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Antes e depois de 2003

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O que mais me lembro dos anos que cercaram a implantação do Plano Real é justamente de um conjunto de transtornos cotidianos “esquecidos” pela grande maioria das pessoas. Algumas se esqueceram mesmo. Outras, por razões ideológicas, fizeram questão de esquecer. As mais jovens simplesmente preferiram formar suas opiniões a partir da panfletagem petista. Todas as minhas lembranças convergem no drama da hiperinflação.

Mesmo sendo uma criança de classe média, eu via e sentia como tudo era caro e complicado.

Lembro-me de todos os dias ter que imaginar quanto eu poderia gastar com a merenda no colégio, pois nunca sabíamos qual o valor exato da passagem de ônibus para se voltar para casa.

Lembro-me de como os mais simples brinquedos eram caros e de como uma ida a lanchonete ou ao cinema eram acontecimentos extraordinários. Frutas como maçã e uva ou qualquer iogurte eram luxos até para a classe média. Para minimizar a mordida da inflação, todo chefe de família corria para o supermercado para fazer a feira do mês logo que recebia o salário. Viajar para o exterior era declaração de riqueza. Cartão de crédito era coisa de milionário.

Por causa da inflação que chegava a 80% por mês, financiamentos acima de 4 parcelas eram proibidos pelo governo. Os relatos de quem vinha do exterior fazia o brasileiro se sentir um vira-lata. Os carros e eletrodomésticos deles em relação aos nossos eram vergonhas menores em relação ao que sentíamos quando ouvíamos sobre a estabilidade dos preços de produtos e serviços nos países desenvolvidos.

Os telejornais eram preenchidos quase totalmente por notícias de uma crise econômica que parecia ser só nossa e insuperável, enquanto o mundo se desenvolvia…

Lembro-me das filas quilométricas nos postos de combustíveis depois de cada anúncio de reajuste e também das linhas telefônicas vendidas pelo valor de automóveis.

Lembro-me muito bem da revolta que acontecia por causa dos frequentes atrasos no pagamento do funcionalismo público e dos pensionistas por que o governo simplesmente não tinha dinheiro. No cenário internacional, o Brasil era um mendigo que vivia na porta do FMI pedindo dinheiro para manter um Estado tão grande quanto caro e ineficiente, sangrado pelos prejuízos das dezenas de estatais herdadas do regime militar.

A esperança de que a democracia estabilizaria o país logo se transformou em novas desilusões devido aos desastrosos planos econômicos de Sarney e Collor, que tornaram a vida ainda mais difícil, principalmente para os mais pobres, cujos salários sempre eram vencidos pela inflação. Só ganhava dinheiro quem investia no mercado financeiro. Nada era mais difícil do que empreender um negócio, dada a impossibilidade de planejamento.

Lembro-me dos cortes nos zeros da moeda (que mudou de nome três ou quatro vezes em vinte anos) e das crises de abastecimento – carne, café e feijão sumidos das prateleiras!

Lembro também dos congelamentos de preços, depois o confisco da poupança… Um absurdo atrás do outro. O consenso era de que, enquanto não se estabilizasse a moeda, nenhum projeto de desenvolvimento daria certo no Brasil.

Entre os absurdos cotidianos, a figura de Lula se firmava na mídia. Líder da esquerda e candidato a presidência, atacava violentamente tudo e todos afirmando que a solução para o Brasil era a intervenção total do Estado na economia. Ajudou a derrubar Collor, mas não aceitou o convite para fazer parte do governo Itamar. Quando Fernando Henrique Cardoso lançou o Plano Real, ainda como ministro, Lula foi contra. Derrotado nas eleições, continuou contra a implantação do Plano Real que, quase como mágica, estabilizou a economia, zerou a inflação e deu a oportunidade do Brasil se estruturar.

Enquanto FHC (eleito presidente) enxugava o Estado, criava mecanismos de controle fiscal, continuava as privatizações iniciadas por Collor e abria a economia para o mundo, Lula liderava as sabotagens com greves, piquetes e invasões. Liderava também a campanha de satanização de Fernando Henrique Cardoso, aproveitando a revolta que ele (FHC) criou ao acabar com o monopólio da emissão de carteirinhas da UNE (que tinha relevância política na época) e ao cortar gastos nas universidades e em órgãos públicos por conta do programa de reestruturação. Lula foi contra a tentativa do governo brasileiro de sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas alegando que a sociedade precisava de escolas e hospitais, não de estádios de futebol. Sem pudor algum, declarou apoio ao MST quando o mesmo invadiu, depredou e saqueou a fazenda da família do Presidente da República.

Paralelo a isso, a sociedade descobria uma nova realidade sem inflação e com o acesso ao crédito, o que fez com que grandes e pequenos empresários pudessem planejar investimentos e se modernizar, gerando maior diversidade de produtos, favorecendo principalmente os mais pobres que, além de poderem adquirir produtos que até poucos anos antes eram coisas de ricos, foram beneficiados com a criação dos genéricos e dos programas sociais – tudo criticado por Lula, que continuava apontando o inferno e prometendo o paraíso através de si mesmo.

Como se fosse pouco ter assumido um país falido e sob o ataque irresponsável da oposição liderada pelo PT, Fernando Henrique Cardoso ainda teve que enfrentar os escândalos de corrupção de seu partido no Congresso, as moratórias da Argentina e da Rússia, a crise dos Tigres Asiáticos e dos atentados de 11 de Setembro. Enfrentou os problemas e cumpriu a promessa de estabilizar a economia.

A verdade: Nenhum Presidente do Brasil fez tanto com tão pouco e em condições tão adversas quanto Fernando Henrique Cardoso.

Então Lula assumiu o governo. Em vez de, pelo menos, reconhecer o trabalho do antecessor, criou a expressão “herança maldita” como forma de desmerecer a estabilidade da moeda, rebatizou os programas assistenciais para apresentá-los como de sua autoria, financiou com dinheiro público a continuidade da campanha de desmoralização da pessoa e do trabalho de FHC, corrompeu movimentos sociais, artistas, intelectuais e mídia para lhe defender de toda e qualquer acusação e empenhou-se em fazer do Estado brasileiro a extensão de seu partido e a ferramenta de suas ambições ideológicas – ao custo da destruição de tudo o que foi construído pelo governo anterior, a despeito das reais demandas do país.

De lá para cá, sabemos muito bem o que aconteceu. Sabemos como Lula se comportou, com o que foi conivente, com quem se aliou, em que investiu e o que será implantado caso Dilma seja reeleita.

Se minha memória até 2003 é marcada pelos transtornos da inflação e por como Fernando Henrique Cardoso a venceu, minha memória daquele ano para cá sempre converge na figura de Lula, o personagem político mais canalha da história recente do Brasil.

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João Cesar de Melo

João Cesar de Melo

É militante liberal/conservador com consciência libertária.

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