Hiago Rebello*

Essas últimas eleições foram uma decepção, mas até mesmo algo positivo pode ser extraído, tal como o fato de a bomba econômica estar pronta para estourar nas mãos do PT. Mas não é apenas nessa escala que o processo eleitoral deve ser analisado. A eleição desse ano delatou o mal presente na mentalidade e condicionamento moral de muitos brasileiros. Mas por que insistir tanto assim na mentalidade e não em algo mais físico e menos maleável? Simples: nosso modo de pensar é algo que nos governa. Não agiríamos da forma que agimos em nosso cotidiano, ou em casos raros, se pensássemos de forma muito diferente da que pensamos agora em nossas vidas; de fato, pode-se dizer que a forma de pensar determina a alma da pessoa.

Tal como nosso modo de discernir o mundo é precedente de nossas ações (mas não totalmente. Deixo essa questão filosófica para outro momento), os atos humanos tem uma ligação profunda com o pensamento. Nenhuma prática é feita de maneira excelente sem um campo teórico para discuti-la antes, porém, o contrário também é real: nenhuma prática perversa é efetuada em larga escala, e de modo sofisticado, sem uma teoria inteligível por trás.

Sem mais delongas, qual foi o problema dos brasileiros nessas últimas eleições? O que se passou na cabeça de quem votou em seres como Luciana Genro ou Dilma Rousseff? Pontuarei alguns detalhes sórdidos.

• A maioria das pessoas que votaram no PSOL ou no PT não tinha em mente implantar uma ditadura bolivariana ou um estado mais autoritário, que suprisse os direitos humanos.
• A exceção da parcela dependente do cabresto eleitoral (planos de assistencialismo), as pessoas que votaram no PT ou PSOL não tinham um histórico de estudos incompleto, isto é, possuíam formação.
• Quem são essas pessoas com formação e no que elas acreditam e querem? Normalmente tem a intenção de ajudar os mais pobres, apoiando o assistencialismo. Muitos se admiram com o sistema do bem-estar social, adotado na Noruega e em outros países.
• Quais foram os motivos para não votar no PSDB? Muitos. A corrupção dentro do partido não é um fato minoritário, além do “passado negro” do partido dos tucanos.

Poderiam existir mais pontos, porém, prefiro me deter apenas nesses quatro.

Quanto ao primeiro tema, esta claro que os militantes e pessoas que vislumbram as propostas e sistemas de esquerda não querem uma ditadura que destrua os direitos pedidos com base nos mesmos direitos pedidos. E quando quiseram? Um dado histórico interessante é que o primeiro a sofrer depois de uma ditadura é o militante dessa ditadura. Mesmo em casos de golpe de estado justo, como o de 1964 no Brasil, ditaduras ou regimes autoritários que se seguem caçam os defensores da mudança. Carlos Lacerda teve esse destino, quando foi eminentemente contra o regime que se seguiu depois do golpe de 64. Por mais que seja um verdadeiro crime equiparar Lacerda a um militante progressista de esquerda da atualidade, o erro de querer um governo mais centralizado e autoritário para resolver problemas é o mesmo[1]. Durante todas as revoluções comunistas isso pode ser relatado: os partidos, detentores do poder absoluto em seus países, cerceiam a maioria das propostas que os levaram ao poder.

A História é o grilhão perpétuo da humanidade. Sempre queremos que o futuro não seja dependente do passado, mas isso sempre cai por terra. O presente, senhor do futuro, sempre será subordinado do passado.  A condição das propostas leva, sem nenhuma dúvida, a um governo centralizado e autoritário. A Reforma Agrária, por exemplo, depende de um maior aparelhamento do estado, além de poder, para ter a possibilidade de existir. Determinar quanto um indivíduo ganhará e até mesmo gastará estava nas propostas de Luciana Genro. Um crime sem conta, pois dar a ela, caso fosse eleita, o poder de criar decretos que proibissem qualquer indivíduo de crescer e ter o que quisesse é fazer, sem nenhuma alternativa, um governo mais tirânico, autoritário e centralizado. É criar uma ditadura pela democracia.

Aqui se engloba o segundo, terceiro e quarto tema: as pessoas com algum estudo. Como um sujeito com alguma formação, até mesmo acadêmica, pode não enxergar tal coisa? Votar e dar crédito ao Partido dos Trabalhadores (e admirar, não nos esqueçamos) por causa de um sujeito que apoiou o monstro que fez com que ocasiões como esta https://www.youtube.com/watch?v=3ZlXTLe5Mek e esta (apenas uma fração dos crimes cometidos)  https://www.youtube.com/watch?v=WpgemDm_GPY fossem consideradas normais, https://www.youtube.com/watch?v=Nbj6bC8ZCgE, e além de dizer que o governo anterior, que fez a Venezuela chegar a tal ponto fosse uma espécie de democracia “em excesso” http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u88204.shtml, não condizem com uma pessoa honesta e com a sanidade em bom estado. Então qual foi o problema? Como, mesmo depois de se defrontarem com tais fatos, não conseguem mudar de opinião e enxergar o óbvio, isto é, o que esses governos realmente querem. Será que não se perguntam o porquê do PT e PSOL se aliarem tanto com estados claramente opressores? E o pior: qual o sistema que admiram? Não é o Welfare State da Escandinávia?  Ora, as políticas assistencialistas que o PT e PSOL defendem não se assemelham muito as da Noruega e Dinamarca; na realidade, para ele funcionar nesses países, um alto nível de liberdade econômica é necessária – aquela mesma que faz os malignos burgueses enriquecerem –, coisa que nenhum dos dois partidos defende ou implementa com facilidade (a não ser, no caso do PT, quando querem a boa e velha economia fascista do capitalismo de estado), então não estão nem perto do governo norueguês.

