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Amor e magia no carnaval de Isentino Kaiowá

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*Este artigo faz parte de uma série de crônicas com o personagem Isentino Kaiowá.

O carnaval levou uma pequena multidão de nazistas eleitores de Bolsonaro à Abaporu Mirim, mas também muitas pessoas lindas, com consciência política e ecológica, transpirando amor e magia.

Naturalmente, manifestações artísticas começaram a acontecer. O coletivo TGLQ (Transgeneres Guevaristas de Libertação Quilombola) ocupou a pracinha da cidade para fazer uma performance em que seus membros untaram uns aos outros com suas próprias fezes para expor a simbiose das relações risomáticas da transfiguração dos valores empíricos de elevação e transmutação da alma pelo éter e pelo fogo, contra o golpe.

Isentino percebeu que os moradores locais que presenciaram a performance artística ficaram enojados. Mas ele, sempre tolerante, não os condenou. “Essas pessoas precisam ser salvas, não condenadas”, comentou.

Ocorreram também muitos atos em defesa do planeta. Árvores foram abraçadas. Jovens nus e cobertos de lama promoveram uma caminhada silenciosa em protesto contra o genocídio dos caranguejos. Houve até a 50° edição do fumaçaço de maconha, ato contra a destruição da Amazônia.

Nos finais de tarde, as pessoas mais conectadas com o cosmo, com a vida e com o amor se reuniam às margens do rio que empresta nome à cidade para fumar maconha e aplaudir o pôr-do-sol. Muitas se abraçaram. Algumas choraram de alegria. Todos gritaram “fora Bolsonaro”.

Isentino Kaiowá sentia-se no paraíso.

Era começo de noite quando Isentino e seus amigos estavam no bar relembrando seus tempos de black blocs. Destruíram jardins, bancos de praça, latas de lixo e bicicletas que faziam propaganda para um grande banco. Ajudaram a incendiar agências bancárias, carros e até bancas que vendiam jornais e revistas burguesas. Batalhas heroicas contra o capitalismo que sempre terminavam na casa de alguém, com aqueles jovens livres bebendo, fumando e discutindo novas formas de lutar pelo socialismo, pela liberdade e pela democracia.

Na mesa ao lado, algumas meninas ouviam maravilhadas essas histórias. Não se aguentaram: puxaram conversa. Logo, compartilhavam a mesma mesa, as mesmas garrafas, os mesmos baseados… Muitas afinidades foram descobertas. Um clima muito mágico começou a envolvê-los. Elas também haviam lutado contra o golpe, exigido Lula livre e prometido que resistiriam até o final à tirania de Bolsonaro.

Feministas convictas. Participaram de manifestações por banheiros compartilhados nos bares e nas universidades e por vagões distintos para homens e mulheres nos metrôs.

Elas não haviam chegado nem à metade da faculdade, mas já demonstravam incrível conhecimento sobre todos os assuntos. Por saberem tudo de economia, simpatizavam com Ciro Gomes. Por saberem de todos os benefícios da maconha, apoiavam o PSOL. Conscientes da urgência de se combaterem a corrupção e o desperdício de dinheiro público, torcem para que Lula volte à presidência. Pelo Facebook, lutam ferozmente contra a cultura do estupro, exigindo, também, que os estupradores tenham seus direitos humanos garantidos.

Lá pelas tantas da madrugada, foram todos para a casa que elas haviam alugado. O amigo traficante – veja só que sorte – apareceu com tudo quanto era tipo de droga para aqueles jovens revolucionários expandirem ainda mais suas ideias.

Fumaram, cheiraram e todos ali acabaram se “pegando”. Quanta liberdade! Quanto amor! Vararam a madrugada compartilhando almas e sonhos por um país melhor, mais justo, em que as pessoas cuidem mais umas das outras, preservando a natureza. Amanheceram pelados no mar, com os braços para cima, invocando as energias do Sol.

Isentino sentiu-se especialmente atraído por uma das meninas, mas ela estava mais envolvida com um amigo dele, que, por sua vez, queria a amiga dela… Os sentimentos começaram a ficar confusos depois da suruba da noite anterior. Isentino, então, percebeu que para conquistar o amor da tal menina, teria que tomar uma atitude mais incisiva: vestiu uma saia e fez uns discursos feministas que provocaram suspiros de admiração. Isentino ficou super feliz com a reação. Viu-se apaixonado e ainda mais decido a conquistá-la.

Quando a noite chegou, Isentino vestiu a mesma saia. Passou batom nos lábios e colocou umas pulseiras no braço; mas, assim que chegou no forró, viu sua amada dançando agarradíssima com um sujeito todo bonitinho. Seu peito doeu quando os dois se beijaram por longos minutos e logo em seguida foram embora, de mãos dadas.

Isentino Kaiowá, vestido de mulher, sentou-se num canto. Olhou para os lados, para o chão e para si mesmo… Lembrou-se de quantas vezes passara por situações como aquela… Mas lembrou-se também que tinha maconha, LSD e vários amigos por perto. Fumou, viajou, dançou por toda a noite… E mais uma vez, amanheceu na praia.

Com a alma energizada pelo cosmo e com sua inteligência potencializada pelo LSD, Isentino Kaiowá compreendeu que o mundo precisa dele, de suas ideias e de seu amor e que chegara a hora de se libertar do ambiente burguês que a contragosto frequentava no sul e não mais esperar pela revolução. Ele mesmo iria iniciá-la!

*Leia também as outras crônicas com o personagem Isentino Kaiowá:

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João Cesar de Melo

João Cesar de Melo

É militante liberal/conservador com consciência libertária.

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