Antropofagia estatal
NEY CARVALHO *
O objetivo maior da burocracia governamental é a expansão mórbida e perpetuação de seu domínio sobre a sociedade. Qual massa amorfa a burocracia se estende por todo o tecido social, corrompendo-o, moldando-o e sugando suas energias. E protagoniza amplas e estéreis disputas por poder entre os diversos setores em que se decompõe.
O Globo de 18 de outubro expõe uma típica celeuma dessa eterna, desgastante e inglória batalha. Trata-se da competição desenfreada por mercados entre Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. A tal ponto que foi necessária a intervenção do ministro Guido Mantega, para esfriar os ânimos entre as duas corporações estatais. Os dirigentes respectivos já nem mais se estariam falando, tal a rivalidade.
O Banco do Brasil pretenderia aumentar sua fatia no mercado imobiliário, zona preferencial da Caixa. Já essa deseja ingressar nas áreas de crédito rural e seguros, prioridades do Banco do Brasil que, aliás, abriu o capital de sua empresa no setor: a BB Seguridade, a mesma em que o marido da Senhora Rosemary Nóvoa de Noronha, a Rose, havia sido nomeado conselheiro, antes do estouro do escândalo. Nenhuma das entidades busca aprimorar os serviços que presta a seus comitentes, o respeitável público. Digladiam-se por nacos de poder, e perspectivas de indicação de apaniguados para pequenas boquinhas.
É difícil saber como se encerrará essa pantomima. Mas o passo seguinte será abocanhar o mercado privado, estatizando totalmente o crédito no Brasil. A fome de poder da burocracia é insaciável. Quem viver verá!
* Escritor e historiador