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Panelaço – ou: sobre a propaganda que os brasileiros se recusaram a ouvir

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calaabocalula

Escrevo ainda sob o extasiante impacto da noite de ontem, em que os brasileiros estabeleceram mais um capítulo da sua maneira bastante original e animada de praticar a boa e velha “desobediência civil”. Thoreau, autor de A Desobediência Civil, e Gandhi ou Luther King, que a empreenderam, certamente não estariam muito à vontade fazendo a barulheira das panelas que se ouviu ontem em pelo menos 18 estados do país inteiro, além do Distrito Federal. Também pudera; eles não viviam nos nossos queridos ”trópicos”! O “panelaço” é uma manifestação de identidade latina e uma atitude verdadeiramente patriótica. Aplaudo de pé – e batendo na minha panela! E que não se pense em reducionismos do nível de “elite branca, riquinhos, playboys”; houve panelas sacrificadas, quase como Judas em Sábado de Aleluia, em todas as regiões, ao menos no Rio de Janeiro. Pelo menos aqui em casa, porém, elas não sofreram arranhões. Já o moral da estrela vermelha…

Você assistiu aos dez minutos de propaganda do PT às 20h30 desta terça-feira, em rede nacional? Ouviu o que o senhor Luís Inácio Lula da Silva e o senhor Rui Falcão – porque a presidente da República foi novamente covarde e não se atreveu a aparecer – tinham para falar? Provavelmente não. Mesmo que quisesse, os bravos brasileiros, armados de panela em punho, não devem ter deixado que você ouvisse uma palavra. E fizeram bem. Não queremos ouvir mais nenhuma palavra que não seja “adeus”.

No entanto, se ainda assim você tiver a curiosidade mórbida de saber, resumimos para você. Sim, nós assistimos; não no horário marcado, em que estávamos cumprindo nosso verdadeiro dever cívico em nossa varanda, mas na Internet, onde o partido já tinha liberado o conteúdo horas antes. Ciente de que está na condição de “cadáver vivo”, apodrecendo sobre o país – mas que fez e ainda pode fazer, exalando seu odor fétido, muito estrago -, o PT parte agora para o desespero. Não há mais ginásticas argumentativas óbvias à disposição. Os discursos dos próceres da legenda se transformaram, então, em matraqueados repetitivos e insuportáveis, repletos de obviedades cuja falsidade os fatos em si já estão sem paciência de tornar a desmentir.

Perdendo total terreno com a população, com baixíssima aprovação para o governo federal, o partido parece ter decidido fortalecer sua identidade esquerdista, dando ênfase na propaganda às bandeiras que os setores mais apaixonados desse lado do espectro político vêm desfraldando. Pautas como “igualdade de gênero”, “direitos LGBTs”, “combate ao financiamento privado de campanha”, “combate à terceirização”, e outros gritos que já estamos tão acostumados a ouvir, manipulados e instrumentalizados pelos interesses menos felizes das entidades que também já estamos cansados de conhecer – as “minorias” com bancadas barulhentas e interesseiras no Congresso e as verdadeiras máfias sindicais, por exemplo. Sobrou até para o enfrentamento à “redução da maioridade penal” – redução essa que tem amplo apoio popular. Certamente, como bem disse o portal de humor Sensacionalista, os petistas desejariam, ao contrário, elevar a maioridade para 70 anos, a fim de proteger seus “mensaleiros” e corruptos ainda mais do que já o fazem!

Será que acreditam que esse fortalecimento da polarização, “radicalizando à esquerda”, é a saída para tentarem se salvar? Não sabemos ao certo; no entanto, para fazer justiça, compreendemos que precisam fazer essa aposta, visto que não lhes sobraram muitas opções. Não satisfeitos, levantaram ainda duas outras alegações já batidas – mais batidas que as pobres panelas; a primeira, de que são os grandes adversários da “corrupção” e expulsarão do partido qualquer integrante que esteja comprovadamente envolvido com ilicitudes – e é claro que acreditamos. Depois da exaltação heroica dos “mensaleiros” que ergueram os braços em patético “orgulho triunfal”, aplaudidos e apoiados incondicionalmente pelos queridos colegas “camaradas”, temos todos os motivos para isso. O partido para o qual, ao contrário do que diz a lábia de Rui Falcão, a corrupção é política de governo e não um alvo a ser combatido, reforça a presença de “outros partidos” nos maiores escândalos republicanos de que se teve notícia e acusa a mídia de exagerada perseguição, de estar “criminalizando” o PT. É comovente o quanto eles demonstram apreço e comprometimento com a liberdade de expressão, que a terrorista marxista Vana Rousseff disse ter suado para trazer ao Brasil (sic), e o quanto procuram minimizar as atrocidades praticadas contra os cofres do país dizendo que “os outros também fazem”.

A outra alegação batida, finalmente, é a de que o país vivia nas trevas da miséria e da fome, perguntando-se “quem poderá nos salvar? ”. E então, em 2002, apareceu o Chapolin Colorado…. Ou melhor, Lula e seu superpartido, e salvaram o Brasil, levando a nação a uma sólida prosperidade e pujança econômica.  Nunca serei capaz de compreender o nível de psicopatologia que os leva a subestimar de tal forma a nossa inteligência. O Plano Real, que eles tanto combateram, e forneceu as matrizes para as conquistas positivas do Brasil recente, permanecerá sendo ignorado em suas efusivas propagandas?

A boa notícia, como não poderia deixar de ser, não esteve na propaganda, mas no povo brasileiro. O povo que se recusou a ouvir, não Dilma, não qualquer governador estadual, mas o próprio Lula. Em alguns lugares, quando Lula falava, o barulho ia às alturas. Isso prova que significativa parcela da população já percebeu quem começou o processo de agressão às nossas esperanças, de traição às nossas perspectivas de liberdade e prosperidade. Se a coisa estiver feia não apenas para Dilma, mas também para Lula, como as pobres panelas parecem indicar, o Brasil da coerência pode respirar mais aliviado.

Por falar em panelas, prepare as suas. Nunca se sabe quando elas serão chamadas novamente ao heroico martírio.

 

 

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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