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Lema de Lulla:comerás teu pão sem o suor de teu rosto

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COLABORADORES

26.09.08

 

Lema de Lulla:

comerás teu pão sem o suor de teu rosto

MARIO GUERREIRO*

 

Encontramos a historinha que se segue num site respeitável da Internet – o www. redeliberal.yahoogrupos.com – e não temos razão nenhuma para duvidar da sua veracidade. Mas ainda que sua personagem principal não existisse, estaria devidamente caracterizada como um brasileiro comum em uma situação de milhares de brasileiros comuns na vida real.

Segundo contava a referida historinha, um zelador de um edifício em Natal (RN) procurou o síndico do prédio onde trabalhava e pediu para ser despedido. Por ter conseguido um emprego melhor? Não, por querer mesmo ficar desempregado!

Parece uma coisa totalmente irracional, mas quando uma coisa é desta natureza, desconfiamos logo que “debaixo desse angu tem carne” ou, como teria dito aquela personagem de Shakespeare diante da suposta loucura do príncipe Hamlet: “I am afraid there is a method in his madness.

Por que raios queria ele ficar desempregado? Ele disse para o síndico que tinha dois cunhados desempregados que estavam melhor de vida do que ele empregado. Como? Ora, eles tinham cartão-cidadão, cartão-alimentação, vale-gás, vale-transporte, vale-refeição, entre outras benesses do governo de Lulla, o Dadivoso, ou o fazedor de caridade com o chapéu alheio.

Se pararmos para fazer as contas, veremos que ele tinha razão, ou seja: estava agindo de acordo com a relação custo/benefício, segundo um princípio básico da racionalidade prática.

Se não, vejamos: Supondo que ele tenha apenas dois filhos são R$175,00 para cada filho. Portanto R$350,00. Mais R$ 350,00 do cartão-cidadão, mais R$ 70,00 do vale-gás, mais vale-transporte – considerando 4 passagens diárias no valor de R$ 8,00 e multiplicando por 20 (dias) são R$ 160,00 – mais vale-refeição refeição (um por dia) R$ 3,50 /dia x 30 dias x 4 pessoas (ele a esposa e os dois filhos) = R$ 420,00. O que dá…

Total em dinheiro – R$ 700,00

Total em serviços – R$ 650,00

Total a Receber – R$1.350,00

De acordo ainda com a história, o salário do zelador, acrescido de horas extras e tudo o mais, girava em torno de R$ 830,00/mês. Desempregado, sem precisar fazer nenhum esforço, ele estaria ganhando quase o dobro do que ganhava empregado. E é preciso acrescentar que tudo isto ficou estabelecido pela lei n.o 10.836 de 9/1/2004.

E é foi exatamente assim que o neocoronel nordestino Lulla criou seu curral eleitoral pós-moderno. Todavia, isto é insuficiente para explicar seus 64% no índice de popularidade medido em setembro de 2008. Se somente a classe pobre o aprovasse, seu índice não seria tão alto. Isto só ocorre porque grande parte da classe média também o aprova como bom governante.

A aprovação da classe pobre pode ser explicada pela relação custo/benefício, mas como se poderia explicar a da classe média, que não recebe semelhantes benesses do governo? Como se poderia explicar que ela aprove um governo que só sabe sugar seu sangue por meio de uma tributação escorchante, que apresenta apenas um alto custo sem nenhum benefício?!

Sócrates e Patão acreditavam que um indivíduo nunca procuraria um mal para si próprio sabedor de que se tratava de um mal, mas Aristóteles discordava dizendo que um indivíduo às vezes se mostra capaz de procurar um mal para si próprio, mesmo quando sabe perfeitamente se tratar de um mal.

Ele chamou este comportamento extremamente irracional de akrasia, que costuma ser traduzido como
“fraqueza de vontade” ou “incontinência moral” e que consiste em fazer algo que produz um mal para si próprio, mesmo quando é sabido se tratar de um mal. Caindo no popular, isto consiste em “dar um tiro no próprio pé”.

De nossa parte, pensamos que realmente está em jogo uma situação em que não só um, porém milhões de indivíduos humanos estão conscientemente fazendo algo que vai fortemente contra seus próprios interesses, mas não é o caso de uma ação conscientemente deliberada.

Não estando agindo conscientemente nem por má-fé – alternativa esta que é o caso de uma minoria de grandes empresários possuidores de fartas tetas estatais – só nos resta uma explicação: a de que estejam agindo por ignorância, a de que de fato estão buscando um grande mal para si próprios, porém acreditando piamente se tratar de um bem. E este mal tem nome e é bastante conhecido: chama-se “socialismo” e sua particular medida prática consiste em redistribuição de renda.

Nunca nos esqueceremos daquela conversa que ouvimos por acaso entre dois estudantes de Ciências Sociais. Um deles dizia: “É, cara, assalto é uma forma de redistribuição de renda…”. E eu pensei cá com os meus botões: Ao contrário, redistribuição de renda que é uma forma de assalto.

 

para pensar ao entardecer

“Quando a propriedade legal de uma pessoa é tomada por um indivíduo, chamamos de roubo. Quando é feito pelo governo, utilizamos eufemismos: transferência ou redistribuição de renda.” (Dr. Walter E. Williams, professor de economia na Universidade George Mason em Fairfax, Va, EUA).

* Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade.

 

As opiniões emitidas na Série COLABORADORES são de responsabilidade exclusiva do signatário, não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do Instituto Liberal.

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Bernardo Santoro

Bernardo Santoro

Mestre em Teoria e Filosofia do Direito (UERJ), Mestrando em Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ. Advogado e Diretor-Executivo do Instituto Liberal.

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