dos demais grupos: o dos mascarados.

Fosse o caso dos festejos de Momo, seria compreensível toda e qualquer fantasia portando esta ou aquela máscara, a da Vingança, a de Zorro, a do Homem-Aranha, etc. Mas uma marcha não é carnaval, mesmo fora de época.

Se a Constituição garante a todos os cidadãos o direito de livre expressão, ela acrescenta uma cláusula que estabelece uma restrição: “Vedado o anonimato”.

Isto significa dizer que todo cidadão tem o direito de protestar contra qualquer coisa, contanto que ele assuma sua identidade mostrando a sua cara!

Sob certos aspectos, as Folias de Momo são uma suspensão temporária da ordem vigente, de tal modo que o uso das máscaras tem como uma das suas finalidades justamente ocultar a identidade dos seus portadores.

Como diz aquela conhecida música de Chico Buarque: “É carnaval, hoje eu sou quem você quiser”.

Mas uma marcha, para que seja um protesto sério, não pode cair na gandaia e se carnavalizar, sob o risco de se desmoralizar completamente.

Mas, e se uma das finalidades dos grupelhos de mascarados fosse exatamente a de abagunçar a coisa, desmoralizando as marchas?!

Neste caso, cabe a pergunta: a quem interessaria a desmoralização das marchas?

Aos governos estadual e federal?

Penso que ainda que ambos os governos assim desejassem, não fariam tal coisa num período pré-eleitoral em que os governantes agem com muita cautela com vistas a evitar qualquer marketing político negativo.

De qualquer modo, os políticos ficaram assustados com essa revolta generalizada contra sua categoria como um todo.

O Congresso se apressou em rejeitar a PEC que retirava do Ministério Público o direito de realizar investigações. Péssima medida. Para os corruptos!

Dilma propôs atabalhoadamente uma reforma política que nadou, nadou, mas acabou na praia.

Porém, propôs também uma doação aos irmãos Castro sob o disfarce da contratação de “enfermeiros” cubanos, para cuidar da saúde dos clientes do SUS, que infelizmente não acabará na praia.

O fato é que os mascarados extrapolaram o direito de expressão, para cometer atos de vandalismo depredando patrimônio público e privado, e isto é crime em qualquer país civilizado.

Sendo que alguns deles eram algo mais do que vândalos, uma vez que invadiam lojas furtando tudo que podiam levar. Mas como poderiam eles ser identificados pela polícia?

Não poderiam, assim como não poderia aquela muçulmana nos EEUU que insistia em tirar uma carteira de motorista, mas se recusava a tirar a burka.

Mas chegou o Rock in Rio e o ânimo de protestar dos manifestantes se arrefeceu, ao menos por um curto período.

Em 17/9/2013, estou assistindo ao Jornal da Globo, com William Bonner e Patrícia PoeTa, quando aparece uma reportagem externa: em frente do prédio do Ministério Público estadual um grupelho de mascarados protestando.

Contra o que? Bradavam pelo impeachment de Sérgio Cabral Filho. Coisa inadequada, pois nem sequer chegou a ser aberta uma investigação do MP sobre as estranhas ligações do Governador com a Delta, de Cavendish.

E entre os mascarados protestadores, não necessariamente protestantes, lá estava ele. Quem? Nada mais nada menos do que Batman, o Homem-Morcego de Gottham City.

Batman detido no Rio. Foto: Bruno Poppe/Frame/Folhapress

Devidamente autorizada por um decreto do Governador, a polícia deteve Batman, mas somente para que ele revelasse sua identidade secreta.

E ela foi revelada. Sem nenhuma surpresa, ela era nada mais nada menos que o milionário Bruce Wayne!

* DOUTOR EM FILOSOFIA PELA UFRJ

 

FONTE DAS IMAGENS: 1) WIKIPÉDIA; 2) G1 – Foto: Bruno Poppe/Frame/Folhapress

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