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A raiz dos problemas: o carrossel brasileiro

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Carrossel

O Brasil sempre foi uma colônia de exploração, altamente cartorária e repleta de “amigos do Rei”. Algo mudou? Sinceramente, acho que não. Continuamos com um fetiche doentio por carimbos, e, lamentavelmente, nossas elites vivem buscando gordas esmolas do Estado. Perdemos várias oportunidades de nos livrar dessa herança maldita. Mas, nosso patrimonialismo nefasto continuou a nos assombrar. Antes um fantasma, e, agora, um monstro pavoroso.

A lambança político-econômica que enfrentamos tem a sua raiz em nossa incapacidade de superar os males da colonização. Talvez por isso, tenhamos vivido, também, sucessivos regimes populistas, demagogos e totalitários – desprezando que o dinheiro dos outros acaba. Esse foi o nosso caminho; ao invés de traçar uma linha reta para uma República Democrática de Direito, optamos por viver em círculos. Nossa história é um carrossel: gira, gira, gira e termina sempre no mesmo lugar.

É certo, contudo, que tivemos lampejos de esperança. O principal deles foi o Plano Real, que, efetivamente, tirou milhões de pessoas da miséria. Vale lembrar – principalmente para os mais jovens – que, antes do Real e da Lei de Austeridade Fiscal, vivemos um período pavoroso de hiperinflação. Sabem o que era isso? O que se comprava no início do mês era impossível de se adquirir no final. Trocando em miúdos, quando o mês terminava, os salários valiam 80% a menos. Na clara expressão de Roberto Campos: “a inflação, que durante muito tempo assolou a população brasileira [criou] os ‘com moeda’ e os ‘sem moeda’”.

Os “com moeda” recebiam seus respectivos salários, e, imediatamente, aplicavam no overnight; os “sem moeda” corriam para os supermercados, para, pelo menos, ter o que comer. Ao acabar com a inflação, o Plano Real tirou milhares de pessoas dessa situação horrorosa. Foi muito mais do que os “Bolsas” Lulopetistas.

Agora, mudando o rumo da prosa, vejamos o que ocorreu com os Estados Unidos da América. Diante da perseguição aos protestantes, diversos ingleses foram para a colônia. Não entrarei nos detalhes desse momento histórico, pois esse texto ficaria longo demais.

Pois bem. O que fizeram os ingleses que foram para o – assim chamado – Novo Continente? Eles empreenderam com ampla liberdade e começaram a produzir riquezas. Seus valores eram a Liberdade e o Trabalho. Alerto, também, que não tratarei da sórdida escravidão, que, como todos sabem, também ocorria aqui em Pindorama.

A partir da Liberdade e do Trabalho, os imigrantes – já se vendo como americanos – foram mais além. Eles derrubaram a Coroa Britânica e fundaram um país repleto de ideias calcadas na Liberdade. Não foi por outra razão, que, na Declaração de Independência de 1776, Thomas Jefferson escreveu, talvez, uma das construções mais importantes da Revolução Americana:

Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a procura da felicidade. Que a fim de assegurar esses direitos, governos são instituídos entre os homens, derivando seus justos poderes do consentimento dos governados; que, sempre que qualquer forma de governo se torne destrutiva de tais fins, cabe ao povo o direito de alterá-la ou aboli-la e instituir novo governo, baseando-o em tais princípios e organizando-lhe os poderes pela forma que lhe pareça mais conveniente para lhe realizar a segurança e a felicidade.

(…)

Mas quando uma longa série de abusos e usurpações, perseguindo invariavelmente o mesmo objeto, indica o desígnio de reduzi-los ao despotismo absoluto, assistem-lhes o direito, bem como o dever, de abolir tais governos e instituir novos Guardiães para sua futura segurança.” (tradução Ligia Filgueiras).

Modestamente, na minha opinião, foi isso que faltou ao Brasil. Não construímos ideias que permitissem a fundação de instituições fortes. Esquecemos de criar valores sólidos para o sustentáculo de nossas instituições. Ressalto, nesse passo, que valores são criados a partir de um consenso livremente acordado. Decretos e Leis, meus caros, são inúteis para isso.

Há algo de NOVO no ar. Um partido, com ideias focadas no indivíduo, foi reconhecido pelo TSE. Qual será o resultado? É impossível prever. Todavia, aparentemente, temos uma vela na escuridão. A sordidez política e a incompetência econômica só terão fim com ideias e homens de ação. Nada de pegar em armas, como professam alguns inimigos da Liberdade.

Precisamos, no fundo, da pena – mais forte que a espada –, de palavras, de explicações e debates. O Brasil não tem mais tempo para a imposição de concepções ultrapassadas. Repetir os nossos próprios erros é uma fulgurante estupidez. Precisamos, mais do que tudo, criar um grande e livre mercado de ideias, opiniões, e, acima de tudo, propostas concretas e factíveis. Chega de girar, eternamente, em um carrossel. Pindorama depende do contraponto, de valores, princípios e instituições para crescer. Um bom começo seria acabar com carimbos e “amigos do Rei”.

 

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Leonardo Correa

Leonardo Correa

Advogado e LLM pela University of Pennsylvania, articulista no Instituto Liberal.

Um comentário em “A raiz dos problemas: o carrossel brasileiro

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    24/10/2015 em 11:20 am
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    Detalhe 1: a Independência dos EUA, juntamente com as Revoluções Inglesas (Puritana e Gloriosa), Revolução Francesa e a revolução Industrial são classificadas como Revoluções Burguesas que aconteceram ao longo dos séculos XVII e XVIII que evidenciam a crise do sistema monárquico absolutista presente no continente europeu. Acontece que para Thomas Jefferson escreve esse belo texto na declaração de independência os EUA precisaram pegar em armas. Foi a primeira colônia na história a vencer a metrópole através da luta armada.
    Detalhe 2: O texto da Declaração de Independência dos EUA é um texto belíssimo recheado de idéias iluministas, sabe-se que Jefferson era era fã de Locke, Montesquieu, Voltaire e Diderot. Em 1783 o Brasil ainda era colônia, não havia passado pela Inconfidência Mineira e muito menos para elevação de Reino Unido de Portugal e Algarves que só acontece em 1815. Neste período, em 1783, o Brasil era governado por umas casas reais mais absolutistas europeias, a Casa de Bragança.
    Detalhe 3: Portanto, são mais de 300 anos de influência absolutista na construção nunca teremos um pensamento “liberal” de fato, aos moldes do pensamento de Thomas Jefferson, Lock e entre outros. Os discursos de quem se apresenta como “liberais” aqui no Brasil as vezes está recheado de pontos oligárquicos e patrimonialistas, herança de 300 anos de colonialismo.

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