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As sanções contra a Rússia vão surtir efeito?

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Não há como fechar os olhos para o conflito entre Rússia e Ucrânia, que vem se desenrolando há meses e tem dominado as notícias ao redor do mundo.

Em resposta à invasão, acompanhamos inúmeros países ocidentais eliminarem a Rússia do sistema internacional de pagamentos swift, bem como a imposição de uma série de outras sanções, especialmente voltadas a sufocar a disponibilidade de recursos financeiros do Kremlin e dos oligarcas que o orbitam.

Usualmente, os objetivos das sanções econômicas se assemelham aos da justiça criminal: impedir maus comportamentos, punir atos praticados, dissuadir sua repetição, reabilitar o infrator e servir de exemplo para outros atores.

Nesse sentido, a Alemanha suspendeu a construção do gasoduto Nord Stream 2 e já anunciou investimentos nas próprias forças armadas. O congresso dos EUA já contempla um projeto de lei que permitiria ao governo utilizar ativos russos acima de US$ 5 milhões alocados em solo americano para destinar em auxílio à Ucrânia.

Para além de medidas como as acima descritas, eventos esportivos e artísticos também sofreram alterações a fim de aumentar o boicote à Rússia. Enquanto o Cork Opera House (na Irlanda) cancelou uma apresentação do Royal Moscow Ballet, a FIFA já avisou que a Rússia está fora da Copa do Mundo desse ano. Engrossando esse caldo, uma extensa lista de empresas privadas – que vai do McDonalds à petrolífera Shell – também anunciou a retirada de operações do maior país do mundo.

Assim como no cenário anti-apartheid, o que resta claro é que a comunidade empresarial terá papel preponderante nesse cenário, considerando que o desinvestimento não apenas encolhe a economia nacional da Rússia, mas também gera efeitos significativos em termos de acesso a tecnologias e entrada no mercado externo.

Em razão de comportamento censurável por parte do seu governo, a retirada de empresas que há muito se fixaram em solo russo pode ser mais impactante na balança do Kremlin do que muitas sanções estatais, trazendo para o holofote a força do setor privado e o respectivo protagonismo nos rumos da guerra.

Analisando do ponto de vista histórico, as ações promovidas pelo ocidente não devem provocar o recuo da Rússia sobre a Ucrânia. No Japão pré-Segunda Guerra, as sanções econômicas aplicadas pelos EUA foram percebidas como um ato de guerra, encorajando ainda mais repressão interna e demonstrando-se uma ótima justificativa para expansão além das fronteiras japonesas.

A imposição da “diplomacia coercitiva” a Cuba, Venezuela, Irã e Coreia do Norte (essas duas últimas em razão de programas nucleares) não somente falhou em produzir o resultado esperado, como também não promoveu mudanças de regime político em prol de mais liberdade.

Sobre o assunto, vale mencionar que a Universidade de Drexel, na Filadélfia, criou um banco de dados com mais de mil casos de sanções internacionais, analisando sua efetividade com base nas confirmações dos seus próprios aplicadores. Pelo estudo, cerca de apenas 30% tiveram sucesso parcial.

O maior impacto dessas punições, todavia, recai sobre os cidadãos comuns que vivem nesses países, o que, no caso da Rússia, soma cerca de 145 milhões de pessoas.

Ainda que uma das finalidades seja a de fazer com que toda a população afetada perceba que a responsabilidade é de seu governante, encurralar Putin não parece levá-lo a recuar em seus planosou a anexação da Crimeia, em 2014, não ensinou nada?

Não há dúvidas de que as sanções governamentais atualmente aplicadas são muito mais duras do que as de 2014; entretanto, a economia russa está visivelmente mais preparada e resiliente para recebê-las, uma vez que, estrategicamente, reduziu sua dependência de países estrangeiros.

As sanções, em um primeiro momento, acalmaram a crise imediata, porém, o rublo se estabilizou e Putin chegou a declarar que a “estratégia da blitz econômica falhou”. A questão é: as sanções vão surtir efeito? Isso vai depender do que elas pretendem alcançar. Enfraquecer a economia? Obrigar Putin a negociar? Parar a guerra?

As respostas para tais perguntas ainda não estão claras. Fato é que, apesar de uma falsa sensação de estabilidade, a Rússia enfrenta uma profunda recessão. O equivalente ao Ministério da Economia russo prevê que o PIB encolherá cerca de 8,8% e a inflação deve chegar a 23% em 2022.

O Kremlin deve encontrar soluções alternativas ao cenário imposto por meio da substituição da cadeia de suprimentos, como já observado no Irã e em Cuba, mas, quanto mais tempo as sanções durarem, pior será para os cidadãos russos, que podem esperar uma queda no padrão de vida há décadas não visto.

Juliana Maia Bravo Klotz – Associada Trainee do Instituto Líderes do Amanhã.

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