A coisa se agrava ainda mais: qual partido, no Brasil atual, apresenta propostas mais semelhantes ao Welfare State? O PSDB! Sim! Os sujeitos têm a capacidade de fazer uma campanha maciça contra o partido que mais se assemelha a eles! É rir para não chorar.

Dando uma olhada no plano econômico de Fernando Henrique Cardoso, várias pinceladas de muitas doutrinas econômicas existem, mas algo é mais latente: as privatizações e investimentos a longo e médio prazo. Com a economia global em problemas e na nacional em ruínas, o odiado ex-presidente conseguiu resolver o problema da inflação e o ralo público que eram as estatais da época, mas não apenas isso: FHC construiu a base de um sistema que o PT – sendo este extremamente contra durante o percurso[2] –, no futuro, iria ampliar e, na cara dura, se esquecendo da sua campanha contrária, tomaria por seu. FHC foi o pai de todos os ignorantes e arrogantes que odeiam seu governo, foi ele seu provedor de comida, água e moradia.

Por mais que, como um liberal, eu acredite que a política de bem-estar social é apenas uma cova sendo cavada pelo o próprio coveiro, não posso ficar calado diante a um processo massivo de desinformação e mentira. Existem documentos o suficiente, antigos ou atuais, que comprovam que a política assistencialista tem o seu berço com o governo tucano e que o mesmo governo, hoje, tenta fazê-la uma política de Estado, isto é, algo para além do governo. Esse foi o partido para o qual se levantou tanta voz, com ódio, ignorância e desrespeito. Os sujeitos estudados, votantes de Dilma ou de Genro, conseguiram fazer a proeza de irem com toda a força contra aquilo que acreditam. Merecem aplausos infindáveis.

Assim como a desonestidade é contrária a honestidade e a luz contrária à sombra, o saber é contrário da ignorância. Ao alegarem que o PSDB é um partido corrupto (e ele realmente é) e serem contra ele por esse fato, se esquecem de que os maiores escândalos da nação vieram por intermédio do PT, que foi o louvável Partido dos Trabalhadores que mais privatizou na história desse país, que a violência, o tráfico, desmatamento, crimes e mortes cresceram muito mais com o governo petista – ou vocês acham que morria mais gente nos anos 90 do que agora?

Nenhum argumento para se votar em algum partido além do PSDB nessas eleições presidenciais faz sentido dentro da própria lógica do argumento. Privatizações são ruins? O PT privatizou mais. Corrupção é ruim? O PT corrompeu mais. A praia do PT acabou. Usaram e abusaram dos frutos de uma política mais séria e saudável, que foi deixada por FHC. Colocaram uma assassina no poder – ou se esqueceram do atentado que Dilma participou? –, que admite que lutou, roubou e matou para implantar uma DITADURA[3] e, por fim, vem a pergunta: por que alguém, gozando de plena consciência, votaria no PT?

Quando se demonstra que aqueles que mais querem melhorar a situação do país são o veneno do bolo, não esperem uma aceitação imediata. Por mais que seja absurdo, pueril e ilógico da parte desses “reformadores da realidade”, devemos entender que já colocaram toda a pauta de suas vidas nesse esforço. Para eles toda a estrutura das ações humanas deve ser levantada para um suposto bem. Por isso erram sem medo, apoiam opressores sem pensar e anulam o que realmente levou o mundo para uma mensagem – e não realidade ontológica – melhor: a tradição filosófica, religiosa e econômica do Ocidente.

O câncer é algo pequeno, mas com o passar do tempo, as células defeituosas se espalham e, no fim, o corpo morre. Assim foi na Rússia, mesmo com Dostoievsky alertando, na Venezuela, China, etc. Que aqui joguemos logo radiação nessas células, isto é: bombardeemos a ignorância com o saber. Esse é o nosso dever.

*Graduando no segundo semestre em História pela UERJ

[1] Vamos lá: o regime militar só começa a ter braços autoritários e criminosos, em sua instituição, em 1968. Antes disso o governo mantido era totalmente constitucional e até mesmo democrático, contudo, a falta de prudência em confiar nos militares à salvação da nação cobrou o seu alto preço com décadas de um regime autoritário e centralizado.

[2] https://www.youtube.com/watch?v=n5E1OYUsakQ

[3] https://www.youtube.com/watch?v=_SPTZdvKzZs