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Guedes, o meteoro e o dinossauro da ONU

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No apagar das luzes do ano de 1898, um objeto não identificado invadiu o espaço aéreo brasileiro, aterrissando no colo dos governantes de um país caloteiro desde o império.

Batizado de “precatória” em um decreto presidencial, ganhou status constitucional na Carta de 1934, cujo art. 182 lhe masculinizou o gênero para “precatório”.

A traquitana é uma espécie de cheque emitido por um tribunal em favor de quem se torna credor dos cofres públicos. Após anos (até décadas) de litígio, o título é expedido, mas sua compensação depende de disponibilidade orçamentária no exercício seguinte, ou no outro e no outro… Como diz o ministro Paulo Guedes, vale o calote: “Devo, não nego, pago quando puder”.

Ao se dar conta de que em 2022 esse buraco negro será de R$89 bilhões, o ministro afetou o espanto de um silvícola que pela primeira vez se depara com uma estrela cadente. Teve a visão apocalíptica de um meteoro em rota de colisão com a Terra. A imprevidência não soou bem, e ele então emendou: “Isso veio de governos lá de trás. Era previsível? Talvez sim, mas talvez não.” Um fecho acaciano ao clichê da “herança maldita”.

Como o problema “veio lá de trás”, ocorreu-lhe a ideia de empurrá-lo para frente e, assim, quem já aguardou anos a fio para por a mão na grana a receberia ao longo de uma década. Ele também se queixou da “indústria dos precatórios”. De fato, os credores mais pobres e idosos acabam tendo que passar adiante seus precatórios a preço de banana. Na outra ponta, os lucros dos fundos de recebíveis furam a estratosfera, como o BTG Pactual, que propagandeia “uma atuação sólida e diferenciada no mercado de compra e venda de Precatórios”, seja lá o que signifique isso.

Por coincidência, Guedes revelou que o banqueiro André Esteves estaria prospectando um substituto para o ministério. O astronauta Marcos Pontes seria um bom nome. Ampliaria o seu Programa “Caçador de Asteróides” e, para salvar os precatórios da extinção, os rebatizaria de “Bedengó”, o meteorito encontrado em 1784 que sobreviveu às altas temperaturas do choque com a atmosfera terrestre, do sertão nordestino e do incêndio no Museu Nacional.

Finalmente, é melhor assistir a um dinossauro falando na ONU sobre meteoros do que ouvir o Guedes comparando-os a precatórios (rima involuntária).

*Helinho Saboya é advogado formado na UERJ e sócio fundador de Saboya, Direito, Muanis – Advogados.

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