A vitória pírrica europeia
BERNARDO SANTORO*
Fiquei levemente deprimido ao ler a notícia da Veja sobre o suposto fim da recessão do bloco europeu. De acordo com a reportagem, no último trimestre o bloco cresceu “fantásticos” 0,3%, dando fim à maior recessão europeia desde o pós-guerra.
A Europa está chafurdada em dívidas públicas, fruto da sua insana política de “bem-estar social”, onde os países gastavam muito mais do que tinham poupado, tendo chegado a hora de pagar essa conta. A conta vai sendo renegociada e alavancada, mas os países resistem mais e mais a fazer as reformas necessárias, e quando o fazem, secam totalmente a economia local.
A tônica das reformas de austeridade passam por dois pontos: redução dos gastos públicos e aumento de impostos para equilibrar as contas. Só que o segundo ponto anula os benefícios do primeiro.
A redução dos gastos públicos é uma excelente medida, pois seca o vazamento de recursos sociais. Gastos públicos destroem a poupança nacional, e é a existência de poupança que permite o investimento em treinamento e novas tecnologias que aumentarão a produtividade do trabalho nacional e farão com que os países enriqueçam.
Só que junto com essas reduções de gastos públicos estão sendo aplicados aumentos de impostos, que tem como destino o pagamento das dívidas. Com isso, continua comprometido o potencial de poupança da população, com consequente redução do investimento em produtividade. É até compreensível a posição dos governos, pois uma redução maciça dos gastos públicos a ponto de não precisar haver corte de impostos traz um custo político muito alto, e dependendo do tamanho da dívida às vezes isso nem é faticamente possível.
No final das contas, a crise é tão grave que qualquer esmola de crescimento é efusivamente comemorado pelas autoridades, afinal, é um argumento em favor da manutenção de seus grupos políticos no poder. Mas enquanto o remédio não for aplicado de verdade, os europeus continuarão a comemorar “vitórias de Pirro”, sendo apenas um conforto antes da derrota definitiva: a falência da Europa.
*DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL