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O Papa Verde

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“Vamos ser claros. O planeta não está em perigo. Nós estamos em perigo. Nós não temos o poder de destruir o planeta – ou de salvá-lo. Mas temos o poder de nos salvar”.  Michael Crichton

O Papa Francisco lançou, semana passada, com grande entusiasmo e estardalhaço, sua mais recente Encíclica, voltada, desta vez, para os problemas ambientais.

Redigida provavelmente por seu staff mais à esquerda, a nova Encíclica ‘Laudato Si’ se confunde, em alguns tópicos, com aqueles velhos conhecidos manifestos do Greenpeace ou do Clube de Roma, tal a quantidade de clichês e fetiches ambientalistas. No referido documento, o Papa voltou artilharia contra os combustíveis fósseis, o consumismo desenfreado, assim como defendeu enfaticamente o uso sustentável dos recursos.

A Terra, nosso lar, está começando a parecer mais e mais como uma imensa pilha de sujeira. Em muitas partes do planeta, o lamento de idosos é que, algumas belas paisagens de outrora estão agora cobertas de lixo”, disse o Papa. Num outro trecho, Sua Santidade observa que “Nunca magoamos e maltratamos tanto o nosso lar comum, como nos últimos 200 anos.” No tocante à Sustentabilidade, Francisco foi também enfático: “A ideia de crescimento infinito ou ilimitado, que parece tão atraente para os economistas, financistas e especialistas em tecnologia … é baseada na mentira de que há um suprimento infinito de recursos na Terra, e isso leva à deterioração do planeta, que está sendo sugado e ressecado além de todos os limites.

Em vista da quantidade de incorreções, parece evidente que o Papa está sendo, no mínimo, muito mal assessorado, até porque maldizer o progresso e, principalmente, a utilização dos combustíveis fósseis é o mesmo que legar aos mais necessitados, objetos principais das preocupações papais, a pobreza eterna.

Ao contrário do que diz Francisco, depois da Revolução Industrial a humanidade progrediu de maneira excepcional, aprendeu a explorar os recursos naturais de forma muito mais eficiente, a produzir alimentos e distribuí-los como nunca antes na História. De acordo com dados recentes da FAO, o percentual de subnutridos nos países em desenvolvimento, em relação ao total da população, vem apresentando uma firme tendência declinante, tendo baixado de 33% em 1970 para 16% em 2004.  Tudo isso graças à crescente mecanização do campo e à utilização cada vez maior de fertilizantes químicos modernos, bem como a disseminação das sementes geneticamente modificadas.

Em relação aos recursos naturais não renováveis, diferentemente do que sustentam os próceres da sustentabilidade, mesmo com todo o progresso econômico havido nos últimos duzentos anos – e graças ao extraordinário avanço tecnológico -, as reservas provadas de petróleo, minério de ferro, carvão e muitos outros recursos só fizeram aumentar. Ou seja, não há nenhuma razão para acreditar que estamos “sugando e ressecando” os recursos do planeta “além dos limites”.

Sobre os “malditos” combustíveis fósseis, como bem colocou Roger Pielke, em artigo para o “Financial Times”, “Se quisermos reduzir as emissões sem condenar vastas áreas da humanidade à pobreza eterna, teremos de desenvolver tecnologias de energia de baixo custo e baixo teor de carbono que sejam apropriadas tanto aos EUA quanto à Bulgária, Nigéria ou Paquistão. Mas isto implicará sacrifício; exigirá investimentos de recursos significativos ao longo de muitas décadas. Até que estas tecnologias sejam trazidas à fruição, devemos trabalhar com o que temos. No mundo rico escolhemos crescimento econômico. É cruelmente hipócrita que nós tentemos impedir que os países pobres cresçam também. Se formos realmente forçados a nos adaptar a um planeta com clima menos hospitaleiro, os pobres, no mínimo, devem enfrentar o desafio com as mesmas vantagens de que hoje dispõem os ricos.

