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Parabéns, Gazeta do Povo: enfim um jornal defende o impeachment!

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gazeta do povo antigaDissemos que, quer por conivências ideológicas sinceras – e não menos lamentáveis -, quer por pressões econômicas, a grande imprensa, impressa e televisiva, está encoberta em silêncio e apatia. Diante de um governo absolutamente destrutivo, seu posicionamento oscila entre a timidez e a cumplicidade.

O jornal O Globo, por exemplo, desde os tempos de Roberto Marinho tem a fama estúpida de ser um veículo “reacionário”, “de direita”, “neoliberal”, especialmente por ter, assim como a imensa maioria dos jornais combativos de seu tempo, se oposto duramente ao péssimo governo João Goulart – entrementes, uma brincadeira de criança perto do lulopetismo, diga-se de passagem. Porém, já aos tempos do regime militar, a mais importante empresa de comunicação do Brasil crescia em franca associação com o Estado, e Marinho não ruborizava ao dizer que protegia os “seus comunistas” nas redações de jornais e na autoria de telenovelas. Seus herdeiros, que continuam apostando no modelo de franca associação com o Estado, pediram desculpas pelo apoio do pai ao movimento de 31 de março de 1964 – que, após derrubar Goulart, acabou dando início a um regime militar, como todos sabemos – e, no entanto, se manifestaram a favor de que respeitemos o mandato de Dilma, cúmplice de tiranias muito piores América Latina afora, ameaçado por instabilidades indesejáveis de um Congresso irresponsável que lhe deveria dar “governabilidade”.

Dos grandes veículos, apenas a Revista Veja, tradicionalmente de oposição, aberta a um campo de pensamento que ia da social-democracia ao liberal-conservadorismo, dava guarida a um pensamento alternativo, que rompesse com o mainstream. Já vimos que as coisas mudaram um pouco e, provavelmente pressionada pela retirada de verbas de anúncios estatais, a direção atual da revista demitiu alguns nomes que vinham fazendo excelente trabalho nesse campo e deu mostras de algumas guinadas à esquerda – como ao voltar atrás, em editorial, na questão do desarmamento. Embora nomes como Reinaldo Azevedo e Felipe Moura Brasil ainda estejam lá, e não se possa dizer que a revista esteja, em momento algum, defendendo o governo, me parece nítido que há um recuo. As coisas não vão bem.

Diante disso, dissemos que think tanks como o nosso Instituto Liberal – em que temos o propósito de, por enquanto apenas na esfera virtual, formalizar um veículo de comunicação e difusão de ideias totalmente comprometido com um espectro de pensamento vinculado às raízes do liberalismo clássico – eram, ao lado de alguns outros portais e páginas independentes que hoje se proliferam na Internet, a única porta de saída que nos restava. Para sermos justos, entretanto, a verdade é que ainda temos, embora não necessariamente esta seja a linha editorial plena e categórica dos jornais, pequenos e médios veículos, tocados por persistentes e bravos empreendedores do ramo, que cedem suas páginas para a publicação de artigos que defendem posicionamentos liberais. Um jornal de maior alcance, inclusive, nos motivou a escrever esse artigo, parabenizando seu gesto, sem dúvida, histórico: a Gazeta do Povo.

Longe de ser um jornal diminuto, a tradicional Gazeta do Povo tem uma das maiores audiências entre páginas eletrônicas de veículos jornalísticos na Internet e considerável expressão regional no Paraná. Em um gesto de admirável grandeza e coragem, em editorial intitulado A hora do impeachment, publicado no último dia 9/11, a direção do veículo manifestou um posicionamento em defesa do processo de impedimento da presidente Dilma. O valente texto começa com uma síntese dos 13 anos de lulopetismo, período que “implodiu o Brasil” e levou à “recessão, inflação e desemprego”. Moralmente, “o petismo consagrou a noção de que os fins justificam os meios”, aclamando mensaleiros como guerreiros do povo brasileiro “porque, no fim, tudo o que fizeram foi trabalhar pelo partido”.

Figuras como Collor, Calheiros e Sarney, “antigos inimigos com invejável folha corrida”, pelas conveniências, “viraram amigos do peito”. “Fez-se o que foi possível para aparelhar o que estivesse pela frente, em alguns casos com conseqüências trágicas para os trabalhadores”, não se perdeu “nenhuma oportunidade de atacar a liberdade de imprensa” e o Brasil se fez aliado “do que há de pior na América Latina”, transformando-se em “adversário do livre comércio”. O governo de Dilma, para a Gazeta, se caracterizou por “incompetência generalizada, economia em frangalhos, popularidade em queda livre, alinhamentos ideológicos nocivos” – mas é por motivos mais concretos que o editorial sustenta a derrubada da governante.

O crime de responsabilidade se caracteriza pelas chamadas “pedaladas fiscais”, admitidas ao se oferecer R$ 57 bilhões desavergonhadamente para quitá-las; pelas “maquiagens orçamentárias que ganharam o sugestivo nome de ‘criatividade contábil’”, pelo que se constata que “nunca antes na história deste país houve uma falsificação global em larga escala da realidade econômica da nação”; e a inércia diante da pilhagem na Petrobras, “obra de um grupo que já atuava na estatal desde a época em que Dilma, ainda ministra de Lula, presidia o Conselho de Administração da empresa”, sendo “impossível acreditar que, já na presidência da República, ela ignorasse o que se passava nas diretorias da estatal”. Por tudo isso, largamente documentado, evidenciado e comprovado, a presidente infringiu a Constituição e deve ser deposta do cargo pelas vias legais, ou, conclui a Gazeta, se incorreria no “risco moral de premiar governantes, ainda que cometessem crimes de responsabilidade”, o que seria “a pior mensagem que se poderia passar ao país neste momento”.

O editorial não deixa de criticar Eduardo Cunha, e considerar que ele vê o impeachment “apenas como um brinquedo para chantagear o Planalto”. Por isso, a Gazeta acredita que ele deveria ser substituído, e o impeachment ser tocado por alguém com mais autoridade moral e que trate o assunto com a seriedade devida, e não como um joguete para proteger a própria cabeça. Nesse ponto, compreendemos a posição do jornal e até tendemos a concordar que este seria o ideal, mas particularmente pensamos que não há mais tempo a perder e, se o processo de impeachment tiver que andar com o aval de Cunha, que assim seja feito. Nesse momento, a decisão cabe a ele e não a outro.

De qualquer modo, mil parabéns para a Gazeta! Que o exemplo de coragem e compromisso com a missão de um veículo de imprensa sirva de exemplo para os poderosos barões omissos do Jornalismo brasileiro.

 

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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