Afinal de contas, quem é ele?
MARIO GUERREIRO *
Pode um indivíduo saber desenhar muito bem e, ao mesmo tempo, ser um perfeito idiota latino-americano? Pode sim, e a maior prova disso é um cara que estudou na Escola de Belas Artes da UFRJ e passou a construir esculturas monumentais para faraós.
Costumava dizer que “A função da forma é a beleza”. Uma afirmação que poderia ter saído da boca de Rodin ou de outro grande escultor. Como sabemos, a escultura difere da arquitetura por não ter nenhuma preocupação com a funcionalidade.
A arquitetura já foi definida por Le Corbusier como “uma máquina para habitar”. Outros a definem como “a construção de um espaço habitável”. Ambas as definições levam em consideração coisas que estão fora da cogitação de um escultor:
luminosidade solar, temperatura do espaço e ventilação, uma vez que o espaço habitável será habitado ou frequentado por seres humanos.
Suponha agora que num país pobre e quente, um escultor resolve esculpir uma catedral usando cimento armado e vidro. O padre e os fiéis que a frequentarem, só não farão uma sauna porque o ar condicionado está sempre ligado, embora não haja problema de iluminação, pois o vidro é transparente…
Suponha que este mesmo escultor também constrói o prédio do Congresso Nacional. Neste caso, ele não se preocupa com a temperatura, ventilação e luminosidade solar.
Para que seus frequentadores não derretam, não se sintam abafados pela falta de ventilação e tenham que suportar as trevas do ambiente, esse Congresso Nacional fica 24 horas por dia com as luzes todas acesas e aparelhos de ar condicionado ligados.
Certamente, isso dá uma grande despesa operacional, mas isto é coisa que só preocupa economistas chatos que vivem falando em contenção de despesas.
Como dizia Charles Baudelaire, grande poeta parnasiano: “A beleza é tudo, deusa imortal”.
Após ter feito muitas esculturas monumentais, esse grande escultor, apaixonado pelas curvas das mulatas sambando, esqueceu que era considerado “arquiteto” e fez uma exposição de peças de escultura menores.
Na Praia de Copacabana, para todo o povo poder ver.
Ah! Ao final da vida, ele encontrou sua verdadeira vocação: a arte de Rodin, de Henry Moore e Hans Arp.
* Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade.