A escolha pela negação
RODRIGO CONSTANTINO*
A presidente Dilma está de mãos atadas. Os problemas de seu modelo econômico ficam cada vez mais evidentes, mas ela não acusa o golpe. O mercado, constituído por milhares de investidores brasileiros e estrangeiros, coloca seu governo contra a parede, devido aos frágeis fundamentos, mas ela prefere partir para o ataque, como se este fosse sempre a melhor defesa.
O grande problema, naturalmente, é que os males econômicos possuem causas estruturais, altamente ligadas ao “desenvolvimentismo” que a presidente tanto defende. Para mudar o curso, ela teria que reconhecer tal erro publicamente. Cabeças teriam que rolar. Além disso, as duas principais medidas que ela deveria tomar – subir os juros para conter a inflação e reduzir os gastos públicos – representariam um duro golpe em sua imagem popular, sem falar do custo de curto prazo.
Sem convicção ideológica adequada e sem coragem para assumir as péssimas escolhas passadas, a presidente optou pela covardia dos demagogos: negar que o problema existe. Ela se esconde atrás da vitimização, como se os críticos – cada vez mais numerosos – fossem antipatrióticos, torcedores do “quanto pior, melhor”, pessimistas crônicos, até mesmo “terroristas” (não, Wanda, terroristas são aqueles que explodem coisas e pessoas em nome da ideologia).
A ficha caiu para quase todos, menos para a presidente e sua equipe incompetente. Seu recado está claro: eles vão insistir no erro, pois negam o problema. Acham que a inflação está sob controle, que a economia vai retomar o acelerado crescimento, que todas as duras críticas não passam de jogo político. Enquanto insistirem nessa negação, mais nervosismo vão gerar nos agentes econômicos.
Basta pensar em um doente, cuja chaga está cada vez mais visível para todos, alegando que está ótimo de saúde e vai participar da próxima maratona. Qualquer pessoa com um mínimo de bom senso iria se preparar para a desgraça iminente desse indivíduo. A postura de negação da realidade é a pior de todas. É uma fuga acovardada, que produz apenas um agravamento dos problemas.
Muitos já acordaram para os pilares de areia do modelo econômico do governo Dilma. Quanto mais tempo ela e sua equipe levarem para fazer o mesmo, mais grave será o problema e mais doloroso o ajuste necessário à frente. Acreditar que pode reverter o quadro no “gogó”, com discursos “firmes” produzidos por marqueteiros, ou pior, com o anúncio de novos programas que vão à contramão da austeridade demandada, tal como o populista “Minha Casa Melhor”, é acreditar em ilusões perigosas.
Se Dilma insistir em sua negação, mais cedo ou mais tarde os brasileiros vão pagar um alto preço. Espera-se que eles se dêem conta disso até o dia das próximas eleições. O fisiológico PMDB, pelo visto, já começou a enxergar o tamanho do problema, e ensaia abandonar o barco furado enquanto há tempo…
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