A criatividade não tem fim
ADOLFO SACHSIDA *
Quem tem mais de 40 anos de idade se lembra bem do “brilhante” Plano Cruzado, com sua receita de congelar (controlar) preços para combater a inflação. O resultado foi a hiperinflação do final da década de 1980. Nos idos de 1989, tivemos a “bela” experiência de conviver com uma inflação mensal de 80%!!!! Naquela época toda casa tinha dispensa (um cômodo onde todos armazenavam comida), pois a primeira coisa a se fazer quando se recebia o salário era ir correndo para o supermercado, e fazer as compras do mês.
Hoje ninguém mais acredita que congelamento de preços funcione. Sendo assim, tenho uma pergunta: por que o governo brasileiro está tentando controlar a inflação congelando preços???
Vamos ser claros: em janeiro desse ano, o Ministro da Fazenda (sempre ele…) pediu aos prefeitos que postergassem o ajuste nos preços do transporte urbano para ajudar a combater a inflação. Em período similar, a PresidentA anunciou redução nas tarifas de energia. E, para fazer mais do mesmo, o governo vem impedindo que a Petrobras reajuste o preço da gasolina. Em resumo, essa parece ser a estratégia do governo para combater a inflação: congelar o preço dos bens administrados.
Uma rápida busca na internet, e podemos ler “A inflação acumulada em 12 meses dos preços administrados está em 1,3% quando a sua média, desde 2005, é de uns 4%. Já a inflação dos preços livres, que comporta os alimentos, os serviços domésticos, grande parte dos bens e serviços consumidos pelas famílias brasileiras, está em 7,9%”.
Resumindo, usando a mesma técnica de “sucesso” da contabilidade criativa, o governo adota agora o controle de preços criativo!!! Em vez de tentar controlar todos os preços da economia, o governo tenta agora controlar apenas um subconjunto deles (os preços administrados). Evidente que, para quem conhece o mínimo de economia, isso é igualmente impossível. No bom e velho “O Caminho da Servidão” Hayek já explica a impossibilidade de se tentar controlar um único preço: para se controlar o preço de um bem deve-se controlar toda a cadeia de produção, e assim sucessivamente, até que se é obrigado a controlar todos os preços, o que com o tempo mostra-se ineficiente economicamente.
A estratégia atual do governo para combater a inflação é um mergulho no passado: a velha e fracassada idéia de se congelar preços. O resultado evidente disso é a implosão das contas dos entes envolvidos. Basta notar a precária situação da Petrobras, e resta evidente que no final do dia essa conta será paga pelo Tesouro Nacional, isto é, por todos nós.
* ECONOMISTA DO IPEA