Ora, se os seres humanos consomem hidrocarbonetos, é porque eles nos garantem níveis de prosperidade, conforto e mobilidade como nenhum outro combustível.  A energia deles obtida melhora nossa saúde, reduz a pobreza, permite uma vida mais longa, segura e melhor.  Ademais, o petróleo não no fornece somente energia, mas também plásticos, fibras sintéticas, asfalto, lubrificantes, tintas e uma infinidade de outros produtos.

O petróleo talvez seja a mais flexível substância jamais descoberta,” escreveu Robert Bryce em “Power Hungry”, um livro iconoclástico sobre energia. “O petróleo”, diz ele, “mais do que qualquer outra substância, ajudou a encurtar distâncias.  Graças à sua alta densidade energética, ele é o combustível quase perfeito para a utilização em todos os tipos de veículos, de barcos a aviões, de carros a motocicletas.  Não importa se medido por peso ou volume, o petróleo refinado produz mais energia do que praticamente qualquer outra substância comumente disponível na natureza.  Essa energia é, além de tudo, fácil de manusear, relativamente barata e limpa”.  Caso o petróleo não existisse, brinca Bryce, “teríamos que inventá-lo”.

Algum dia, no futuro, certamente haverá fontes de energia tão ou mais abundantes, eficientes, limpas e economicamente viáveis que os hidrocarbonetos. Em termos de rendimento econômico e ambiental, essas novas fontes  deverão produzir o máximo de energia, em escala sustentável e, principalmente, no menor espaço possível, já que uma das maiores carências da humanidade é a terra utilizável.  Quanto mais terras nós ocupamos para produzir energia, menos espaço teremos para as florestas, a agricultura e a pecuária.  Mas esta revolução energética parece ainda distante.  O fato é que as ditas “energias verdes”, meninas dos olhos de ambientalistas – solar, eólica e biocombustíveis -, além de estarem bem longe de uma escala sustentável, precisam de grandes espaços para que sejam minimamente viáveis.

O Papa fala de “belas paisagens”, evocando provavelmente um suposto “Jardim do Éden” que, no entanto, lamento dizer, jamais existiu fora dos Livros Sagrados. O que teria sido esse paraíso maravilhoso do passado mítico?  Um tempo em que quatro crianças em cinco morriam antes dos cinco anos?  Quando uma mulher em seis morria no parto?  Quando a esperança média de vida era de 30 anos?  Ou quando pragas varriam o planeta e ondas de fome dizimavam milhões de uma só vez?

Como nos lembra Alex Epstein, o ambiente natural não é, nem nunca foi, um local seguro e saudável; não é outro o motivo por que os seres humanos historicamente tinham uma expectativa de vida tão baixa. Ao contrário do que dizem por aí os naturalistas, a “Mãe Natureza” nos ameaça permanentemente com microrganismos ansiosos para nos matar, além de forças naturais que podem facilmente nos esmagar.  Se não modificássemos o meio ambiente em nossa volta, se não procurássemos extrair dele os recursos necessários à nossa defesa e bem estar, provavelmente ainda estaríamos vivendo a Idade da Pedra – comparem, por exemplo, as taxas de mortalidade do temível vírus ebola na África Negra e em países desenvolvidos, como Alemanha e Estados Unidos.

Foi somente graças à nossa intervenção não natural e, principalmente, ao uso de energia barata, abundante e confiável (leia-se: hidrocarbonetos) que hoje vivemos em um ambiente onde a água que bebemos e os alimentos que comemos não vão nos fazer mal, e onde podemos lidar com um clima frequentemente hostil sem grandes conseqüências à nossa segurança.  Energia e recursos são essenciais para construir casas resistentes, purificar a água, produzir grandes quantidades de alimentos frescos, gerar calor e refrigeração, construir hospitais e fabricar produtos farmacêuticos, entre muitas outras coisas.

