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O caminho da servidão, de Friedrich Hayek, parte I

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hayekEm artigo anterior, intitulado “Comunismo é tirania”, abordamos as semelhanças entre o regime comunistas e os regimes nazifascistas. Não se trata de nenhuma originalidade. Muitos já explicitaram esse ponto de vista. Da Escola Austríaca, destacam-se Ludwig von Mises e Friedrich Hayek. Por ora, apresentaremos algumas considerações de Hayek, ganhador de premio Nobel em Economia, que podem ser apreciadas na sua obra “O caminho da servidão”.

Na obra em questão, não se combate apenas o socialismo radical, mas alerta-se também para o perigo do chamado Estado previdenciário que o substitui. A questão fundamental é mostrar que determinadas reformas baseadas no controle econômico tendem a paralisar as forças propulsoras da sociedade, tornando-se incompatíveis com uma sociedade livre.

O excesso de planejamento econômico representaria um perigo de totalitarismo, sendo um tipo de lógica que conduziria, mesmo que involuntariamente, a um tipo de coerção que muitos dos que o defendem não estariam dispostos a aceitar. Segundo Hayek, “a ascensão do nazismo e do fascismo não foi uma reação contra as tendências socialistas do período precedente, mas o resultado necessário dessas mesmas tendências”. Compreender essas tendências é compreender o inimigo que ainda está entre nós, pois tais tendências não se limitaram aos países que sucumbiram ao totalitarismo.

O economista chama atenção para o fato de que “durante pelo menos 25 anos antes de o espectro do totalitarismo se tornar uma ameaça real, fomos nos afastando progressivamente das ideias básicas sobre as quais se erguera a civilização ocidental”.  A tendência, portanto, a que o autor se refere é a tendência de rompimento com a evolução da civilização ocidental, cujos fundamentos foram lançados pelos gregos, pelos romanos e pelo cristianismo, fundamentos esses cuja recusa será característica do socialismo.

O nazismo ou o nacional-socialismo (Nazi é abreviatura de Nationalsozialistische Deutsche Arbeiters Partei— Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães) seria, pois, uma “contra-renascença”, o clímax da destruição de uma civilização que já vinha sendo posta em xeque pela tendência ao socialismo: “renunciamos progressivamente não só ao liberalismo dos séculos XVIII e XIX, mas ao individualismo essencial que herdamos de Erasmo e Montaigne, de Cícero e Tácito, de Péricles e Tucídides”.

De fato, o socialismo se constituiu sob a ideia de ruptura, sob a crença de que apenas mediante “uma completa reestruturação da sociedade haverá mais progresso”. Na tentativa de descartar para substituir, perde-se a dimensão do que já foi conquistado, fazendo-se pouco caso de tudo o que o sistema liberal tornou possível.

A mudança gradual no caráter de um povo, a lenta transformação psicológica provocada pelo amplo controle governamental exercido por um Estado previdenciário e paternalista manifestou-se como abandono da possibilidade de gerenciamento da própria vida, como abandono da possibilidade de escolha entre diversas formas de existência, como complacência com a coerção, como “completo abandono da tradição individualista que criou a civilização ocidental”.

Esse retrocesso foi marcado também espacialmente pela inversão no fluxo de ideias. No auge do liberalismo, por volta de 1870, a Inglaterra era o centro irradiador do pensamento. Já no fim do século XIX e início do século XX a Alemanha, que era liderança na teoria e na prática do socialismo, passou a difundir mundialmente com a sua influência as ideias que visavam a abalar os alicerces da civilização ocidental, civilização a qual pertencia mas que depreciava em nome de um ideal aristocrático de cultura originária:

 “Os próprios alemães – ou pelo menos os divulgadores de tais ideias – tinha inteira consciência do conflito: a herança comum da civilização europeia tornara-se para eles, muito antes do nazismo, a civilização ocidental – e a palavra ‘ocidental’ não tinha mais a acepção comum de Ocidente, mas passara a significar o mundo a oeste do Reno. ‘Ocidental’ nesse sentido, era sinônimo de liberalismo e democracia, capitalismo e individualismo, livre comércio e toda forma de internacionalismo ou amor à paz”

Abro aqui um parêntese na exposição das teses de Friedrich Hayek para estabelecer algumas analogias que nos auxiliarão na interpretação dos nossos dias. Hoje, felizmente, a Alemanha encontra-se do lado das democracias liberais, das sociedades abertas (em 1959, no congresso de Bad Godesberg, o Partido Social Democrata alemão renegou as ideias revolucionárias de viés marxista). Já a América Latina parece ter parado no tempo, negando-se a aprender as lições da História, dando mostras de um recrudescimento ideológico no qual fermentam as velhas tendências totalitárias.

