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A República nos tirou do caminho da riqueza?

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Hoje esbarrei em vários posts no Facebook garantindo que, não fosse pela proclamação da República, o Brasil seria um país rico ou algo do tipo. A tese parece ser que vínhamos nos aproximando dos países ricos e o “golpe da República” nos tirou dessa trajetória. Confirmar essa tese com dados não é tarefa fácil, as informações da época são poucas e de qualidade duvidosa. O Maddison Project Database (link aqui) é a melhor fonte de dados históricos à disposição de economistas, fui lá olhar os dados para avaliar a tese de que a República nos tirou do caminho da riqueza.

Para o PIB per capita usei a série “cgdppc”, que considera vários anos de “benchmark” e é mais adequada para comparações entre níveis de renda de países distintos. Para o século XIX existem dados disponíveis do Brasil para os anos de 1820 e todos os anos de 1850 em diante. Em termos de PIB per capita, nossos primeiros passos não foram nada animadores; em 1820 nosso PIB per capita era de US$ 600, mesmo valor de 1850. Para comparação no mesmo período, o PIB per capita dos Estados Unidos foi de US$ 2.080 para US$ 2.825 e o do Reino Unido foi de US$ 2.181 para US$ 2.858. A figura abaixo mostra o PIB per capita do Brasil como proporção do PIB per capita dos Estados Unidos e Reino Unido para o período entre 1850 e 2016.

Repare que não há indício algum de que estávamos em uma trajetória de aproximação com esses países no século XIX ou no reinado de D. Pedro II, que foi de 1840 a 1889; muito pelo contrário, a tendência era de empobrecimento em relação ao Reino Unido e aos Estados Unidos.


Se comparamos nosso desempenho com as potencias ibéricas, o quadro fica um pouco menos desolador, mas nada que justifique a tese de que D. Pedro II nos conduzia pelo caminho da riqueza. O PIB per capita da Espanha para 1820 não está disponível, em 1800 era de US$ 1.947 contra US$ 2.455 em 1850. Em Portugal a coisa foi bem pior: em 1800 o PIB per capita era de US$ 1.330, em 1820 de US$ 1.419 e em 1850 tinha caído para US$ 1.266. No Brasil, o PIB per capita foi de US$ 600 nos três anos. Não tivemos o crescimento de nossa metrópole entre 1800 e 1820; por outro lado, não tivemos a queda entre 1820 e 1850.


A figura abaixo mostra o PIB per capita do Brasil como proporção do PIB per capita de Portugal e Espanha entre 1850 e 2016. O padrão é de forte queda em relação a Portugal e queda leve em relação à Espanha. É possível dizer que a proclamação da República não reverteu essas quedas, pelo menos não de imediato, mas não parece razoável culpar a República por uma queda que vinha desde a época do Império.

Outros países da América Latina também tiveram melhor desempenho que o Brasil no período posterior a 1820. Ao contrário da estagnação observada por cá, o PIB per capita da Argentina cresceu de US$ 1.710 em 1820 para US$ 2.144 em 1850; em 1889 era US$ 4.608 contra US$ 687 por aqui. No México o PIB per capita foi de US$ 760 em 1820 para US$795 em 1850 – um crescimento pequeno, mas lembrem que por aqui ficou estagnado em US$ 600. Em 1890, o PIB per capita do México era US$ 1.184 (não há dado disponível para 1889). Em 1889, ano da proclamação da República, nosso PIB per capita era menor que o do Chile (US$ 2.026), Colômbia (US$ 1.000), Uruguai (US$3.675) e Venezuela (US$ 1.189).

É certo que olhar apenas para o PIB per capita não encerra o debate a respeito dos efeitos da República para o Brasil ou mesmo para a economia brasileira, mas, até que apareçam outros dados mais consistentes que o de PIB per capita do Maddisos Project Database sobre um conjunto de variáveis mais relevante que o PIB per capita, não embarco na história de que se não fosse pelo marechal Deodoro da Fonseca hoje o Brasil seria um país de primeiro mundo.

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Roberto Ellery

Roberto Ellery

Roberto Ellery, professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB), participa de debate sobre as formas de alterar o atual quadro de baixa taxa de investimento agregado no país e os efeitos em longo prazo das políticas de investimento.

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