Ao contrário do que diz o Papa e malgrado toda propaganda ambientalóide, é justamente nos países mais ricos e desenvolvidos da Europa e da América do Norte que – apesar da utilização abundante de petróleo e derivados, além de um “consumismo” considerado exacerbado pelos arautos do catastrofismo ecológico – o meio ambiente é hoje menos poluído, graças principalmente ao desenvolvimento tecnológico.  Quem passeia pela Europa Ocidental ou pela América do Norte, não vê esse meio ambiente degradado mencionado pelo Papa, muito pelo contrário.  Já nos países mais pobres, com pouco acesso aos combustíveis fósseis e às novas tecnologias, e onde os mercados são quase inexistentes, a situação é muito diferente…

Com todo respeito que Sua Santidade merece, maldizer o progresso econômico e tecnológico alcançado pelo ser humano nos últimos duzentos anos chega a ser uma heresia.  Nossa expectativa de vida hoje é 2,5 vezes superior ao que era antes do advento da Revolução Industrial.  Não seria exagero dizer que, atualmente, há uma certa abundância de alimentos, remédios e inúmeras outras facilidades derivadas, principalmente, do desenvolvimento tecnológico acelerado havido nos últimos dois séculos.  Há 200 anos, nem mesmo o mais visionário dos ficcionistas poderia conceber que tantos homens estariam convivendo no mundo, em relativa harmonia e muito mais conforto do que era possível imaginar naquele tempo.

Apesar dessas evidências, os ambientalistas ainda insistem em maldizer o progresso humano.  Essa gente vê, por exemplo, na agricultura intensiva e mecanizada – atividade sem a qual, muito provavelmente, seria praticamente impossível alimentar um contingente tão numeroso – apenas uma ameaça ao meio ambiente.  Na sua visão doentia e deturpada da realidade, os automóveis estão destruindo a atmosfera e as indústrias, e irão transformar o planeta num enorme e estéril deserto.  Os idólatras do atraso enxergam cada nova descoberta tecnológica como uma ameaça macabra.

Não se conhece, por exemplo, qualquer forma de energia economicamente viável que os ecologistas aprovem.  Eles se opõem ao petróleo, ao gás, ao carvão, às hidroelétricas e à energia nuclear.  Concordam apenas com as matrizes eólica e solar, que juntas seriam capazes de produzir uma quantidade ínfima do que se consome atualmente no mundo.  Certamente, acreditam que a vida na Idade Média era melhor do que é hoje…

Que o Papa não se iluda: o principal objetivo dos ambientalistas a quem ele tem escutado é muito menos limpar o ar ou as águas do que demolir a civilização industrial.  Eles não visam à melhoria das condições de saúde da humanidade, mas à implantação de um modelo onde a natureza deve ser adorada como uma entidade sagrada, intocável, a exemplo de alguns totens idolatrados por povos primitivos.

A “Mãe Natureza”, segundo os fundamentalistas do meio ambiente, tem um valor “intrínseco” e deve ser venerada acima de qualquer coisa, inclusive do bem estar humano.  Como conseqüência desse dogmatismo, o homem deve abster-se de utilizar a natureza visando ao benefício ou ao conforto próprio.  Como estamos diante de uma entidade supostamente divina, qualquer ação humana que provoque mudanças no ambiente original seria, necessariamente, imoral.

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

2 comentários em “O Papa Verde

  • Avatar
    24/06/2015 em 11:11 am
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    Para entender o atraso que geram os países capitalistas basta ver quem matou o carro elétrico (pela primeira vez) ou como o espanhol Benito Muros foi ameaçado pelo lobby das empresas de produção de lâmpadas quando criou a lâmpada que nunca queimava. Se surge uma alternativa ao petróleo, logo as petrolíferas caem em cima para não perder o osso. Exemplos semelhantes existem ao longo da história de criações que trariam progresso não dariam lucro e foram extirpadas antes do lançamento, e mesmo as geladeiras de CFCs extintas pois os mesmos se tornaram domínio público. O motor da sociedade é o Estado.

  • Avatar
    23/06/2015 em 2:47 pm
    Permalink

    Como católico, quero crer que Francisco mal botou os olhos nessa Encíclica. Mesmo assim, caso seja o caso, mostra que o Vaticano está bem mais corrompido do que eu pensava.

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