Se, por um lado, ideologias como as que vigoram hoje em Cuba, Venezuela, Equador, Bolívia, Argentina e Brasil põem em xeque os valores fundamentais de uma sociedade aberta, por outro lado, a ameaça terrorista de fundamentalistas islâmicos põe em xeque a própria civilização. Que sirva de ponto para a reflexão o fato de que tanto a esquerda autoritária e retrógrada que se articula na América Latina quanto os cruéis fundamentalistas islâmicos compartilham com o nazismo um inimigo comum: o liberalismo e toda a fundamentação filosófica, religiosa e política que o tornou possível e que constitui a herança máxima da nossa civilização.

Há entre nós, como houve também no tempo sobre o qual Hayek dissertou, aqueles que bravateiam contra os valores da nossa civilização, acusando-os de vazios e abstratos. Há entre nós, além disso, uma deputada federal do PCdoB que chama os liberais de fascistas e compara militares brasileiros com nazistas sem olhar para o ranço totalitário de suas próprias convicções. Daí a necessidade de continuar expondo a relação de irmandade entre comunismo e nazifascismo, embora ela não seja nenhuma novidade.

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Catarina Rochamonte

Catarina Rochamonte

Catarina Rochamonte é Doutora em Filosofia, vice-presidente do Instituto Liberal do Nordeste e autora do livro "Um olhar liberal conservador sobre os dias atuais".

Um comentário em “O caminho da servidão, de Friedrich Hayek, parte I

  • Avatar
    10/02/2015 em 2:34 pm
    Permalink

    Em certa época quando o feudalismo como pretenso governo da aristocracia “humanista” foi paulatinamente permeado pelas ideias de Liberdade criou-se um “BODE” para se por na sala e recuperar o prestigio da aristocracia religiosa que sustentava o feudalismo.
    Assim, o “BODE” foi o “comunismo” de Marx que aparentemente se opunha à religião e sobretudo à igreja. O objetivo era através da ameaça “anti religiosa” aliciar apoio para a igreja e sobretudo para a IDEOLOGIA que justificava a organização para o exercicio e usofruto do PODER.

    Agora, novamente se percebe uma queda no prestigio da ideologia e da organização que ela justifica e propagandeia.

    Como as FARSAS se REPETEM COMO HISTÓRIA o NOVO “BODE” que alimenta-se é o ISLAMISMO com seus terroristas em luta por DOMINAÇÃO. Algo não muito diferente do “bode” marxista e seu Socialismo “científico” (afinal, na época das luzes a ciência estava adquirindo grande prestigio). Assim um “bode científico” e medonho acabava por empurrar as massas e mesmo os mais pensantes para tras do “escudo ideológico” supostamente oposto. Ocorre que acostumados ao fedor do bode as massas deixaram de percebe-lo e como em nada era diferente acabou sendo adotado como irmão e parceiro a fortalecer a ideologia a qual supostamente se opunha. Afinal, ambos tinham o mesmo apelo moral e finalidade: o Poder estatal absoluto.

    É!!! …AS FARSAS SE REPETEM COMO HISTÓRIA!!!

    Na atual conjuntura onde os Estados terão dificuldades para sustentarem com sua ideologia justificadora de seu totalitarismo arbitrário, sobretudo por ja terem consumido praticamente toda a poupança em consumo de sua hierarquia, com possibilidade de se descobrir que riqueza em créditos contra Estados não é riqueza de fato (um agiota que só recebe se persistir emprestando é um idiota e sua riqueza em créditos inexiste como realidade), periga uma efetiva rebelião com o apoio dos agregados ao poder estatal vendo sua riqueza esfarela-se.

    O estoque que foi consumido pelos Estados não podem ser repostos porque o estado não produz e menos ainda sua hierarquia esta disposta a abdicar de seu consumo sobre as riquezas produzidas pela sociedade.

    Resta então uma nova dicotomia de amplo espectro, um novo maniqueismo com base em antagonismo polar de grande influência para salvar ideologias:

    os maniácos islâmicos x o “ocidente cristão”

    Pronto, o foco sobre a ideologia estatal esta sendo desviado para um novo conflito bipolar (a medida para entendimento das massas, essencialmente binárias).
    O resultado, mais algumas decadas ou seculos de Estado totalitário em maior ou menor grau como “magnânimas entidades gestoras indispensáveis da humanidade”, assim persistindo explorando ou mesmo escravizando as populações em beneficio dos membros da alta hierarquia estatal e seus agregados. Nada diferente daquilo que vigorou no Feudalismo ou no Mercantilismo e em estado da arte nos socialismos que o mundo esperimentou.

    O negócio de quem vive do Poder é elaborar meios de dominação para mantê-lo, da mesma forma aprimoram-se no trabalho para manterem-se no mercado aqueles que do trabalho vivem.

    Há de fato uma disputa entre PODER e TRABALHO.

    “plus ça change, plus c’est la même chose” …e as farsas se repetem como história!

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